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Caymmi queria, e conseguiu, compor canções que chegassem a se confundir com músicas tradicionais, criadas pelo povo | Carlos Magno / AE
Caymmi queria, e conseguiu, compor canções que chegassem a se confundir com músicas tradicionais, criadas pelo povo| Foto: Carlos Magno / AE

Uma parada cardiorrespiratória calou às 6 horas de ontem a voz da Bahia. Submetido a internação domiciliar desde dezembro, com insuficiência renal e problemas cardíacos devido à idade, o cantor e compositor Dorival Caymmi morreu aos 94 anos em sua casa, em Copacabana, no Rio de Janeiro. O velório será realizado no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.

Considerado um dos maiores compositores da música popular brasileira, Caymmi gravou poucos discos em 60 anos de carreira, mas as versões de suas músicas se multiplicaram em quantidade incalculável na voz de outros intérpretes. Poucos conseguiram tantas obras-primas numa obra considerada pequena em quantidade. Sua marca registrada eram as canções praieiras e os sambas-canção.

A obra de Caymmi, concisa e rigorosamente autêntica, ajudou a construir não só a identidade baiana, mas também a brasileira. É o responsável, em grande parte, pela imagem que se tem hoje da Bahia. Caymmi conseguiu ainda em vida o que realmente pretendia: compor músicas de tal forma originais e familiares que chegassem a confundir-se com o cancioneiro popular, criado por anônimos. Quem, com mais de 30, embora sem saber o autor, já não cantarolou ou exclamou O que é que a baiana tem?. Quem já não tentou imaginar como É doce morrer no mar, ou ainda suspirou com Saudades de Itapoã?

Caymmi teve sua música O que é que a baiana tem? incluída no filme Banana da Terra, estrelado por Carmen Miranda, já que a empresa de cinema buscava uma música para substituir No Tabuleiro da baiana, de Ary Barroso, recusada devido ao alto cachê cobrado pelo artista mineiro. Em seguida a música O mar foi colocada em um espetáculo promovido pela então primeira-dama Darcy Vargas. Daí em diante o prestígio de Caymmi só cresceu. Outras de suas canções muito conhecidas são A lenda do Abaeté, É doce morrer no mar, Marina, Não tem solução, Maracangalha, Saudades de Itapoã, Lá vem a baiana, Oração da Mãe Menininha, Rosa morena, Eu não tenho onde morar, Santa Clara clareou.

A biografia

O pai, Durval Henrique Caymmi, funcionário público, tocava violão, bandolim e piano. Aos seis anos, o menino Caymmi começou a freqüentar a Escola de Belas Artes, no Colégio de Dona Adalgisa. Estudou depois no Colégio Batista e, em 1926, concluiu o curso primário no Colégio Olímpio Cruz, todos na capital baiana. No ano seguinte entrou para o então ginásio, mas abandonou a escola para trabalhar no jornal O Imparcial. Quando o jornal fechou, em 1929, ele teve que trabalhar como vendedor.

Em 1933, Caymmi começou a compor marchinhas e toadas, como No sertão, sua primeira composição. Em 1934, ele começou a ter aulas de violão com seu pai e com seu tio Cici. Em 1935, passou num concurso para escrivão da coletora estadual, cargo para o qual nunca foi nomeado. Foi nesse mesmo ano que ele começou a cantar, quando foi junto de seu primo Zezinho até a Rádio Clube da Bahia. Também em 1935, ele prestou o serviço militar.

Em 1937, Caymmi resolveu tentar a vida no Rio de Janeiro, viajando num ita, um pequeno navio de passageiros. Ele queria estudar jornalismo e trabalhar com desenho na então capital do país. Ele chegou a publicar seus desenhos na revista O Cruzeiro. Um amigo o apresentou ao diretor da Rádio Tupi, Teófilo de Barros Filho, que gostou da voz grave do jovem Caymmi e resolveu contratá-lo.

Em 1939, conheceu num programa de calouros na Rádio Nacional sua futura mulher, a cantora Stella Maris (cujo nome real é Adelaide Tostes), quando ela cantava Último desejo, música de Noel Rosa. Eles se casaram em 1940 e tiveram três filhos: Dinair (Nana), nascida em 1941, Dorival (Dori), nascido em 1943, e Danilo Cândido, nascido em 1948. Todos eles se tornaram nomes da música popular brasileira. Em 1943, Caymmi perdeu sua mãe, Aurelina Cândida Caymmi, a Dona Sinhá.. Nesse mesmo ano, passou a freqüentar o curso de desenho na Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro.

Em 1953, foi inaugurada em sua homenagem a praça Dorival Caymmi, em Itapuã, bairro de Salvador. Dois anos mais tarde, mudou-se com a família para São Paulo, lá vivendo por cerca de um ano e depois retornou ao Rio. Caymmi tem seis netos, Stella Teresa, Denise Maria e João Gilberto (filhos de Nana), João Vítor (filho de Dori) e Juliana e Gabriel (filhos de Danilo). Caymmi era amigo de outro baiano famoso: o escritor Jorge Amado, morto em 2001. Como eram parecidos fisicamente, os dois costumavam ser confundidos um com o outro por fãs.

Homenagens

Em 1968, ganhou do Governo da Bahia uma casa na Praia de Ondina. Em 1972, foi agraciado no Palácio do Itamaraty (Brasília) com a comenda da Ordem do Rio Branco, em Grau de Oficial. Foi também agraciado com a comenda da Ordem do Mérito da Bahia.

Em 1984, recebeu em comemoração ao 70º aniversário as homenagens de edição de um CD duplo e de um álbum de desenhos patrocinado pela Funarte (Rio de Janeiro), a outorga da comenda da "Ordre des arts et des lettres de France", a outorga da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho (Brasília), e a outorga do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia (Salvador).

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