Depoimentos de testemunhas ao Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) confirmam que o fotógrafo e ex-assessor do governo do Paraná, Marcelo "Tchello" Caramori, e o auditor da Receita Estadual, Luís Antônio de Souza, ambos presos, usavam o mesmo esquema de prostituição de adolescentes em Londrina.
Segundo as investigações, ao menos duas agenciadoras marcavam encontros com meninas de 14 a 18 anos para os dois. No caso de Caramori, o pedido de prisão preventiva autorizado pela Justiça da 6ª Vara Criminal foi embasado em quatro depoimentos de garotas que confirmaram terem sido contratadas pelo fotógrafo e recebido entre R$ 300 e R$ 350 pelos programas, assegura a Promotoria.
Caramori está em uma cela isolada na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 2).
Parte das investigações sobre o auditor e o fotógrafo estão dentro de um mesmo inquérito: pelo menos uma das menores citou ter participado de programas sexuais com os dois o que foi confirmado, posteriormente, em outros depoimentos.
No mesmo dia da prisão de Caramori, o auditor, que já estava detido na PEL 2, também foi alvo de mais uma prisão preventiva por causa dos novos depoimentos já é a terceira.
"As vítimas são as mesmas", assegurou a promotora Caroline Esteves, que apura ambos os casos tramitando na 6ª Vara Criminal. "No entanto, não há nada que mostre relação direta entre ambos, a não ser o fato de que contatavam as mesmas agenciadoras", explica.
Algumas das garotas confirmaram terem participado de programas sexuais pela primeira vez. As vítimas indicaram como local dos encontros entre elas e "Tchello" a casa do fotógrafo - onde a polícia apreendeu equipamentos de informática - e também um estúdio fotográfico. Até o momento, os encontros mapeados pelo Gaeco parecem ter ocorrido entre o meio do ano passado e o começo de 2015.
Nas apurações sobre o auditor e o fotógrafo, mais de 20 depoimentos já foram colhidos. "As mães tem comparecido com as filhas para estimulá-las e encorajá-las a contar toda a verdade", afirmou a promotora. Informalmente, os pais afirmam que não desconfiavam das filhas. A maioria passa o dia quase todo fora de casa, a trabalho, e desconhece a rotina e o envolvimento dos filhos.
Caramori ainda não foi ouvido, o que só deve ocorrer ao final do inquérito.
"O suspeito sempre deixava claro para as vítimas que tinha muitos contatos e era popular, além de exibir proximidade com a polícia. Apesar da imagem pública, ele se valia mesmo era da oferta de dinheiro para as garotas", atesta a promotora. "Não parece ter usado o cargo público que ocupava para fazer os programas", ressalva.
"Agora, o intuito da investigação é saber se mais gente usava esses mesmos esquemas de agenciamento de menores de idade", diz Caroline Esteves.
Risco de eliminação de provas pesou na prisão
Caramori ainda não foi ouvido, o que só deve ocorrer ao final do inquérito. O advogado do fotógrafo, Leonardo Vianna atacou a Promotoria e disse que vai "provar" que seu cliente é vítima de vingança do Ministério Público. "Ele [ Marcelo Caramori] nunca teve negócios com prostituição, nunca manteve atividade econômica ligada a exploração sexual e nunca explorou garotas menores ou maiores de idade. Foi envolvido neste caso apenas porque algumas moças que saíram com o auditor comentaram que também saíram ou conheceram o Tchello. Mas ele nunca saiu com menores de idade e jamais aliciou ninguém com fins sexuais", sustentou.
Para Vianna, o Gaeco "inverteu as regras do Direito Penal": "A regra é investigar e prender e não prender para investigar. Foi uma prisão precipitada e sem justificativa", defendeu. Até a próxima quarta-feira, Vianna espera ter ingressado com duas medidas judicias para que o fotógrafo responda à investigação em liberdade.
Durante a visita à Caramori na PEL 2, Vianna afirmou que o cliente estava tranquilo e sentindo-se confiante: "Ele está bem tranquilo e seguro de que nunca cometeu nenhum crime. Vamos provar que as acusações absurdas da Promotoria são invenções absurdas. O caso repercutiu porque envolve três temas que chamam a atenção: sexo, dinheiro e política", definiu o advogado.
"Não vou deixar fazer com o Tchello o que fizeram com o Marcos Colli. Jamais", resumiu, lembrando o rumoroso caso do advogado londrinense, preso há dois anos, em Piraquara, por pedofilia.
O risco de eliminar provas foi um dos argumentos da Promotoria, acatados pela Justiça, para obter a prisão preventiva do ex-assessor e fotógrafo. Segundo o Ministério Público, há fortes indícios de que, após a prisão do auditor da Receita em um motel com uma menor de 15 anos, em 13 de janeiro, as agenciadoras das menores passaram a ser contatadas para destruir chips de celular e eliminar registros telefônicos dos aparelhos. A defesa de Marcelo Caramori nega.
"Tchello não oferece riscos à sociedade, não ameaçou testemunhas e nunca tentou destruir provas ou apagar chips de celulares. Nada disso existe".
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