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Fernandes Pinheiro, Jundiaí do Sul e Itaipulândia – O programa Paraná Alfabetizado atinge 340 municípios em todo o estado. Mas em 27 deles uma verdadeira maratona se instalou para cumprir a meta de, até o início de dezembro, zerar as taxas de analfabetismo. A Gazeta do Povo conversou com professores e alunos de quatro municípios, atrás de impressões sobre uma experiência que deve alterar o mapa educacional do estado.

Contra evasão

Joaquina Taborda tem 68 anos e uma ambição - participar mais ativamente de sua igreja, o que implica em ler e escrever. Mas desde menina a vida lhe empurrou para a lavoura, sobrando pouco tempo para as letras. A oportunidade surgiu somente agora. Depois de criar sete filhos, ver nascer 12 netos e uma bisneta, Joaquina se tornou um dos 481 alunos que participam do Programa Paraná Alfabetizado em Fernandes Pinheiro, cidade da região de Irati, com 6,4 mil habitantes.

Lá, 66% da população vive na área rural, o que, na opinião do prefeito Nei René Schuck, explica a alta taxa de analfabetismo da cidade, na casa dos 13%, o dobro da média estadual. O Paraná Alfabetizado, com motivos de sobra para candidatar o município a "território livre do analfabetismo", treinou 45 educadores populares para o programa. As aulas acontecem em colégios ou em salões paroquiais, mas também podem ser individuais para os que assim preferirem.

Zerar o analfabetismo não é uma conversa de hoje na região. Duas tentativas anteriores fracassaram. O problema é a desistência, falta de estrutura e de material. Na quarta-feira, a coordenadora do programa em Fernandes Pinheiro, Maria Isabel Veigantes, percorreu cerca de 20 quilômetros até o distrito do Andaí só para convencer Olivina Ferreira, de 34 anos, a continuar indo às aulas. "Se não aprendi até agora, não vou aprender mais", justificou a aluna. Maria Isabel ouviu a lamúria e a convenceu do contrário. Maria da Luz Paixão, 55 anos, partilha a agonia de Isabel. "É difícil aprender. A professora explica uma, duas, três vezes e daqui a pouco já esqueci de volta", diz.

À sombra dos royalties

Itaipulândia e Diamante do Oeste são conhecidas por integrarem o cinturão de riqueza da Costa Oeste em razão dos royalties recebidos da Hidrelétrica de Itaipu. No mês de junho, a primeira recebeu US$ 644,3 mil e a segunda, US$ 20,1 mil. Para serem ilhas de excelência, falta, porém, superar os índices de analfabetismo. Em Itaipulândia, beiram 9,7% e em Diamante superam 20%. Ambas são candidatas a território livre, ainda em 2006.

José Griebeler, coordenador do programa Paraná Alfabetizado em Itaipulândia, lembra que a fama de "terra dourada", trazida pelos royalties, atraiu uma legião moradores para a cidade, boa parte sem instrução. Para incentivar os moradores a freqüentarem a escola, a professora Ivone Müller saiu a campo e bateu de porta em porta, conseguindo a adesão de donas de casa, agricultores e moradores do asilo. Atualmente, Diamante do Oeste tem 20 turmas e 350 alunos; Itaipulândia tem 13 turmas e 250 alunos.

A vida dedicada à agricultura impediu Alzira Scheice, 67 anos, e Nestor Gomes, 64, de aprenderem a ler e escrever. O casal vive no Lar dos Idosos de Itaipulândia. Ele mora na região há 38 anos e, quando criança, morava em um lugar onde não havia escolas. Ela é gaúcha de Três Passos. "Resolvi estudar porque a gente vai ao mercado e não sabe ler os rótulos e quando viaja não sabe identificar o nome dos ônibus", diz Alzira, que agora tem planos para o futuro - fazer um curso de corte e costura.

Prêmio

A Secretaria de Educação de Jundiaí do Sul, no Norte Pioneiro, encontrou uma saída criativa para iniciar o processo de erradicação do analfabetismo: instituiu um prêmio de até R$ 1 mil em dinheiro, dado pela prefeitura, a quem volta para os bancos escolares e ali permanece. É lei aprovada, nos conformes. Com essa medida, quer-se evitar a evasão. Jundiaí do Sul figura entre as os municípios com menor índice de analfabetos na área do Núcleo Regional de Educação de Jacarezinho. Quando o Paraná Alfabetizado foi implantado, há dois anos, a cidade tinha 563 analfabetos (cerca de 20% da população). O número hoje está reduzido pela metade.

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