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desastre ambiental

Auditoria alertou para problemas em barragem que se rompeu

Relatórios mostravam que Barragem do Fundão, em Mariana (MG), não atendia às recomendações para garantir estabilidade da estrutura

Rompimento da barragem devastou distrito de Mariana | Rogério Alves/TV Senado/Fotos Públicas
Rompimento da barragem devastou distrito de Mariana (Foto: Rogério Alves/TV Senado/Fotos Públicas)

A repetição de problemas nos relatórios de auditoria da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), produzidos nos últimos três anos, mostra que a Samarco não atendia de forma satisfatória às recomendações para garantir a estabilidade da estrutura de rejeitos. Produzidos pela empresa de consultoria Vogbr, os relatórios listam recomendações que deveriam ter sido seguidas como condicionantes para validação da certificação de segurança, a partir de 2013. Porém as falhas persistiram , elevando o risco de problemas no local.

Os relatórios citam problemas como canaletas trincadas, falhas nos canos de escoamento interno de água e no sistema de drenagem superficial, que visavam evitar a liquefação da estrutura da barragem. A soma dessas falhas pode ter contribuído para a maior tragédia ambiental do país, na avaliação de especialistas que conheceram os dados obtidos pelo jornal O Globo.

A legislação obriga a Samarco a apresentar anualmente aos órgãos ambientais de Minas relatório de auditoria produzido por especialista em segurança de barragens externo aos quadros da empresa. O rompimento no último dia 5 da barragem da mineradora, que pertence à Vale e à anglo-australiana BHP Billiton, deixou 13 mortos e oito pessoas desaparecidas e causou um tsunami de lama até o litoral do Espírito Santo.

O escoamento correto da água nos rejeitos é uma das principais preocupações em barragens como a da Samarco, já que o seu excesso eleva o risco de a estrutura se liquefazer. Relatórios de 2013, 2014 e 2015 apontaram problemas no sistema interno de drenagem, em especial nos canos que ligavam o centro da barragem ao exterior. Há registro de áreas saturadas, erodidas e até surgimento de nascentes na estrutura.

“Esse é um problema que não poderia ter deixado de ser atacado. Pelas informações que temos até agora, é praticamente certo que a questão da drenagem interna afetou a barragem”, disse Eduardo Marques, geólogo da Universidade Federal de Viçosa (MG) e especialista em mineração.

Marques também cita outro problema grave, citado nos dois últimos relatórios: a repetição da necessidade de realizar ensaio de compacidade, isto é, verificar se a estrutura comporta o peso dos rejeitos, permite a expulsão da água e o compacta como previsto.

A Samarco não respondeu porque deixou de corrigir os problemas apontados em 2013, para evitar que eles se repetissem em 2014 e 2015. Não quis informar o resultado dos testes de compacidade solicitados nas auditorias. Em nota, informou que a barragem estava em condições de segurança e que a empresa “realiza inspeções próprias” e conta com equipe para manutenção e identificação de anormalidades.

Um laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que 1.469 hectares de vegetação, ao longo de 77 quilômetros de cursos d’água, inclusive em áreas de preservação permanente. O documento, com data de 26 de novembro, abrange áreas afetadas em Minas Gerais e no Espírito Santo e indica que a execução das medidas de reparação de danos, quando viáveis, durará pelo menos dez anos.

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