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Pesquisa, ensino e extensão são o foco das universidades desde o século 19, mas há discordâncias. Alguns especialistas defendem mudanças, enquanto outros alegam que esse tripé ajuda no desenvolvimento regional | Mauricio Lima/AFP
Pesquisa, ensino e extensão são o foco das universidades desde o século 19, mas há discordâncias. Alguns especialistas defendem mudanças, enquanto outros alegam que esse tripé ajuda no desenvolvimento regional| Foto: Mauricio Lima/AFP

Da qualificação profissional à melhoria no Ideb

Dos oito câmpus de universidades federais criados no Paraná desde 2003, cinco foram visitados pela Gazeta do Povo na última semana. Por se tratarem de projetos recentes, ainda é difícil medir os impactos do surgimento da primeira ou de uma nova instituição de ensino superior na cidade, mas há uma onda de otimismo em relação aos resultados.

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Zona de impacto

Embora a dimensão do impacto trazido pela instalação de uma universidade possa ser maior ou menor, em geral, alguns fatores estão sempre presentes. Veja os principais:

Inovação

cidades que ainda não têm instituição de ensino superior estabelecida tendem a sofrer um impacto maior com a criação de um câmpus do que as que já têm uma rede estabelecida. Mesmo assim, os efeitos são sempre positivos.

Economia

primeira área do município a ser impactada. Primeiro surgem os reflexos dos investimentos diretos do governo federal, com o repasse de recursos e a abertura de vagas para a construção do câmpus. Na sequência, há as contratações de professores e funcionários. Por último, a economia da cidade é movimentada pelos próprios estudantes, que em parte também são vindos de outras regiões.

Comunidade

a produção de pesquisas pela universidade geralmente tem um impacto na comunidade, já que muitos estudos se focam em problemas da população e envolvem parcerias.

Cultura

a instalação de uma universidade costuma movimentar a vida cultural das cidades. A comuni­dade passa ter acesso à biblioteca da instituição e com isso tem mais um espaço de desenvolvimento cultural. Também são promovidas várias atividades, como festivais de música e teatro.

Futuro

a formação de mão de obra qualificada terá reflexos futuros em diversos setores da cidade. As escolas da região, por exemplo, terão professores mais preparados; as empresas terão administradores com maior visão, e assim por diante. Tudo isso terá reflexos no desenvolvimento econômico, social e cultural da região.

Fonte: Professora Maria Amélia Sabbag Zainko, pró-reitora da UFPR, e Gustavo Balduino, secretário executivo da Andifes.

Em menos de dez anos, o número de câmpus das universidades federais praticamente dobrou no Brasil, passando de 148, em 2003, para 274, neste ano. O Paraná foi um dos estados mais beneficiados pela expansão da rede: ao lado de São Paulo, é o terceiro estado que mais recebeu unidades federais de ensino superior. Oito novas se somaram às 12 já existentes. Só Rio Grande do Sul, que tinha 16 câmpus e recebeu mais 18, e Minas Gerais, que tinha 21 e agora soma 33, tiveram expansão maior.

Observando o desempenho por regiões, Sul e Nordeste foram as mais favorecidas. Juntos, os três estados do Sul receberam 30 unidades federais. Já o Nordeste concentrou quase um terço das novas instituições: foram 42 câmpus – um crescimento acentuado, considerando que até 2003 a região tinha 30 sedes de universidades federais.

Do lado oposto estão estados que viram sua rede crescer muito pouco no período. Os piores casos são os de Goiás e Amapá, que não tiveram nenhum câmpus federal criado desde 2003. Rondônia, Acre e Roraima, todos no Norte, tiveram a abertura de apenas uma nova sede, mesma situação vivida pelo Espírito Santo (veja o quadro).

Avaliação

Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo concordam que a expansão observada no período foi expressiva e importante, mas ressaltam que o número de universidades federais ainda está longe de atender às necessidades do país. "Se consideramos as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Educação, que ainda está vigorando, teríamos de ter 30% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos no ensino superior. A nossa taxa líquida, porém, é de 12,9%", ressalta a professora Maria Amélia Sabbag Zainko, pró-reitora de Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenadora de projetos no Observatório de Educação Superior.

Maria Amélia lembra ainda que a expansão da rede federal não se limita à criação de novos câmpus. Também é preciso abrir vagas e cursos nas sedes já existentes. Na UFPR, desde 2009, foram 1.439 vagas abertas em cursos presenciais, além dos cursos à distância.

Impacto

Não há unanimidade, porém, quando o assunto é o impacto decorrente da expansão da rede federal no Brasil. O professor Valmor Bolan, doutor em So­­ciologia, conselheiro da Orga­nização Universitária Interame­ricana no Brasil e membro da Comissão Ministerial do ProUni, considera equivocado o modelo de universidade que continua a ser implantado no país, o que comprometeria os resultados do crescimento da rede. "A implantação de universidades federais deveria obedecer a um plano nacional de inclusão da juventude no ensino superior. Mas não é isso que se vê. Ainda se alimenta uma visão de universidade que provém do século 19, que é aquela focada em ensino, pesquisa e extensão."

Para incluir os mais pobres no ensino superior, o professor defende a criação de universidades que atendam de forma pontual às demandas das diferentes regiões do país. "O governo precisa ouvir a classe produtora e ver o que ela necessita. Um curso não precisa ter quatro anos para ser bom. Por que não criarmos cursos mais curtos e aplicados?", questiona.

A professora Maria Amélia tem uma visão diferente. Para ela, a universidade pública do Brasil está, sim, comprometida com a inclusão social e com o desenvolvimento regional. "Hoje, a universidade se aproxima mais da sociedade, repensa seu papel, se colocada na perspectiva de fazer ensino, pesquisa e extensão com qualidade. E a pesquisa desenvolvida na faculdade tem o objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população."

Gustavo Balduino, secretário-executivo da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), ressalta que em todos os câmpus criados nos últimos anos houve a preocupação de criar cursos que atendessem à vocação natural da região. "Em áreas agrícolas, como exemplo, os cursos criados foram de Agronomia e Veterinária. Essa conexão com as necessidades da comunidade é fundamental, até porque uma universidade naturalmente induz ao desenvolvimento." O secretário ressalta que a expansão precisa continuar e que tão importante quanto esse avanço é a consolidação da rede já existente.

Interatividade:

De que forma novos pólos universitários podem afetar o cotidiano da sociedade? Como você classifica o ensino oferecido nas instituições?

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