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As barragens de rios - tanto as que servem a hidrelétricas quanto as que têm a função de manter açudes em ambientes áridos - impactam a zona costeira a quilômetros de distância de onde foram construídas. É o que prova um estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente-Oceano, que ganhou neste ano o Prêmio Fundação Bunge no tema Oceanografia.

"Quando se constrói uma barragem, parte dos sedimentos que o rio levaria para o mar acaba ficando no mesmo lugar. Estima-se que hoje em dia os oceanos recebam apenas 50% dos sedimentos transportados há 100 anos, antes da construção das grandes represas", afirma Luiz Drude de Lacerda, pesquisador que trabalha na bacia do Rio Jaguaribe, que corta 70% do Ceará e tem 87 reservatórios de água.

Esse material deveria repor o alimento das espécies marinhas e substituir parte do terreno que é engolido pela ação do mar. Por isso, Drude defende que os relatórios de impacto ambiental de barragens considerem também os ecossistemas marinhos onde os rios afetados deságuam.

Consequências

Os impactos atingem as zonas do barramento e costeira e as atividades desenvolvidas, como a pesca. No local da barragem, os sedimentos se acumulam, aumentando as ilhas e as praias fluviais; a foz dos rios fica entupida de material. Os manguezais também crescem e começam a colonizar ilhas e praias. Os canais de acesso para barcos de pesca ficam mais difíceis. Há ainda impactos sociais.

"Na outra ponta, na costa, o maior impacto é a erosão, que já é uma consequência da intervenção do oceano no continente, independentemente das barragens. Mas, com menos aporte de sedimentos do continente, surgem problemas. As águas oceânicas penetram mais e salinizam os aquíferos costeiros, prejudicando o abastecimento da população." A regulação do fluxo dos rios compromete toda a produtividade pesqueira da costa. "Principalmente no Nordeste, a pesca costeira depende dos sedimentos do continente. Ele é o combustível da cadeia alimentar marinha", explica Drude.

Para o pesquisador, é preciso mudar a forma de fazer o zoneamento costeiro, levando em consideração os impactos das barragens. "É preciso identificar os efeitos das barragens na zona costeira para poder gerar cenários futuros. E planejar o gerenciamento costeiro de forma séria, para que as pessoas não sejam tão prejudicadas." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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