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Como a mãe de primeira viagem ainda se recuperava da cesariana, coube ao pai a tarefa de dar o primeiro banho de Natália. Durante cinco dias, o trabalho doméstico também foi todo dele. O motorista Fernando Alexandro Jurado, de 37 anos, teria feito mais não fosse a necessidade de voltar a trabalhar. Ele é um dos homens que defendem a ampliação da licença-paternidade, como pretende a campanha "Dá Licença, Eu Sou Pai!", que será lançada na terça-feira (4) em São Paulo.

A iniciativa é da Rede de Homens Pela Eqüidade de Gênero - formada por organizações sociais de defesa dos direitos humanos - e tem o objetivo de provocar a discussão do assunto. Atualmente, pelo menos dois projetos de lei tramitam na Câmara e no Senado pedindo a ampliação dos atuais 5 dias de licença para pelo menos 15 dias. "Os homens também querem se envolver mais com os cuidados dos filhos, independentemente da classe social", afirma a socióloga e pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Sandra Unbehaum.

Jurado é um exemplo disso. Ele sabe que nem todo homem pensa como ele, mas conhece pelo menos um amigo que também se dedicou integralmente aos cuidados do filho recém-nascido. "Ele é como uma mãe para a Natália", garante sua mulher, Íria Machiniski, de 29 anos.

O motorista não esconde a satisfação de assumir esse papel. "A Íria teve complicações após o parto e passou quatro dias internada para se recuperar. Ela parou, mas a casa continuou funcionando", diz. Mesmo assim, diz ter ficado agoniado por ter de voltar ao trabalho e não poder ficar em casa acompanhando a filha. "Seriam necessários pelo menos 15 dias", diz.

Ele não é o único a pensar assim. Um levantamento realizado no Recife, entre maio e junho deste ano, pela Universidade Federal de Pernambuco e Instituto Papai, demonstra que os homens querem a ampliação do período de licença-paternidade. Para 78% dos entrevistados, os cinco dias são insuficientes para acompanhar os primeiros dias do filho e dar suporte às mães. "Essa pesquisa levanta a questão sobre o que o homem faria se tivesse esse período ampliado", diz Jorge Lyra, coordenador do Instituto Papai.

A resposta dada pelos homens contrapõe o senso comum de que a maioria desperdiçaria esse tempo com o descanso e deixaria a tarefa de cuidar dos filhos continuar a cargo da mulher. Para 29% dos entrevistados, a licença seria utilizada para ajudar a mãe; 19%, para cuidar do filho; 37%, para ajudar a mãe e cuidar do filho. Só 12% dos homens deram outras respostas e 3% não opinaram.

O desconhecimento dos trabalhadores, porém, ainda é grande. A mesma pesquisa revela que 76% dos homens ouvidos conhecem a licença-maternidade, mas apenas 66% sabem sobre a paternidade.

"A campanha é para provocar o debate e reforçar a importância dos projetos de mudança na lei", diz Sandra. "Ainda existem questões a serem resolvidas, como quem vai custear essa licença maior, a empresa ou a Previdência? Mas, sempre há um meio termo."

Para alguns funcionários públicos, isso já é realidade. Na própria Fundação Carlos Chagas, onde Sandra trabalha, os homens têm o direito garantido. O "meio termo" encontrado foi, além dos cinco dias, conceder outros 15 dias livres por meio período. Os funcionários públicos do Rio e de Pernambuco também têm o mesmo período de licença. Os 15 dias, no entanto, são integrais.

PAPEL MATERNO

Segundo a psiquiatra infantil e coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência (Cria) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Vera Zimmermann, a presença paterna nos primeiros meses de vida de uma criança ajuda o fortalecimento da saúde mental do recém-nascido. "O importante é que seja feito o papel materno, e isso pode ser feito também pelo homem", diz.

Para Lyra, da forma como a lei está hoje, o que pode parecer um privilégio para as mulheres é, na verdade, mais uma forma de desigualdade de gênero. "Há uma disparidade muito grande entre as licenças e, entre outras coisas, isso acaba por fragilizar a condição da mulher no mercado de trabalho", diz. "Nossa meta é termos um dia a licença parental (para pais e mães e de igual período )."

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