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O sistema de binários (ruas paralelas que operam em sentido oposto) tem sido uma das principais formas da prefeitura de Curitiba de tentar desafogar o trânsito da cidade, mas também gerado mudanças no dia-a-dia dos moradores onde estão sendo contruídos. Nos últimos três anos, cinco binários saíram das planilhas dos urbanisas da prefeitura. Até abril, mais três entram em funcionamento, além da ligação viária dos terminais Capão da Imbuia e Hauer. Se não bastasse estes, outros dois binários estão sendo projetados para ser construídos neste ano.

De acordo com a gerente de Engenharia de Trânsito da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), Rosângela Battistella, a principal vantagem dos binários é aumentar a fluidez do tráfego. "Não temos um estudo técnico-estatístico que comprove isso, mas temos essa percepção visual e por meio da melhora do tempo dos semáforos que fazem parte dos binários já implantados", afirma a gerente do Diretran.

Entre outras vantagens dos binários, Rosângela cita a possibilidade de implantação de estacionamento nas vias que fazem parte do sistema, diminuição no tempo de percurso ao longo de uma via e, principalmente, um incremento no fator segurança. "Extinguindo-se a mão dupla de uma via, as conversões à esquerda tornam-se menos complicadas e mais seguras", explica Rosângela.

O professor de Planejamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Garrone Reck, tem opinião parecida com a de Rosângela mas com algumas ressalvas. "Embora os binários representem uma solução para aumentar a capacidade de tráfego das vias, em tese, dobrando a sua capacidade, não representam soluções duradouras", afirma.

Segundo Reck, o binário dá uma sobrevida e soluciona a curto prazo problemas pontuais de congestionamentos. Mas o sistema perde a eficácia com o tempo, principalmente se a taxa de motorização da cidade continua crescendo. Para Reck, a única solução a longo prazo se dá por meio da restrição de circulação de automóveis (rodízio, taxação em estacionamento, fiscalização, etc) e melhoria no sistema de transporte coletivo.

O vice-presidente financeiro do Sindicato da Habitação e Condomínios do Paraná (Secovi-PR), Carlos Paulino, levanta ainda outros questionamentos em relação aos binários. Segundo Paulino, a implantação do binário, num primeiro momento, beneficia normalmente o comércio, já que o fluxo maior de carros numa via torna o lado comercial mais visível. Por outro lado, os moradores da região perdem em qualidade de vida. Inclusive, com a conseqüente desvalorização dos imóveis.

Robert Amorim, proprietário do restaurante Beto Batata, localizado na Rua Professor Brandão, que faz binário com a Rua Itupava, no Alto da XV, há oito anos, sentiu de perto a mudança que o sistema trouxe à região. "Isto aqui era bucólico antes. A rua era de paralelepípedo e nem tinha passagem no trilho de trem. Para mim e os comerciantes em geral foi bom, mas os moradores reclamam muito", conta. Amorim diz que na época da implantação do binário existiam três lojas comerciais na sua rua. "Hoje já perdi a conta de quantas existem", diz.

A funcionária pública aposentada, Omil Mancini, 61 anos, moradora há 38 anos da Rua Professor Brandão, avalia negativamente a mudança. "Aqui era bem tranqüilo, não estávamos preparados para uma mudança tão grande naquela época. Tive até de trocar a massa dos vidros aqui de casa porque eles começaram a cair", conta. Agora, Omil, no entanto, já diz estar acostumada.

A professora Anice Moro, 59 anos, moradora há 18 anos da Rua Major Heitor Guimarães, no Campina do Siqueira, não está nem um pouco contente. Ao contrário de Omil, que mora numa via em que o sistema está consolidado há oito anos, Anice teme o futuro, já que a partir de semana que vem a rua fará parte do binário da Rua Mário Tourinho.

"Aqui era uma região totalmente residencial, agora vai passar ônibus, caminhão, vai ter barulho, buzina à noite, movimento, acidentes, ninguém aqui ficou feliz com essa mudança", afirma Anice. "A cidade é um espaço coletivo, temos que pensar no que é melhor para a maioria da população", argumenta Reck.

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