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O namorado de Sílvia (nome fictício), 14 anos, prometeu registrar a filha. História da adolescente lembra a da mãe, Andréia | Roberto Soares/Gazeta do Povo
O namorado de Sílvia (nome fictício), 14 anos, prometeu registrar a filha. História da adolescente lembra a da mãe, Andréia| Foto: Roberto Soares/Gazeta do Povo

Histórias de adolescentes se repetem

Silvia (nome fictício) mora em Ponta Grossa, tem 14 anos e está grávida do segundo filho. Ela foi mãe ainda aos 12 anos. O pai, um namorado de escola da mesma idade, não quis reconhecer o filho, que hoje está com 1 ano e 1 mês de idade. O garoto foi registrado só no nome da mãe depois de três meses de vida e só porque precisava ser internado para uma cirurgia de hérnia, já que o hospital exigia o documento.

A mãe adolescente engatou outro romance e, semanas depois de dar à luz ao menino, engravidou do segundo namorado, de 21 anos. A menina que está esperando deve nascer nas próximas semanas. O namorado prometeu que irá registrar a filha.

Silvia parece reviver sua própria história. Quando nasceu do relacionamento entre sua mãe – a diarista Andréia Aparecida Zavolski Leiria, 35 anos – e o namorado dela na época, não foi reconhecida. O pai foi embora para Curitiba. Andréia só o viu novamente quando Silvia tinha oito dias de vida. "Cheguei de surpresa na casa dele em Curitiba e descobri que era o dia do seu noivado", afirma. Andréia voltou desapontada para Ponta Grossa e nunca mais procurou o ex-namorado. A diarista teve mais três filhos, todos de pais diferentes, porém registrados. "Só recebo pensão de um deles", afirma. Segundo ela, o incentivo da Justiça, através da campanha de Paternidade Responsável do Conselho Nacional de Justiça, pode ajudar muitas famílias. (MGS)

  • Veja como funcionará o CNJ

Ponta Grossa - Programas já desenvolvidos em estados como Santa Catarina e São Paulo poderão ser expandidos para o país através do programa Paternidade Responsável, que prevê o reconhecimento paterno na certidão de nascimento. A iniciativa da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ainda depende de ajustes, mas a campanha deve ser lançada ainda neste semestre. A intenção é mudar a realidade de 9,21% dos estudantes brasileiros que não têm o nome do pai no documento. Mais que um sobrenome, a campanha busca incentivar laços afetivos e o pagamento de pensão alimentícia a essas crianças e adolescentes.

Segundo dados do Censo Escolar de 2009, feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), dos 52,5 milhões de alunos da educação básica, 4,8 milhões não declararam o nome do pai nas fichas escolares. O CNJ pretende firmar uma parceria com os Tri­­bunais de Justiça dos estados pa­­ra chegar a essas famílias. As mães serão identificadas por meio das escolas para comparecer aos fóruns. Depois de aceitarem ao convite, elas terão de indicar o su­­posto pai. Ele, então, será intimado a ir ao Fórum e iniciar o processo de reconhecimento paterno. Se houver dúvidas, o suposto pai pode pedir exame de DNA, que será providenciado pela Jus­­ti­­ça. Hoje muitos processos estão parados porque os interessados não têm dinheiro para pagar o exame, que custa em média R$ 350.

O trabalho de reconhecimento paterno existente no Paraná está pulverizado entre o Ministério Público – através da Promotoria das Comunidades, que tenta identificar os registros irregulares e iniciar o processo de reconhecimento paterno – e as Varas de Família. A Promotoria das Comunidades estima que 8% das crianças de Curitiba não são assumidas pelo pai. "Dentro dessa ideia do CNJ, mais importante que o auxílio material que se possa ter é também o apoio afetivo e a criação desse vínculo entre pai e filho", lembra Olympio de Sá Sotto Maior Neto, procurador-geral do Mi­­­nis­­tério Público Estadual.

Laboratório

Uma novidade que animou os profissionais que atuam no reconhecimento paterno no estado foi a assinatura de um termo de cooperação entre o governo estadual e a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para a instalação do Laboratório de Paternidade. O termo foi assinado em setembro do ano passado e prevê a liberação de R$ 1,9 milhão para a infraestrutura e R$ 216 mil para recursos humanos. O laboratório, que ainda nem começou a ser construído, vai atender inicialmente 2 mil exames de DNA de casos que estão à espera de julgamento na Justiça paranaense. A expectativa da coordenação do laboratório, no câmpus da UEL, é de que as obras comecem em março e o serviço esteja em funcionamento antes do fim do ano.

Em Santa Catarina, a Vara da Fazenda Pública da comarca de Lages lançou o programa Paternidade Responsável em julho de 2003. Um ano depois, era constituído o Instituto Paterni­­dade Responsável. Ele desenvolve ações nas escolas, para identificar registros irregulares e incentivar uma cultura de paternidade responsável.

Já em São Paulo, 102,7 mil mães já foram notificadas a comparecer aos fóruns de suas cidades para iniciar o processo de reconhecimento paterno. Entre os anos de 2008 e 2009 foram feitos 4,5 mil reconhecimentos e outros 4,6 mil homens pediram a realização de exames de DNA. A dificuldade encontrada no estado vizinho, segundo informações do Tribunal de Justiça, é que muitos pais já haviam falecido. Outro problema foi o fato de as mães não saberem identificar os pais dos filhos.

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