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Período

Grupo passará janeiro em acampamentos improvisados

A maioria dos índios encontrados pela reportagem se mostrou desconfiada com as perguntas. Joanice Pires de Lima, de 17 anos, foi uma das poucas que toparam dar entrevista. Ela conta que, como a grande maioria dos caigangues que estão na capital, veio de Nova Laranjeiras e passa o mês de janeiro vendendo cestas e pulseiras sentada debaixo de uma marquise no cruzamento da Rua XV com a Travessa Monsenhor Celso, no Centro de Curitiba. Uma cesta elaborada com taquara seca e colorida, feita por Joanice e outras duas índias, entre elas uma criança, custa R$ 15. Ela diz que as vendas pioraram em relação a outros anos, mas não detalha quanto e nem se a renda obtida compensa a viagem – uma passagem para Nova Laranjeiras custa R$ 82,67 pela viação Catarinense. Poucos dias depois da visita da reportagem, os índios foram retirados da rodoferroviária por fiscais. Alguns se realojaram próximo ao Viaduto do Capanema.

Todos os anos, durante o mês de janeiro, indígenas do interior do estado – mulheres, em sua grande maioria – vêm a Curitiba para vender artesanato. Com elas vêm também as crianças, que dormem em acampamentos improvisados, como o instalado debaixo do Viaduto do Capanema, no centro da cidade, e ficam sujeitas a situações de risco. "A região deles está saturada da venda de artesanato, então eles vêm para cá vender e ganhar um dinheiro extra. É uma questão de sobrevivência", diz o coordenador técnico regional da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Luiz Serpa Silvério.

A região da qual fala Silvério é o Centro-Sul do estado, onde está o posto indígena de Rio das Cobras, no município de Nova Laranjeiras. A maioria dos índios é da tribo Kaingang, e as crianças, segundo ele, acabam vindo junto por conta das férias escolares. O problema é que, nas ruas, elas ficam expostas a situações de risco. "A gente tenta sensibilizá-los, falar para que eles não tragam as crianças, mas eles têm o direito de ir e vir", constata Silvério.

O assessor para assuntos fundiários do governo estadual, Hamilton Serighelli, diz que alguns projetos estão sendo estudados em Nova Laranjeiras para cuidar da segurança das crianças. Um deles é um centro de atividades para ocupá-las no contra-turno – o que não resolve o problema das férias escolares. O outro é a construção de um centro cultural Kaingang na BR-277, onde o viajante poderia comprar o artesanato e comer a comida típica da tribo. Isso, segundo o assessor, potencializaria o comércio local e serviria de alternativa mais segura às barracas instaladas à beira da rodovia. "As crianças ficam correndo na rodovia, é muito perigoso". Além disso, Serighelli diz que também há um projeto sendo desenvolvido com o coordenador da Copa do Mundo no Paraná, Mário Celso Cunha, de fazer um espaço para que os índios vendam artesanato em Curitiba durante o mundial.

Outra iniciativa, esta na capital, também demora a sair do papel: a construção de uma casa de passagem para os índios. "O governo do estado nos concedeu um terreno na Vila Izabel para construir a Casa de Saúde Indígena, mas quando a Funasa [Fundação Nacional de Saúde] assumiu a saúde do índio, perdemos o direito do terreno na Funai", explica Silvério, que acrescentou que a Fundação está tentando ajustar o termo de concessão do terreno com a Assembleia Legislativa, mudando a descrição para a casa de passagem. "Enquanto isso não sai, não podemos fazer nada para ajudar os índios que vem para cá, até porque não temos recurso", justifica.

A Fundação de Ação Social (FAS) da prefeitura, por sua vez, informou que está discutindo ações integradas com o Ministério Público do estado e outras instituições, mas que a responsabilidade de resolver o problema é da Funai.

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