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Hamilton Moreira e sua equipe: desconhecimento da população provoca queda nas doações | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Hamilton Moreira e sua equipe: desconhecimento da população provoca queda nas doações| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Hoje é o Dia Mundial da Visão, mas os 26.031 brasileiros que estão à espera de um transplante de córnea não têm muitos motivos para comemorar a data. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o número de cirurgias diminuiu no país em relação ao ano anterior. Em 2007 foram 9.940 procedimentos (média de 828,33 por mês), enquanto neste ano, até agosto, foram feitos 4.198 transplantes (524,75 por mês, em média). No Paraná, onde 1.578 pessoas estão na fila, a média subiu: 81,75 cirurgias, totalizado 654 nos oito primeiros meses de 2008, contra 77 procedimentos por mês em todo o ano passado, somando 924.

Para tentar pôr fim ao sofrimento dos pacientes que aguardam uma córnea, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o Banco de Tecidos Oculares do Hospital de Clínicas, o Hospital de Olhos do Paraná e a Liga dos Acadêmicos de Oftalmologia lançam hoje, em Curitiba, uma campanha para conscientizar a população da importância da doação. Residentes de Oftalmologia distribuirão folhetos na Boca Maldita durante todo o dia para explicar como é o procedimento de um transplante e derrubar alguns mitos que impedem a doação. Equipes vão aos hospitais da cidade para conversar com médicos e outros profissionais da saúde para que eles ajudem a esclarecer as famílias e assim aumentar o número de transplantes no estado.

De acordo com o presidente do CBO, Hamilton Moreira, a queda se dá principalmente devido ao desconhecimento da população em relação à doação de córnea. "Apenas 10 % das famílias que perdem alguém aceitam doar. Esse porcentual sobe para 40% somente quando fazemos alguma campanha", diz o médico.

A córnea é um tecido transparente na parte anterior do olho que funciona como uma lente, permitindo a passagem da luz. Não tem irrigação sanguínea, e o procedimento de retirada é simples. "Não deforma nem altera o globo ocular do doador", explica Moreira. "A família não precisa se preocupar com a aparência da pessoa morta, pois não muda em nada."

A estudante Mahyara Oliveira dos Santos, de 12 anos, mora em Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, e há pouco mais de um ano veio para a capital fazer um transplante. Aos 9 anos sua professora percebeu que ela tinha dificuldades para enxergar e a encaminhou para um oftalmologista. A menina, que perdia a visão gradativamente devido ao ceratocone – deformidade na córnea que deixa o olho em formato cônico –, tentou outras alternativas de tratamento que não tiveram sucesso. Ela não enxergava as pessoas próximas e batia em objetos dentro de casa. "Eu estava muito triste. Ia para a escola e tinha que sentar muito pertinho do quadro", conta Mahyara.

Ela esperou por mais de um ano na fila do transplante. Após a cirurgia, voltou a enxergar normalmente em três dias. "Meu médico diz que minha visão está cada dia melhor. Estou muito feliz, porque agora eu consigo ver as letrinhas bem pequenas", diz a estudante.

A córnea pode ser doada por qualquer pessoa, entre 2 e 80 anos, que não tenha morrido por infecção, como hepatite e aids, por exemplo. Após o falecimento, a córnea resiste até seis horas antes da cirurgia. Para conseguir o órgão, uma equipe de abordagem entra em contato com as famílias nos hospitais e explica o procedimento. "É tudo muito simples, mas as equipes não têm como conversar com todas as famílias e, mesmo assim, muitas delas não aceitam", diz Moreira.

Segundo ele, o ideal é que as pessoas se conscientizem sobre a importância da doação e avisem seus parentes que gostariam de doar. "Deixar registrado em cartório não adianta, porque na hora é uma decisão familiar. Por isso quem quer ajudar uma outra pessoa a enxergar deve deixar a família avisada", pede o médico.

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Serviço

Para doar a córnea é só entrar em contato com a Central de Doação de Córnea, em até seis horas após a morte do doador, pelo telefone (41) 3233-0014.

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Interatividade

Você pretende doar suas córneas? Já avisou sua família sobre essa decisão?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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