| Foto: Felipe Lima

Tem tias minhas que querem me converter, acham que minhas opiniões são só coisa de caçula. Mas aí eu dou um jeito de dizer que amo elas apesar de não concordarmos em tudo.

Julia Gitiranaadvogada.
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Efeitos

Foi na semana do depoimento de Lula, por exemplo, que a médica Maria Dolores Bressan informou à ex-vereadora Ariane Leitão, em Porto Alegre, que não atenderia mais o seu filho. “Estou sem a mínima condição de ser pediatra do teu filho”, escreveu via WhattsApp.

Um professor de História ouviu alguém no banco dizer que era preciso matar o ex-presidente Lula, acusado de corrupção.

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Incomodado, ele disse discordar: foi ameaçado no próprio local e perseguido no colégio em que leciona.

Procurou a polícia, mas achou-se que era um caso isolado. Não era. Então surgiram outros casos espalhados pelo país. Gente que era ameaçada por usar roupas vermelhas. Gente acusada de golpista por vestir preto.

Em Curitiba, na semana passada, um novo caso: uma turma de estudantes protestou contra a corrupção e o atual governo dentro do Colégio Medianeira, um dos mais tradicionais de Curitiba. Vestidos de preto, foram criticados duramente por uma professora no Facebook. Na foto do post, meninos da Itália fascista. No texto, a acusação de que eles defendiam o golpe. No mesmo Facebook, pais reagiram chamando a professora de “comunista descarada” e pedindo sua cabeça. A professora, intimidada, pediu demissão.

Em Porto Alegre, uma história ainda mais chocante: uma pediatra se recusou a continuar atendendo um bebê de um ano em função da filiação partidária da mãe. “A sensação, na hora, era de que tinham me dado um soco no estômago”, diz Ariane Leitão, que prometeu levar o caso às autoridades. O caso isolado provou ser uma epidemia de intolerância.

Lava Jato

A polarização do país se acentuou conforme a Lava Jato se aproximava do centro do poder no governo federal. A condução coercitiva do ex-presidente Lula, em 4 de março, e a divulgação de escutas em que ele aparecia falando com a presidente Dilma Rousseff acirraram ainda mais os ânimos.

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Para o sociólogo José Szwako, do Iesp, o clima de intolerância tem relação com uma cultura autoritária que existe no país. “Isso não chega a ser novidade. Acredito que inclusive há características de fascismo em certos comportamentos que estamos observando”, diz ele. O fascismo, segundo ele, seria identificável “pela atitude de quem não quer reconhecer o outro, quer subordinar o conflito político a uma hierarquia em que os demais devem ser anulados”, diz.