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Acyr Calçado e Murilo Gimenez, do Clube de Xadrez, tentam manter a tradição entre jovens | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Acyr Calçado e Murilo Gimenez, do Clube de Xadrez, tentam manter a tradição entre jovens| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

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Conheça outros locais onde grupos se reúnem para praticar atividades esportivas ou recreativas

• Alto Boqueirão: o grupo se reúne para o Jogo da Malha. Em uma pista de areia, os jogadores, de um lado, se dividem em grupos e tentam derrubar um pino, que está do outro lado da pista, lançando discos. Qualquer pessoa pode integrar o grupo de amigos, que hoje tem 20 pessoas.

• Jardim Botânico: o parque conta com três quadras de tênis. Duplas e quartetos se reúnem diariamente no local, que também tem o velódromo para ciclistas. Qualquer pessoa com raquete e bolinhas pode participar dos jogos. O dia mais movimentado, segundo os tenistas, é o sábado.

• Praça da Ucrânia: em época de Eurocopa, a praça fica cheia de interessados em trocar figurinhas do álbum do campeonato. Basta chegar ao local no sábado ou domingo com as figuras repetidas e trocar com outras pessoas para completar a coleção.

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Você conhece outras iniciativas desenvolvidas pela comunidade para ocupação dos espaços públicos urbanos?

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Há quem acredite que as novas manifestações culturais de Curitiba, como o réveillon e o carnaval fora de época, retratam um curitibano diferente do estereótipo de pessoa séria e alheia à interação. Um comportamento que surpreende ainda mais numa época em que a violência das ruas e o uso de tecnologias como a internet têm feito os cidadãos se fecharem cada vez mais dentro de suas residências. A ocupação de espaços públicos da capital, contudo, está longe de ser uma novidade. Há décadas existem grupos que usam esses locais para a prática de esportes e, mais do que isso, fazem deles um instrumento para convivência e cultivo de amizades.

Um desses exemplos está no bairro Alto da XV, na famosa quadra de bocha construída na década de 1970 pela prefeitura. A cancha é pequena para tantas pessoas (são 60 membros), mas ninguém fica sem diversão. Enquanto alguns jogam bocha, outros jogam cartas, além daqueles que só batem papo.

A interação e a amizade dos membros da Associação de Bocha do Alto da XV, criada em 1978, ajudam a preservar o que, para eles, é um patrimônio. "O lugar antes era um banhado. Hoje nós é que fazemos toda a manutenção", diz o sócio Carlos Alberto Carbente, que foi presidente da associação por oito anos. Algumas situações, entretanto, atrapalham a diversão. Vândalos já invadiram o local, que teve que de ser fechado com grades para evitar novos transtornos.

Os sócios têm um método de seleção de novos membros, que são indicados pelos atuais integrantes. "Tem que ter boa índole", diz Carbente. O custo para os associados é de R$ 5 por mês, valor usado para manter a associação.

Virou tradição

Os sócios do Clube de Xadrez de Curitiba (CXC) tentam manter a tradição que começou, para muitos deles, na Biblioteca Pública do Paraná (BPP). Os tradicionais jogos de xadrez do espaço deram origem a um time que hoje faz parte desse clube. O presidente do CXC, Acyr Calçado, e o vice-presidente, Murilo Gimenez, frequentaram até os 15 anos a BPP. Para aperfeiçoar as técnicas, passaram a jogar em clubes.

Com reuniões, eventos e campeonatos, os enxadristas de longa data tentam chamar atenção de um público que, aos poucos, deixou de participar dos jogos. Segundo Calçado, a época de ouro do xadrez em Curitiba foi entre os anos 1970 e 1980, quando a BPP, bibliotecas regionais e clubes eram repletos de praticantes. "Hoje não há mais a organização de antes por causa da internet, que fez os jovens jogarem pelo computador."

Outro fator de esvaziamento é a violência que, segundo Gimenez, levou as pessoas a se isolarem mais em casa. Apesar disso, o clube tenta transmitir a tradição a novos jogadores com a criação de eventos temáticos, que não envolvem apenas o xadrez. "Esses espaços [bibliotecas e clubes] são importantes para formar as pessoas. Tentamos aqui trazer algo a mais para atrair novos jogadores." Os sócios do CXC pagam R$ 30 por mês para manter a entidade.

Segundo Gimenez, a falta de incentivo da prefeitura em ações nas bibliotecas da Fundação Cultural de Curitiba, que mantinha equipes de instrutores, também contribuiu para o desinteresse. Crianças e jovens eram treinados nesses locais e passavam a integrar o Clube Erbo Stenzel, mantido pela FCC. A iniciativa, contudo, terminou na década de 1990. O atual coordenador do clube, Wilson Silva, explica que o clube mantém um programa nas regionais da prefeitura para formar novos enxadristas. Na sede do Erbo Stenzel, na Galeria Júlio Moreira, jovens de 14 a 18 anos também recebem treinamento.

Consciência faz tradição se preservar

O fenômeno de ocupação de espaços públicos ocorre por causa de dois aspectos, segundo o professor de Sociologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Lindomar Boneti. Em primeiro lugar está o modelo urbano da cidade, da construção de espaços, que favorece a ocupação e influencia para que a tradição sobreviva.

Em segundo lugar, ele aponta a consciência dos moradores na preservação física (da estrutura) e social (da existência desses grupos). "Mas as características são temporais e têm a ver com o contexto histórico. Alguns grupos se preservam por 50 anos, mas isso tem um limite de tempo. Depende da cultura da época, das influências."

O crescimento da internet, por exemplo, favoreceu a criação de um grupo de ciclistas na cidade, o Curitiba Bike Riders, que nasceu como um subgrupo da comunidade CouchSurfing (que reúne pessoas de todo o mundo dispostas a viajar e que buscam ajuda em outros países para estadia). Os ciclistas se reúnem uma vez por mês para pedalar na cidade.

Um dos mais novos membros é o programador Ramiro Batista da Luz. No início de 2012 ele entrou para o grupo e já participou de todas as pedaladas na cidade até então. Ele explica que os ciclistas combinam via internet o trajeto de cada mês. "Geralmente nos encontramos no Passeio Público e vamos até os locais que queremos pedalar, seja em Curitiba ou outras cidades."

Para fazer parte do grupo não há restrições. Basta se inscrever no site www.couchsurfing.org e no grupo Curitiba Bike Riders pelo endereço www.couchsurfing.org/group.html?gid=21700. "O melhor é essa filosofia de sempre se ajudar, trocar experiências, receber bem as pessoas", acrescenta.

*o Clube de Xadrez de Curitiba, além da reunião semanal, também está aberto de segunda a sexta, das 15 horas às 21 horas, e sábado, das 14 horas às 20 horas.

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