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Desenho do CBERS-3, que será lançado no próximo dia 9: um pequeno passo para o Brasil | Divulgação/Inpe
Desenho do CBERS-3, que será lançado no próximo dia 9: um pequeno passo para o Brasil| Foto: Divulgação/Inpe

"Gravidade"

Programa brasileiro faz 20 anos sem funcionários e sem dinheiro

O lançamento do CBERS-3 é uma peça fundamental do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), um ambicioso plano da Agência Espacial Brasileira (AEB), que prevê o lançamento de outros dez satélites até 2020. Tão ambicioso que, para muitos, chega a ser irrealista, considerando as limitações do sistema.

Prestes a completar 20 anos, a AEB não tem quadro próprio de recursos humanos. A agência tem apenas sete funcionários: dois motoristas, três assistentes administrativos, um datilógrafo e um auxiliar de serviços gerais Todos os outros (cerca de 80) são servidores emprestados de outros órgãos, incluindo o presidente da agência, o matemático José Raimundo Braga Coelho.

Uma lei aprovada em junho deste ano autorizou a contratação de servidores na AEB, mas o concurso até agora não foi aberto. "Aguardamos ansiosamente", afirma Coelho.

Para ser executado, o PNAE prevê a necessidade de R$ 900 milhões em investimento por ano, em média, na área espacial até 2020 – cerca de três vezes mais do que o orçamento real da AEB nos últimos anos.

Dia 9 de dezembro, 11h26 no horário de Pequim, 1h26 em Brasília. Enquanto a maioria dos brasileiros estiver dormindo, um seleto grupo de engenheiros, cientistas, empresários e autoridades estará atento a uma contagem regressiva no Centro de Lançamento de Taiyuan, na China, sonhando acordado com o futuro do programa espacial brasileiro.

Se tudo correr bem, e a meteorologia colaborar, um foguete de 45 metros, modelo Chang Zheng 4B, deverá subir aos céus, levando a bordo o novo Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres, conhecido como CBERS-3. Metade construída no Brasil, metade na China, a fabricação custou cerca de US$ 125 milhões para cada país.

As expectativas são as maiores possíveis. Um fracasso na missão poderá significar um golpe para o já fragilizado programa espacial brasileiro, que luta para se manter vivo e relevante em meio a uma série de limitações financeiras, tecnológicas e estruturais.

O programa CBERS (pronuncia-se "sibers") é uma das poucas coisas que já deram certo para o Brasil na área espacial. Apesar do número 3 no sobrenome, este será o quarto satélite da série, depois dos CBERS-1, 2 e 2B – o último dos quais parou de funcionar em maio de 2010, o que significa que o país está cego no espaço há três anos e meio, dependendo das imagens de satélites estrangeiros para observar seu próprio território.

AdiamentosO plano original acertado com a China era lançar o CBERS-3 até 2010, no máximo, mas uma série de problemas levou a sucessivos adiamentos. O último deles, de ordem tecnológica, envolveu a detecção de falhas nos conversores elétricos usados na metade brasileira do projeto.

As peças defeituosas foram retiradas e agora, após mais um ano de testes e revisões, o CBERS-3 parece estar finalmente pronto para entrar em órbita. Posicionado a 778 quilômetros de altitude, terá quatro câmeras para observar a superfície do planeta.

Uma das câmeras, a MuxCam, vai observar uma fai­xa de terra de 120 quilômetros de largura, permitindo escanear toda a superfície do planeta a cada 26 dias, com 20 metros de resolução. "É como se tivéssemos um supermercado de imagens", diz o coordenador do Segmento de Aplicações do Programa CBERS no Inpe, José Carlos Epiphanio.

Florestas

Epiphanio é engenheiro agrônomo por formação, o que serve como um bom exemplo da variedade de empregos que se pode dar ao CBERS. A aplicação mais famosa é a de monitoramento de florestas, principalmente na Amazônia, mas há muitas outras, incluindo o monitoramento de atividades agrícolas e ocupações urbanas, processos de erosão, uso de recursos hídricos, desastres naturais e até vazamentos de petróleo.

As imagens produzidas pelo CBERS-2B, por exemplo, foram baixadas por mais de 50 mil usuários, de mais de 5 mil instituições, em mais de 50 países. "Não tem uma universidade, um órgão de governo no Brasil que não seja usuário do CBERS", destaca Epiphanio. Todas as imagens geradas pelo programa são distribuídas gratuitamente na internet pelo Inpe desde 2004.

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