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Rodrigo Correia, morador de Campo de Santana: insatisfação com o transporte coletivo levou à compra de carro e moto | Hugo Harada/ Gazeta do Povo
Rodrigo Correia, morador de Campo de Santana: insatisfação com o transporte coletivo levou à compra de carro e moto| Foto: Hugo Harada/ Gazeta do Povo

Concentração

Número de veículos por habitante ainda é baixo na região sul

Apesar do alto crescimento da frota nos bairros da região sul de Curitiba, o número de carros e motos por habitantes nessa região ainda é baixa. No Campo de Santana, por exemplo, há 0,22 veículos de uso pessoal para cada morador, enquanto a média de Curitiba é de 0,56.

Os bairros com maior frota proporcional – Centro, Rebouças, Batel e Centro Cívico – também abrigam muitas locadoras, empresas de veículos e órgãos do poder público. Por isso, os dados não refletem exatamente o patrimônio das famílias.

Entre as localidades com perfil residencial, as que têm maior frota de uso individual são o Alto da XV e o Jardim Social – 1,1 e 1,04 veículos por habitante, respectivamente. Em seguida aparecem o Alto da Glória (1), Hauer e Tarumã (0,96) e Seminário (0,93).

"O automóvel ainda não é um bem universalizado. O efeito visual e estatístico nos bairros periféricos salta aos olhos, mas os dados globais mostram que ainda existe uma diferença muito grande em relação aos bairros de maior renda", afirma Juciano Rodrigues, pesquisador do Observatório das Metrópoles.

A desigualdade, porém, vem caindo. No bairro Pinheirinho, o número de veículos por habitantes passou de 0,19 em 2004 para 0,47 em 2010.

O crescimento populacional ocorrido na década de 2000 no extremo sul de Curitiba foi bastante expressivo, registrando uma média de 33%. Outra evolução, porém, se destacou ainda mais neste período: somente entre 2004 e 2010, o número de veículos aumentou 180% na região, num ritmo três vezes maior do que a média da capital. No Campo de Santana, o aumento foi de 577% e, no Ganchinho, o incremento chegou a 607%.

O boom na frota de carros e motos, além de seguir uma tendência ocorrida em toda a cidade e no Brasil, impulsionada pelo crédito farto dos últimos anos, também revela a precariedade do transporte público. Muitas famílias, insatisfeitas com o sistema, adquiriram veículos para se locomover até o trabalho.

"Você sabe como funciona o transporte público hoje em dia, não é?", pergunta à reportagem Rodrigo Correia, 30 anos, que trabalha na construção civil e mora no Campo de Santana. "Justamente por isso comprei esses dois veículos, o carro e a moto", explica.

O automóvel de Correia, adquirido há cerca de um ano, tem mais 18 meses de financiamento pela frente. A moto foi comprada à vista, há dois anos. Quando os compromissos do dia a dia permitem, ele dá carona para a mulher até o trabalho dela, em um mercado. "Para falar a verdade, nem sei onde tem ponto de ônibus aqui perto", disse.

De acordo com dados do Detran, tabulados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), a frota de uso pessoal (carro e moto) totalizava 980.825 veículos em 2010 – último ano com dados disponíveis por bairros. Em relação a 2004, o crescimento total foi de 63%.

Outro bairro que apresentou um forte ritmo de expansão foi o Santo Inácio (535%). Mas, em geral, os bairros ao norte da capital tiveram crescimento da frota abaixo da média da cidade. No Seminário e no Cabral, a variação ficou na casa dos 5%, por exemplo.

No extremo sul, bairros como o Tatuquara, Gan­­­­­­­­chinho, Sítio Cercado, Um­­bará e Cachimba se transformaram na nova fronteira populacional de Curitiba. Os terrenos vazios deram lugar a centenas de conjuntos habitacionais e loteamentos. Mas a maioria das novas casas nem tem espaço suficiente para abrigar a "frota" familiar. Tanto que é comum ver muitos carros estacionados pelas ruas.

Na casa de Adriana de Fátima da Silva, 30 anos, geralmente há três veículos – o dela, o do marido e o da sogra. Quando a família se mudou para o Moradias Itaqui, no Campo de Santana, há dois anos e meio, ninguém tinha carro. "Trabalho no Boqueirão. Para ir de ônibus demorava muito, agora com o carro não levo nem 20 minutos, é bem melhor", diz Adriana.

Cenário se repete nas capitais

Segundo o pesquisador Juciano Rodrigues, do Obser­­vatório das Metrópoles, o cenário observado em Curitiba é semelhante ao de outras capitais brasileiras. "As famílias que moram na periferia têm necessidade do veí­­culo próprio não por lazer, mas para se locomover até o trabalho. O serviço público de transporte não atende à demanda do dia a dia, e isso contribui para a decisão de comprar um carro ou uma moto", destaca.

Rodrigues, autor de um estudo sobre o crescimento da frota nas metrópoles brasileiras, ressalta que esse cenário só foi possível devido ao cenário favorável na economia. "O que facilitou foi o aumento da renda e a facilidade em acessar o crédito, além das desonerações fiscais que ocorreram nos últimos anos", explica o pesquisador.

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