Telegramas são "insignificantes", diz Lula
Folhapress
O presidente Lula minimizou a importância do vazamento de telegramas confidenciais remetidos pela Embaixada dos EUA em Brasília e chamou os papéis revelados até aqui de "insignificantes. "De vez em quando aparecem essas coisas. Acho que são tão insignificantes que não merecem ser levadas a sério, disse Lula. O presidente negou ter receio em relação ao que possa vir a ser divulgado: "Se fosse tão sério, [os telegramas] não teriam vazado.
Em uma das mensagens, de janeiro de 2008, há no relato do então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, uma menção ao então secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos. Sobel documentou que "Jobim disse que Guimarães "odeia os EUA e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]. Lula desacreditou Sobel e o ministro da Defesa tratou de pôr panos quentes e negar o relato. Em nota, Jobim disse ter ligado para Guimarães e que o colega americano o interpretou errado.
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, ?praticamente admitiu? a presença das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na vizinha Venezuela, mas preferiu não tocar no assunto para não prejudicar a capacidade de mediação com Caracas e Bogotá, segundo documentos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA vazados pelo site WikiLeaks.org. Jobim também teria advertido que uma eventual alteração da constituição colombiana para que o então presidente Alvaro Uribe pudesse tentar uma segunda reeleição abriria um ?terrível precedente? na região.
Dois telegramas enviados a Washington pela Embaixada dos Estados Unidos em Brasília ? um com data de fevereiro de 2008 e outro de novembro de 2009 ? referem-se a encontros e conversas de funcionários norte-americanos com Jobim sobre diversos assuntos, desde segurança regional às aspirações do então presidente colombiano Alvaro Uribe de buscar um terceiro mandato.
Apesar de os telegramas não possuírem detalhes de cada afirmação e assunto tratado nesses encontros, a representação norte-americana em Brasília narra em fevereiro de 2008 que ?o Brasil compartilha da preocupação do embaixador [dos EUA Clifford Sobel] quanto à possibilidade de a Venezuela exportar instabilidade? para além de suas fronteiras.
O Brasil apoiou a criação do chamado Conselho Sul-Americano de Defesa, prossegue o telegrama de 2008, com o objetivo de manter o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dentro dos canais institucionais do continente. ?Jobim acredita que isolar Chávez resultaria em uma maior radicalização (do presidente venezuelano) e elevaria o risco de expansão da instabilidade entre os países vizinhos?, diz o telegrama confidencial de fevereiro de 2008 vazado pelo WikiLeaks.
Já em novembro de 2009, outro telegrama da embaixada norte-americana em Brasília narra outro encontro no qual ?Jobim praticamente admite a presença das Farc na Venezuela?. Consultado sobre o tema, prossegue o telegrama, ?Jobim disse que admitir essa presença ?arruinaria a capacidade?? brasileira de mediação entre Caracas e Bogotá.
O texto não detalha exatamente o que teria dito Jobim sobre a suposta presença de integrantes do grupo guerrilheiro em solo venezuelano, mas avalia como sincero o esforço do governo brasileiro para manter a paz na região e sugere que tal comportamento deveria ser encorajado.
Ainda segundo o documento, Jobim observou que declarações inflamatórias feitas à época tanto por Chávez quanto por Uribe eram destinadas a seus públicos internos em um momento que antecedia eleições nos dois países.
Também no telegrama de novembro de 2009, Jobim qualificou como ?terrível precedente? a tentativa de alteração da constituição colombiana para que Álvaro Uribe pudesse concorrer a um terceiro mandato. A iniciativa acabou barrada pela Corte Constitucional da Colômbia em fevereiro de 2010.
Confira um videocast sobre o Wikileaks:
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