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| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Há mais de duas décadas, o economista José Augusto Soavinski, de 65 anos, se dedica a “lutar contra as drogas”. Firme e articulado, viaja pelo Paraná, ministrando palestras preventivas e trocando informações sobre tratamento de dependentes. A experiência, no entanto, não foi capaz de impedir que a cocaína e o crack atingissem sua própria família. Viu o filho mais velho ser tragado pelos entorpecentes. Não se deixou abater e intensificou o ativismo.

“Eu me abracei nessa causa para o resto da minha vida. É a minha missão”, resumiu Soavinski.

Assista: um pai contra o crack

As drogas entraram na casa da família silenciosamente, em 1990. À época, Soavinski já era palestrante, mas não percebeu que o filho – então com 14 anos – havia sido apresentado à cocaína por um amigo. Foram oito anos de “agonia”, até que o jovem deixasse de usar a substância em 1998, após passar nove meses em uma comunidade terapêutica.

“Quando eu saí para procurar ajuda, vi que ainda estamos engatinhando na ajuda ao dependente químico. Isso me motivou a fazer mais”, disse Soavinski.

Exemplo

José Augusto Soavinski decidiu tornar público seu drama familiar após ler a reportagem especial “As tocas do crack”, publicada pela Gazeta do Povo. Viu no depoimento dos usuários entrevistados pela reportagem o sofrimento do filho. Percebeu que sua história poderia servir de exemplo a outras famílias que enfrentam problemas com a dependência química. Desde então, não se nega a ajudar quem luta contra o vício. Ele se encontra disponível pelo (41)9974-2007 e pelo e-mail soavinski@brturbo.com.br.

A partir de então, o ativista entrou para a Pastoral da Sobriedade, vinculada à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual hoje é coordenador regional. Estudou o tema com afinco e se tornou um especialista. Multiplicou o número de palestras, muitas vezes tirando dinheiro do bolso para viajar e compartilhar suas experiências. “Eu me virava como dava. Ficava na casa do padre da cidade, do pastor. O importante era ir”, contou. “Hoje, vivemos uma pandemia de crack. A pedra violenta não só o usuário, mas toda a família”, afirmou.

“Pedra”

O filho de Soavinski “ficou limpo” por dez anos, até conhecer o crack. O ativista soube da recaída ao perceber uma mudança de comportamento do familiar. O rapaz se tornou “um estranho dentro de casa”. Nas mãos, queimaduras indicavam o consumo das pedras. Soavinski diz ter conhecido ali, na dependência do filho, uma face do inferno.

“Eu vi o que acontece com o usuário de crack e o terror que se instala em casa. Você perde as esperanças, vai achando que não tem mais jeito, que é o fim do caminho”, apontou.

Soavinski viu seu filho – já com 40 anos – definhar aos poucos. Com o tempo, passou a trocar os próprios pertences, como celulares, roupas, tênis e relógio, por pedras de crack. O usuário chegou a deixar o carro com traficantes, como garantia de que voltaria para pagar R$ 150 que havia consumido em pedras. O dependente também foi capaz usar o entorpecente na frente dos filhos.

“A filhinha de três anos dele falou assim: ‘Papai, você tem que se tratar, senão você vai morrer’. E ele ali, indiferente. O crack faz isso, faz a pessoa desprezar quem mais ama”, contou Soavinski.

Esperança

A esperança de recuperação nasceu após um episódio traumático. O dependente trocou uma bicicleta – que havia dado de presente de Natal à mãe – por um punhado de pedras de crack. Soavinski levou o filho à polícia, decidido a denunciá-lo. Mas na porta da delegacia, o usuário pediu uma última chance. Ele foi internado em uma clínica, onde permanece há um mês. Para a família, é o início do recomeço.

“Depois de 15 dias, fomos visita-lo. Ele abraçava os filhos, dizendo ‘eu te amo’”, contou. “Eu vejo muitas frases derrotistas de pais, dizendo ‘perdi meu filho para as drogas’. Tem que ser o contrário. Tem que ser: ‘eu não vou perder meu filho para as drogas, de forma nenhuma’”, destacou.

Um pai contra o crack

Ativista antidrogas, José Augusto Soavinski enfrenta o crack dentro da própria casa, depois que o filho se tornou um usuário. A partir de sua luta pessoal, ele se dedica a ajudar outras famílias afetadas pelas drogas. Em depoimento inédito, ele relata sua luta.

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