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Com tornozeleira eletrônica

Primeiros dias da cabeleireira Débora em casa com os filhos: “dormem agarradinhos”

Irmã de Débora Rodrigues relata como foi o reencontro da cabeleireira com os filhos pequenos após mais de dois anos de prisão. Na foto da direita, imagem de 2018. (Foto: Arquivo pessoal)

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Depois de ver a irmã Débora Rodrigues dos Santos enfrentar dois anos de prisão longe dos filhos por ter pichado, com batom, a estátua da Justiça, a técnica em enfermagem Cláudia Rodrigues comemora os primeiros dias de prisão domiciliar. “Minha mana está de volta [à sua casa], de onde nunca deveria ter saído”, relata em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.

Segundo ela, a família recebeu na sexta-feira (28), por volta das 18h, a notícia de que Débora deixaria a prisão. “Estávamos na casa da minha mãe, e foi um misto de sentimentos e sensações”, recorda, ao citar que a matriarca Maria de Fátima, de 71 anos, se ajoelhou agradecendo a Deus, enquanto os irmãos de Débora choravam e sorriam.

“E coincidiu do meu cunhado chegar com as crianças naquele momento, e nós agarramos meus sobrinhos falando que a mamãe deles ia voltar para casa.” De acordo com ela, a alegria dos pequenos Caio (10 anos) e Rafael (8 anos) foi imensa. “Começaram a chorar agarrados com o pai, que também se emocionou muito”, continuou Cláudia.

Mas a comoção, de acordo com ela, foi ainda maior no sábado (29), quando os meninos viram a mãe pela primeira vez fora da prisão, depois de dois anos. “Eles ficaram abraçados por muito tempo, sem crer que finalmente estavam juntos.” Depois, “tomaram café em um momento de muitos risos”.

De acordo com Cláudia, ela não pode falar a respeito de como foi a saída de Débora do Centro de Ressocialização Feminino de Rio Claro, em São Paulo, mas garante que o retorno da irmã para a residência da família, na cidade de Paulínia, foi muito especial. “Finalmente pude ver o sorriso escancarado de verdade naquelas crianças, coisa que já não víamos mais.”

“Finalmente pude ver o sorriso escancarado de verdade naquelas crianças, coisa que já não víamos mais.”

Cláudia Rodrigues, irmã da cabeleireira Débora Rodrigues, que ficou dois anos presa longe dos filhos por pichar, com batom, a estátua da Justiça

Ainda segundo ela, os sobrinhos brincaram e pularam no colo da mãe, e voltaram a “dormir agarradinhos” com Débora, que teve oportunidade de ajudar os meninos com a lição de casa, revisar suas mochilas, preparar o lanche e se despedir deles ao irem para a escola. “Parecem tarefas tão pequenas, mas significam muito para mãe e filhos.”

Além disso, Cláudia relata que Débora e o esposo Nilton Cesar dos Santos também tiveram momentos de carinho, e que “muitos vizinhos e amigos passavam em frente ao portão e buzinavam”, em manifestação de apoio e solidariedade.

“Estamos muito felizes e com o coração cheio de gratidão a Deus e a todos que nos ajudaram nessa etapa tão difícil de nossas vidas”, diz. “Ganhamos uma grande família.”

Adaptação à tornozeleira e às demais restrições

Apesar de estar em casa, Débora segue presa com uso de tornozeleira eletrônica, e isso chamou a atenção dos filhos. “As crianças olhavam [para o dispositivo eletrônico] e colocavam as mãozinhas”, relata Cláudia, que percebia o semblante preocupado dos meninos.

“Apesar de não entenderem muito bem o que é, sabem que não é bom pra mamãe”, comenta a técnica de enfermagem, ao afirmar que a família tentou explicar às crianças que o uso é temporário e “que logo a mamãe vai tirar”.

Ainda segundo Cláudia, a tornozeleira não apita, mas sinaliza se está com carga suficiente por meio de uma luz verde ou vermelha, o que faz com que Débora fique sempre olhando para o equipamento, com medo que descarregue.

Além do uso do dispositivo, a cabeleireira cumpre outras medidas cautelares, como proibição de conceder entrevistas e de usar mídias sociais. Ela também tem convívio permitido somente com seus advogados, esposo, filhos, mãe e irmãos, o que a impede de trabalhar ou receber outras visitas.

“É uma pena não podermos receber um pastor, por exemplo”, afirmou Cláudia, ao adiantar que a família realizará um encontro religioso na residência da irmã no próximo sábado para agradecer pela Débora estar novamente em casa. “Sabemos que foi a boa mão do Senhor que operou um milagre e que os planos dEle são maiores e melhores que os nossos”, disse.

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Relembre o caso da cabeleireira Débora Rodrigues

Débora Rodrigues passou dois anos na prisão após ter participado dos atos do 8 de janeiro e ter sido fotografada escrevendo, com batom, a frase “perdeu, mané” na estátua da justiça.

Ela foi presa em 17 de março de 2023, ficou mais de 400 dias encarcerada sem denúncia, e o ministro Alexandre de Moraes votou para condená-la a 14 anos de prisão, sendo 12 anos e meio em regime fechado, além da multa de R$ 30 milhões a ser paga por todos os condenados do 8/1.

O ministro Flávio Dino seguiu o entendimento do relator, condenando a mulher pelos crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, deterioração de patrimônio tombado, e dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União

No entanto, o julgamento foi interrompido por um pedido de vista (mais tempo para análise) do ministro Luiz Fux, que indicou revisão da dosimetria da pena proposta por Moraes.

Segundo especialistas entrevistados pela Gazeta do Povo, indivíduos que picham, grafitam ou sujam algum monumento costumam ser punidos com pagamento de cestas básicas, pois se trata de crime de menor potencial ofensivo.

A desproporcionalidade foi bastante criticada por autoridades, influenciadores e pessoas comuns durante o julgamento de Débora na última semana. Com isso, muitos começaram a divulgar mensagens de apoio à cabeleireira e aderiram ao movimento intitulado #SomosTodosDebora.

Na sexta-feira (28), uma semana após o voto de Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, recomendou a substituição da prisão preventiva por prisão domiciliar, ao menos até a conclusão do julgamento, e Moraes acatou o pedido.

Defesa solicitou nove vezes que Débora saísse da prisão

No total, a defesa já havia solicitado nove vezes a liberação da cabeleireira, principalmente pelo fato de ser mãe de duas crianças e poder aguardar sentença em casa, com seus filhos, como aponta o artigo 318 do Código de Processo Penal.

“Inclusive, em 2018, o STF concedeu Habeas Corpus coletivo [143641/SP] para favorecer todas as mulheres presas que se encontravam nessa situação”, informou o jurista Rodrigo Chemin, em reportagem da Gazeta do Povo. Durante dois anos, no entanto, a jurisprudência não foi aceita no caso, e a paulista ficou afastada dos filhos e demais familiares.

“Certamente não podemos recuperar o tempo que passou, mas podemos escrever uma linda história daqui para frente, repleta de amor e esperança”, finaliza a irmã Cláudia Rodrigues.

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