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Margareth estava foragida desde 20 de março | Carlos Junior
Margareth estava foragida desde 20 de março| Foto: Carlos Junior
  • Apesar do depoimento confuso, a polícia afirmou que ela detalhou o processo de fabricação dos doces
  • Margareth Aparecida Marcondes, de 45 anos, foi detida por volta das 3 horas enquanto dormia em seu carro, na praia de Barra Velha

A doceira Margareth Aparecida Marcondes, de 45 anos, disse em depoimento à Polícia Civil que colocou veneno de rato nos brigadeiros enviados a Thalyta Machado Teminski, de 14 anos, para adiar a festa de 15 anos da adolescente.

Ela teria gasto os R$ 6,5 mil pagos pelo pai da garota e estava sem dinheiro para cumprir o contrato com a família. A mulher teria imaginado conseguir outro trabalho até a menina se recuperar para então realizar a festa. Já o marido de Margareth, encontrado gravemente ferido no último dia 22 em Joinville (SC), teria sido espancado pela doceira. Em depoimento, ela disse que não teve coragem para confessar o envenenamento.

As motivações dos dois crimes foram relatadas por Margareth em depoimento à Delegacia de Homicídios (DH) de Curitiba na tarde deste sábado (31). Ela está presa no Centro de Triagem I, no centro de Curitiba, e vai responder por quatro tentativas de morte, já que quatro adolescentes comeram os bombons, e por lesão corporal grave, por ter espancado o marido, Nercival Cenedezi, 49 anos. O mandado de prisão dela foi expedido na noite de sexta-feira (30) pela Vara de Inquéritos Criminais de Curitiba.

Depois de onze dias desaparecida, Margareth foi encontrada na madrugada desde sábado por policiais militares na cidade de Barra Velha, no estado vizinho. Ela dormia dentro do veículo, um Renault Symbol e foi abordada por volta das 3 horas. Dentro do carro foram encontradas latas de cerveja e de refrigerante, restos de comida, uma faca e uma garrafa de álcool, segundo informações do jornal "A Notícia", de Joinville.

Choro

Após prestar depoimento, Margareth foi apresentada à imprensa pela Delegacia de Homicídios. Ela não quis comentar o caso. A doceira chorou todo o tempo em que esteve em frente às câmeras e escondeu o rosto. Questionada sobre o envenenamento e o espancamento do marido, Margareth disse que o delegado contaria os motivos e não respondeu a outras perguntas.

O pai de Thalyta, Edílson Teminski, que é sargento da Polícia Militar do Paraná, disse que se sentiu aliviado ao saber que a mulher tinha sido presa e confessado os crimes. Ele chegou a figurar entre os suspeitos de ter agredido o marido de Margareth, já que a Polícia Civil sabia que o dinheiro da festa já tinha sido pago à doceira. Havia possibilidade de ele ter ido a Joinville cobrar o valor. No dia em que Cenedezi foi encontrado bastante ferido, o policial esteve em frente à casa de Margareth em Joinville.

Teminski contou que até este sábado as filhas dele não admitiam a hipótese de Margareth ter envenenado os brigadeiros. A mulher era amiga da família e organizou a festa de 15 anos da filha mais velha do sargento, atualmente com 18 anos. "As minhas filhas choraram quando viram a história na TV. Elas não queriam acreditar que tinha sido ela".

O policial disse ainda que a doceira foi contratada para fazer o bolo, levar um DJ, organizar a recepção, preparar os doces e providenciar os arranjos para a festa de 15 anos de Thalyta. O sargento revelou, porém, que já cogitava a hipótese do envenenamento ter ligação com Margareth devido à falta de dinheiro. "Eu conversei há uns dias com a DJ que seria contratada. Ela disse que a Margareth não pagava ela desde outubro".

Confusão mental

O delegado titular da DH, Rubens Recalcatti, disse que a doceira está abalada emocionalmente e contou que precisou pedir para ela se acalmar e diminuir o choro diversas vezes durante o depoimento. "Ela está muito perturbada. Eu já a imaginava com sérios problemas mentais", afirmou.

Foi Recalcatti quem explicou como aconteceu o envenenamento e a agressão. Segundo ele, a intenção de Margareth era adiar a festa de Thalyta para conseguir dinheiro de outro evento e cumprir o contrato com a família da adolescente. O veneno de rato teria sido encontrado na casa da doceira em Joinville. "Ela foi guardar material no sótão da casa e encontrou o pacote de veneno, tipo chumbinho. Ela lembrou que a Thalyta sempre pedia doces. Ela disse que veio na cabeça a ideia de fazer uma massa e colocar o veneno".

O delegado contou que Margareth veio então para Curitiba e pediu para uma pessoa na rua escrever o bilhete enviado junto com a caixa de brigadeiros. "Ela pediu para uma pessoa num ponto de ônibus, com a alegação que estava sem óculos", disse Recalcatti. Em seguida, a doceira teria procurado um taxista, perto do Shopping Pinheirinho, no Sítio Cercado, para fazer a entrega.

