• Carregando...
 |
| Foto:

Quando nem amarrar resolve

A audácia dos ladrões surpreendeu o estudante Marcello Zaithammer (foto), de 28 anos. Ele deixou a bike amarrada em um poste baixo, com lixeira, próximo ao Museu Oscar Niemeyer. Quando voltou, descobriu que o criminoso havia desparafusado a lixeira para retirar a magrela do poste. "Não deixo mais a bicicleta na rua. Se preciso ir numa loja, ou deixo em um estacionamento em algum shopping próximo ou entro na loja com a bicicleta mesmo. Senão roubam. Já virou algo trivial", desabafa.

Setran vai fazer cadastro de bicicletas

A Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) deve apresentar, até o fim do ano, uma proposta de identificação de bicicletas e ciclomotores de Curitiba. O projeto está sendo elaborado por um grupo de estudos dentro da secretaria. "Nossa ideia é criar um sistema que permita identificar o dono e a bicicleta, tanto para fins de autuação quanto para a segurança dos ciclistas, que podem recuperar suas bicicletas roubadas com esse tipo de identificação", explica a secretária Luiza Simonelli. Ainda não se sabe como será feito o cadastro. Uma das possibilidades seria um adesivo, de difícil remoção, para ser colado no esquadro. "Conforme o cidadão faça o registro, teremos também dados sobre a frota de bicicletas na cidade, que é um modal que chegou com força, mas que enfrenta na fiscalização e na segurança dois grandes desafios", conclui Luiza.

O crescente aumento da frota de bicicletas no país – modal tido como uma das soluções para reduzir engarrafamentos e melhorar a qualidade de vida das pessoas nas grandes cidades – trouxe, por outro lado, uma dor de cabeça aos usuários: o aparente aumento dos furtos e roubos desse tipo de veículo. Aparente porque as autoridades policiais não possuem informações confiáveis para mapear e combater esse tipo de crime. Mas os relatos e as estatísticas feitas pelos próprios ciclistas alertam para o fato.

O roubo de bicicleta, para começar, não é especificado nos bancos de dados da polícia como uma classe de delito. "Um celular furtado e uma bicicleta furtada entram nas mesmas estatísticas", explica Marcelo Magalhães, delegado titular da Delegacia de Furtos e Roubos de Curitiba. Como se não bastasse, esse tipo de crime quase nunca resulta em prisões, e as prisões quase nunca resultam em privação de liberdade. "O furto qualificado tem pena máxima de oito anos, mas a pessoa que o comete e é pega em flagrante muitas vezes é posta em liberdade mediante fiança. Ou então o juiz solta quase que imediatamente, a menos que o réu tenha uma ficha policial extensa", observa Magalhães.

Segundo o delegado, fatores como o aumento da frota de bicicletas – o que favorece a venda e a compra de veículos usados, muitas vezes de procedência duvidosa – , e a evolução da tecnologia e do preço das bikes transformam o roubo das magrelas em um negócio lucrativo para os criminosos. "Muitas pessoas que se dizem de bem compram produtos sem nota, e existe o costume de não guardar notas das compras. Tudo isso facilita o roubo de bicicletas", analisa.

Magalhães acredita que uma das formas de tentar coibir esses crimes seria um sistema de identificação das bicicletas roubadas: "A delegacia recupera quase que diariamente celulares roubados porque eles são identificados, têm rastreador. A última bicicleta que recuperamos foi há meses, e só porque a vítima a identificou sendo vendida na internet e acionou a polícia."

Ciclistas se mobilizam para mapear roubos de bikes

O publicitário César Noda, de 35 anos, pedalava junto com a então namorada por uma ciclovia próximo à Rodoferroviária de Curitiba quando foi abordado por três homens, um deles empunhando uma faca. Ele foi derrubado da bike e os criminosos ainda perseguiram a namorada dele para tomar a bicicleta dela. "Ali é uma terra de ninguém, não tem policiamento nenhum. Fiquei com muito receio de passar por ali de bicicleta de novo, e preciso passar porque é caminho para casa", conta. Laura Engroff, estudante de 19 anos, voltou da escola e encostou a bicicleta dentro de casa, próximo ao portão da residência, no Boqueirão. "Fui comer alguma coisa, e quando voltei, ela não estava mais lá. Não chegaram a abrir o portão, conseguiram tirar ela por cima dele."

Casos como esses são cada vez mais comuns. Na falta de estatísticas ou de reforço policial para conter os roubos, ciclistas amadores e cicloativistas tentam, por conta, manter algum controle sobre o fluxo de bikes roubadas na cidade. É o caso do site Bike Registrada www.bike registrada.com.br, cujo objetivo é fazer um cadastro nacional de ciclistas. "As bicicletas têm um número de série no esquadro, semelhante ao número do chassi de um carro. A ideia é que o ciclista que venha a adquirir uma bicicleta usada consulte esse banco para saber informações sobre essa bicicleta", explica Max Proeck, um dos idealizadores do projeto.

Sites similares, como o www.bicicletasroubadas.com.br, registram os roubos para consulta e para tentar recuperar os veículos. O banco de dados que alimenta a página virtual começou a ser montado em 2001. Atualmente, os registros indicam que o Paraná é o terceiro estado com mais roubos de bikes no Brasil (204 furtos e roubos - 10,5% dos casos ocorridos no país). São Paulo e Rio lideram o ranking, com 805 e 281 registros, respectivamente.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]