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O arquiteto e urbanista Sérgio Povoa Pires, 55 anos, é designer de jóias, consultor de assuntos internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), inventor do poste de rua com inscrição em braile, mas, acima de tudo, um dos criadores do eixo de recreação da Avenida Arthur Bernardes. Pelo que estufa o peito. A grande praça linear de dois quilômetros, a serviço de pelo menos quatro bairros – Portão, Vila Isabel, Santa Quitéria e Água Verde – enche os olhos de quem passa e, como nada é perfeito, também os ouvidos e os miolos. Hoje, a Arthur é um trecho apinhado de carros, o que deve ter intimidado a moçada que nos idos de 80 e 90 lotava o parque nos fins de semana para animadas peladas. Mas nada que roube o sono de Póvoa, um sujeito que se orgulha de ter aberto caminhos para sua excelência, o pedestre.

"Os anos 70 foram muito criativos", repete a torto e direito o profissional que mal tinha acabado a faculdade quando conseguiu um estágio com Lauro Tomizawa. Era 1975, os "jardins ambientais" não estavam nos planos e o mestre Lauro estava às voltas com que considera sua obra mais importante: o ônibus Expresso, assinado com o colega Chirochi Shimizu. Mas quis o destino que ambos tivessem seus dias de meninos do dedo verde.

Sérgio lembra que projetar praças e jardins era quase uma regra para os urbanistas. Não à toa, surgiram espaços coletivos para todos os gostos: os canteiros laterais da Avenida Manoel Ribas e da região do Jardim das Américas, aos cul-de-sac – jardins do meio de ruas sem-saída, e, claro, os jardins ambientais e os eixos de animação – a exemplo também do da Avenida Wenceslau Braz, com 2,5 quilômetros, assinado por Nereu Barão. Por ironia, a matriz desse ideário, as praças da Rua Frei Orlando, no Tarumã, não vive seus melhores dias. A área não ganhou a chancela de jardim ambiental e tem parte de sua extensão degradada, na altura das ruas Olga de Oliveira Lima e Dr. João Espíndola.

"Tenho impressão que a gente disputava quem ia fazer o melhor projeto. Várias vezes conseguimos com que o dinheiro do asfalto fosse gasto na construção de canteiros", lembra. Para Sérgio, não se pode menosprezar o poder de uma praça. É como dizer para o cidadão que ele deve calçar um tênis e vir – que não precisa ser sócio de um clube. "Não pensávamos em violência. A gente queria se divertir. Hoje, mudou. É outra realidade. Temos de reconhecer que Curitiba já não é tão boa em muita coisa. É o caso do trânsito", comenta o homem para quem – lamentavelmente – o shopping center ocupou o lugar do jardim ambiental.

Para não ficar no chororó dos tempos idos, Sérgio Pires sugere medidas ao alcance de todos. A primeira é andar a pé – de preferência com passagem pela Avenida Arthur Bernardes, uma espécie de cria que ele lambe sempre que pode. Depois é levar visitantes a lugares que um dia fizeram da cidade um lugar diferente de todos os outros: o terminal para deficientes no Cristo Rei; o ateliê de escultura de Elvo Benito Damo, no Parque São Lourenço. E à Rua Schiller, é claro. Ele avisa que a filosofia é a mesma: garantir para o pedestre todo o espaço que puder. (JCF)

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