Apesar disso, Recalcatti não acredita que a intenção tenha sido matar a adolescente. "Ela disse que jamais imaginava que (o envenenamento) pudesse acarretar na morte de alguém. Ela imaginava que a pessoa poderia ficar doente, que tivesse um problema temporário".

A doceira também não teria tido a intenção de matar o marido. A mulher teria dito que chamou Cenedezi para almoçar em casa no dia 20 com a intenção de confessar o envenenamento, mas não teria conseguido dizer isso a ele. Margareth afirmou que temia a possibilidade de o marido saber da história pela imprensa ou de a polícia a abordar em casa.

Sem coragem de falar sobre o assunto com o marido, ela teria se apavorado e o agredido. "Estava chegando o horário dele voltar ao trabalho. Ela chamou ele na cozinha e, em um momento, ele derrubou alguma coisa no chão e se abaixou para juntar. Ela pegou um objeto de silicone, bem resistente, que ela usa para fazer as massas de doces, e bateu na nuca dele. Ela disse que aquilo veio de momento", explicou o delegado.

Nercival Cenedezi foi encontrado em casa com sinais de espancamento na quinta-feira (29), três dias depois de ser agredido. A casa do casal em Joinville estava cheia de sangue em vários cômodos e nas paredes (veja vídeo). O homem estava nu, desacordado e com marcas de agressão na cabeça e no braço. Segundo o delegado Marcel de Oliveira, da Divisão de Investigações Criminais (DIC) de Joinville, Margareth justificou o espancamento dizendo que não queria que o marido soubesse o que ela havia feito no Paraná.

Fuga e seguro de vida

A doceira estava desaparecida desde o dia 20. O delegado Rubens Recalcatti disse que, após agredir o marido, ela foi ao banco pagar uma conta dele, mas não coseguiu realizar a operação porque não lembrava da senha. Ela dirigiu até Porto Alegre (RS), onde teria ficado um dia. A mulher teria retornado a Santa Catarina entre quarta (21) e quinta-feira (22) e estava passando os dias dentro do carro, vagando na região de Barra Velha e Itajaí.

Mensagens de celular

As mensagens de celular enviadas a amigos do casal, na semana passada, também são de autoria de Margareth, de acordo com a Polícia Civil. No texto, é avisado que Cenedezi está morto e que Margarete teria presenciado o crime. "Nercival está morto em casa aguardando para ser enterrado. Mulher presenciou tudo, está dopada, drogada e pronta para ser atropelada. Docinho só fachada. Laranja se ferrou", diz o texto. O delegado Oliveira contou que a doceira enviou as mensagens para que encontrassem o marido, que ela julgava estar morto, e para tentar desviar a atenção sobre a participação dela no crime.

Os passos da doceira estavam sendo monitorados pela polícia catarinense. Na segunda-feira (26), a polícia soube que ela passou por uma agência bancária em Itajaí, porque foi flagrada pelas câmeras de segurança. "Já sabíamos que ela estava viva e por ela estar bem tínhamos certeza de que ela havia participado dos crimes", conta.

O delegado paranaense, Rubens Recalcatti, afirmou que ela contou em depoimento que foi a uma agência da Caixa Econômica Federal de Itajaí para fazer um seguro de vida em nome da filha, que mora em Curitiba. "Ela disse que sofre de arritmia cardíaca e estava com medo de passar mal e deixar a filha desamparada."

O caso

A adolescente de 14 anos, Thalyta Machado Teminski recebeu uma caixa com oito doces, na tarde de 12 de março, e quatro pessoas passaram mal após ingerir parte dos brigadeiros. Um taxista entregou os doces na casa da família da menina, no Jardim Futurama, no Umbará em Curitiba, de acordo com a Delegacia de Homicídios (DH). O homem disse à polícia que uma mulher elegante, bem vestida, o procurou - próximo ao Shopping Pinheirinho - e pediu para entregar a caixa com os doces na casa da menina.

A adolescente de 14 anos chegou a ter uma parada cardiorrespiratória no dia em que ingeriu os brigadeiros. Dos quatro adolescentes que comeram os bombons, três precisaram ser internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Clínicas (HC). Todos receberam alta e passam bem desde o último dia 20. Thalyta saiu do hospital no dia 19 deste mês.

Outros dois adolescentes, de 13 e 17 anos, deixaram o hospital uma semana antes. O primeiro esteve internado no Centro Municipal de Urgências Médicas (CMUM) do Pinheirinho e teve alta em 13 de março. O outro jovem foi levado para o HC e permaneceu no hospital até quinta-feira (15). A última a deixar o Hospital de Clínicas (HC) foi a adolescente de 16 anos, na terça-feira (20). Ela teve uma lesão pulmonar.

VIDA E CIDADANIA | 1:33

A casa de Margarete Marcondes, em Joinville (SC), estava cheia de sangue nas paredes e no chão no último dia 23, quando os investigadores da Delegacia de Homicídio de Curitiba estiveram no local. Margarete é suspeita de envenenar os brigadeiros que levaram quatro adolescentes ao hospital no início do mês. O marido dela foi encontrado gravemente ferido dentro da casa.

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