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Brasiguaios se reuniram na última segunda-feira no Paraguai para denunciar a onda de invasões a propriedades rurais | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Brasiguaios se reuniram na última segunda-feira no Paraguai para denunciar a onda de invasões a propriedades rurais| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Uma disputa pela posse das terras mais férteis do Paraguai entre agricultores e um grupo local que exige sua expropriação está piorando e pode provocar confrontos violentos, alertou o vice-presidente do país, Federico Franco. As terras em questão, cerca de 18 mil hectares no distrito de Ñacunday (400 km de Assunção), pertencem a 30 brasiguaios e a Tranquilo Favero, o maior produtor de soja do país.

Franco garantiu em entrevista à agência Reuters que o presidente Fernando Lugo, com quem mantém atrito desde que ambos chegaram ao poder, há três anos não passa uma mensagem clara sobre o conflito. Segundo o vice-presidente, Lugo não diz se protegerá os investimentos e denuncia que alguns de seus colaboradores estão ocupando parte das terras. Lugo está em São Paulo em tratamento contra o câncer, no hospital Sírio-Libanês.

Os produtores enfrentam a Liga Nacional de Carperos, que reivindica a soberania e exige as terras sob o argumento de um superávit fiscal. "É uma situação preocupante ... é uma nuvem muito densa, muito escura, que pressagia tormentas", disse Franco, um médico liberal de 49 anos que busca um lugar entre os candidatos à Presidência nas eleições gerais de abril de 2013. "O governo, em muitos casos, é cúmplice dessa situação", disse referindo-se ao governador José Ledesma, aliado de Lugo e que Franco acusa de incentivar a ocupação de terras.

O dirigente da Mesa Coor­­denadora Nacional de Organiza­­ções Camponesas, Luis Aguayo, também acredita que a invasão dos carperos a propriedades privadas tem motivos eleitorais. "É grave quando se misturam interesses particulares e eleitorais com a soberania nacional", afirmou.

Ele chama atenção também para a necessidade de regularização da posse de terra. Ressalta que há pessoas entre os carperos que realmente precisam da terra, mas muitos estão ali por outros motivos. "Suspeitamos que existe gente interessada pelo pagamento e pela questão eleitoral. Deve-se respeitar o direito legítimo de ter um pedaço de terra, mas também repudiamos com toda a força aqueles que querem se aproveitar dessa necessidade e querem ações corruptas, e ainda mais para conseguir votos para seus projetos eleitorais."

Aguayo diz ainda que a atitude agressiva dos carperos e a xenofobia demonstrada contra o brasiguaios obrigam o Brasil a interferir na questão. "O Brasil tem razão em se meter se vê que seus compatriotas estão em risco em outro país. O Brasil é um império na América. Nós não podemos nem colocar o nariz na fronteira, dependemos deles. Se eles fecham [a fronteira], todos aqui choram. Não são eles os agressivos, somos nós."

O embaixador do Brasil em Assunção, Eduardo dos Santos, disse há alguns dias que o país estava preocupado e acompanhando os acontecimentos de perto, que ganhou de novo as manchetes quando as Forças Armadas iniciaram uma medição tentando determinar se existe o excedente. Sindicatos de produtores advertiram sobre um conflito social. "O Brasil tem uma ideia clara: seu limite não é o geográfico, e sim o lugar onde estão seus cidadãos, aí está a fronteira do Brasil. Mas a mim não me preocupa o que o Brasil possa pensar, me preocupa dar segurança jurídica aos investidores com presença do Estado", disse Franco.

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