Djanira, mãe de Leandro, que teve fragmentos do crânio identificados: “Eu acredito que um dia ele vai aparecer”| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

23 casos estão na pauta do Sicride

Casos de 23 crianças desaparecidas no Paraná desde 1980 continuam a ser investigados pelo Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride). Em reuniões semanais, os investigadores debatem casos antigos para traçar novas linhas de apuração. Foi dessa forma que o caso de Leandro Correia foi concluído. "Cada policial tem dois ou três casos antigos. Cada um faz o relato de tudo o que aconteceu e propõe novos caminhos para a investigação", diz a delegada Ana Cláudia Machado, do Sicride.

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Duas décadas não foram suficientes para aplacar a dor da diarista Djanira dos Santos Correia, mãe do menino Leandro Correia, que desapareceu há 20 anos e teve partes do crânio identificados a partir de um exame de DNA. Mesmo com a morte de Leandro comprovada, Djanira ainda tem esperança de encontrar o filho vivo. "A esperança é a última que morre e ela vai morrer comigo. O exame comprova tudo, mas também podem ter errado. Eu acredito que um dia ele vai aparecer", diz.

Leandro desapareceu no dia 22 de maio de 1990, na zona rural de Roncador, a 100 km de Campo Mourão, no Noroeste do estado. Ele foi visto pela última vez perto da Fazenda São Jorge, enquanto a mãe e o padastro estavam na lavoura. Um mês depois, um pedaço de crânio foi encontrado a mil metros do local, mas na época não havia tecnologia para determinar se os fragmentos eram de Leandro. A confimação veio no início do mês passado, a partir de um exame de DNA ósseo feito pelo Instituto de Cri­minalística, em Curitiba.

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Djanira esteve em Curitiba há duas semanas para providenciar a liberação dos fragmentos, que foram enterrados no dia 17 de março em Campo Mourão. "Isso é im­­portante, porque assim ele vai sempre estar por perto", afirma a mãe, com lágrimas nos olhos. "O tempo de espera foi muito longo, os outros irmãos sempre esperavam ele aparecer. Em cada Natal, cada aniversário, a esperança era de encontrar ele."

Leandro era o único filho de Djanira quando desapareceu. Hoje ela tem outro marido e mais três filhos, de 15, 13 e 9 anos, mas mantém um local com as lembranças do menino desaparecido. A mãe ainda lembra quando recebeu a notícia, no início do mês. "A polícia ligou dizendo que tinha novidades. Esperava que fossem levar meu filho e nos preocupamos sobre onde ele dormiria", conta. "Quando o carro da polícia parou na frente de casa, todos nós fomos para fora. Ficamos aguardando todos descerem do carro. Enquanto o último não desceu, não imaginava que a novidade seria essa (a morte)." Para Djanira, o caso ainda não acabou. "Passei dias e noites acordada, levaram 20 anos para descobrir que os ossos são dele. Agora quero saber quem foi (que matou)."

Busca

Para a psicóloga Marília Marchese, coordenadora do Movimento Na­­cional em Defesa da Criança Desa­parecida do Paraná (Cridespar), a reação de Djanira está relacionada à forma de vida adotada pela mãe nos últimos 20 anos. "A espera passou a fazer parte da vida dela. Nesse tempo, a preocupação dela era de saber se ele estava bem, se estava passando frio ou fome", afirma.

A psicóloga Renate Vicente, especialista em Psicologia Ana­lítica, tem a mesma avaliação. Para ela, a busca pelo filho tomou conta do vazio que ficou com o desaparecimento dele. "Ela tem se relacionado com isso. A busca representa o filho, virou um jeito de viver", diz. Renate acrescenta que a mãe poderá mudar de opinião depois de um tempo, mas a reação de não acreditar no resultado do DNA leva a crer que a busca por Leandro e a esperança de encontrá-lo bem não serão interrompidas.

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