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“Em pesquisas mundiais, o índice de adesão (para a higienização das mãos) fica entre 35% e 60%. E aumentar o porcentual é uma luta. Consegue-se com dificuldade 80%. O hospital tem uma dinâmica rápida e, em algum momento, o ser humano falha.”
Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, infectologista e chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Nossa Senhora das Graças | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
“Em pesquisas mundiais, o índice de adesão (para a higienização das mãos) fica entre 35% e 60%. E aumentar o porcentual é uma luta. Consegue-se com dificuldade 80%. O hospital tem uma dinâmica rápida e, em algum momento, o ser humano falha.” Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias, infectologista e chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Nossa Senhora das Graças| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Diferenças

KPC não é igual à micobactéria

A infecção por micobactérias de crescimento rápido no Paraná, cujo surto aconteceu em 2007 e continuou com registros de casos em 2008, não tem relação com o surgimento da bactéria multirresistente KPC (klebsiella produtora de carbapenemase). "As duas não têm nada a ver uma com a outra e não é possível fazer um paralelo, de que um surto pode ter levado a outro. Os casos de micobactéria de crescimento rápido estavam ligados com a esterilização de produtos pós-cirurgia e atingiram pessoas que realizaram o procedimento", esclarece o infectologista do Laboratório Frischmann Aisengart/DASA, Jaime Rocha. Já a Klebsiella (KPC) é uma bactéria que simplesmente passa a habitar os hospitais.

Na época, a infecção causada pela micobactéria não permitia a cicatrização de cortes cirúrgicos em pacientes que faziam cirurgias plásticas, com câmeras de vídeo e preenchimentos estéticos. Os equipamentos que não eram bem esterilizados acabaram disseminando a bactéria. "A micobactéria fazia uma doença sub-aguda, diferente da KPC, cujo crescimento é mais acelerado e ocasiona doença aguda", diz a infectologista chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias.

Em Curitiba, foram confirmados 104 casos de infecção por micobactéria.

O surto da chamada superbactéria KPC (klebsiella produtora de carbapenemase), que infectou cerca de 180 pessoas e pode ter levado 18 a óbito no Distrito Federal, já virou um alerta aos profissionais da saúde. Isso porque a bactéria que passou a habitar os hospitais só é eliminada com três tipos de antibióticos e o pior é que o uso constante dos três medicamentos pode tornar o micro-organismo ainda mais resistente. No Paraná, 21 casos foram confirmados em Londrina e três em Curitiba – ainda não há registros de óbitos.

A dificuldade no tratamento levou as autoridades a intensificar as medidas já existentes para o controle da infecção, como a higienização criteriosa das mãos principalmente por parte dos profissionais da saúde. A Secre­taria do Estado da Saúde do Para­ná (Sesa) se diz preocupada com um eventual crescimento no nú­­mero de casos e também estuda intensificar o controle da infecção. A ideia, de acordo com a coordenadora do Centro de Infor­mações Estratégicas em Vigilân­cia em Saúde (Cievs) do Paraná, Ângela Maron, é treinar o Labora­tório Central para o estudo das bactérias multirresistentes, além de tornar obrigatória a notificação de casos. "Queremos colocar em prática no início de novembro. Não podemos esperar."

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também está organizada para instituir novas ações em todo o país. Segundo o gerente-geral de Tecnologia em Serviços de Saúde da Anvisa, Heder Murari Borba, uma reunião será realizada no próximo dia 22 para a discussão de um Plano Nacional de Microagentes Multirresistentes. "Essa ação vai debater não só o combate para a KPC, mas de outras bactérias existentes

O principal problema do surto é a pouca opção de tratamento: uma mutação genética tornou a KPC mais resistente, restringindo o acesso ao antibiótico mais usado para esses casos, os carbape­nêmi­cos. "A enzima, chamada carbapenemase, faz a quebra desses antibióticos", explica a infectologista e chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), Viviane Maria de Carvalho Hessel Dias.

Sintomas

A pessoa infectada pode desenvolver pneumonia, infecção urinária ou na corrente sanguínea. "Algumas são apenas colonizadas, o que não gera problemas. As infecções costumam ocorrer em pacientes com baixa imunidade e acometidos por doenças graves", diz a chefe do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marta Fragoso.

Borba afirma que três classes de antibióticos estão sendo usadas para infecções com a KPC: poliximina B, colistina e tigeciclina. "Porém, existem relatos de resistência para a colistina e esses novos casos geram a escassez de opções no tratamento, algo que preocupa órgãos reguladores no mundo todo."

A resistência está diretamente relacionada com o uso incorreto de antibióticos. "Elas (bactérias) criam mecanismos de defesa e fazem troca de material genético. Então, ficaram mais especializadas em quebrar as substâncias dos antibióticos. Cada vez que se utiliza antibiótico de amplo espectro, mais as bactérias vão adquirindo mecanismos para se defender", explica Viviane. Por isso o uso indiscriminado do antibiótico deve ser combatido.

Infecções

Necessidade de equipamentos como sonda urinária, cateter ou ventilação mecânica facilita a contaminação, pois pode levar a bactéria para um sítio de infecção mais rápido.

O ideal, de acordo com a in­­fectologista Viviane, seria usar antibióticos mais direcionados para um tipo específico de problema, evitando assim mutações e resistência. O protocolo, po­­rém, é difícil em pacientes internados em UTI’s. "Como muitas vezes não se sabe ao certo o que o paciente tem, acaba se dando um tiro de canhão para combater uma infecção, quando precisava ser de revólver".

Segundo o presidente da Sociedade Paranaense de Infec­tologia, Alceu Pacheco, é preciso criar uma cultura de controle de infecção hospitalar eficiente no país ."Tem de se realizar a coleta do material para ver se a pessoa já está colonizada. O isolamento do paciente é imprescindível até a resolução do caso." Por enquanto, a Anvisa ainda não sabe se os casos no Distrito Federal foram importados e o estudo epidemiológico será realizado posteriormente.

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