• Carregando...
Foto enviada por leitor mostra caminhão retirando água de córrego em Curitiba | Leitor/Arquivo pessoal
Foto enviada por leitor mostra caminhão retirando água de córrego em Curitiba| Foto: Leitor/Arquivo pessoal

Vazão

Retirada excessiva de água pode trazer prejuízos ambientais

Captar água dos rios acima do limite permitido pode, sim, trazer prejuízos ambientais, conforme explica o doutor em Química Ambiental e professor da UFPR Marco Tadeu Grassi. Segundo ele, a captação excessiva pode mexer com a vazão dos rios e agravar problemas de falta de água em caso de estiagem, além de aumentar o nível de contaminação, já que com pouca água os poluentes ficam menos diluídos, comprometendo todo o ecossistema. "Se o poder público diz que não tem problema, acho que está assumindo uma postura irresponsável e condenável. A retirada de água tinha que ser muito disciplinada e deveria haver esforço para a fiscalização. Estamos tratando os nossos recursos hídricos, principalmente nas regiões urbanas, com muito descaso."

Outro problema seria a forma como a água é captada. "É como explorar areia, a draga faz sucção e se a dragagem não for de maneira adequada e produzir buracos, a dinâmica do rio é alterada, pode impactar as margens, reduzir lençol freático", exemplifica Nivaldo Rizzi, doutor em Engenharia Ambiental pela Universidade de Cantabria, na Espanha.

Tarifa

A situação é relativizada por Cleverson Andreoli, doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UFPR. Ele diz que a água da Sanepar já é muito barata, então ficaria mais barato usar água da torneira do que buscar em rios com caminhão. A tarifa mínima das casas para 10 mil litros de água e esgoto é de pouco mais de R$ 40 mensais. "Parece que não há tendência de agravamento dessa situação, porque o transporte por caminhão é mais caro".

Todos os dias, um caminhão-pipa com capacidade para 7 mil litros estaciona ao lado de um pequeno córrego no bairro Pilarzinho, a duas quadras da Universidade Livre do Meio Ambiente, em Curitiba, e enche o compartimento traseiro com água. A empresa dona do veículo é contratada pela Sanepar para uma obra de colocação de tubos de esgoto no Juvevê e usa a água para fazer perfuração por pressão.

O fato corriqueiro, que também ocorre em outros cursos d’água da cidade e tendo empresas similares como protagonistas, acende a discussão sobre a utilização da água de rios e córregos urbanos. O Instituto das Águas do Paraná (Aguasparaná), responsável por conceder as outorgas de captação, já liberou 25 mil permissões de uso da água a empresas ou pessoas do estado, além de outras 1,2 mil dispensas de outorga para a retirada de quantidades menores, de até 1,8 mil litros por hora (ou 43 mil litros ao dia). Ao mesmo tempo, o instituto reconhece que não consegue fiscalizar se todos estão respeitando os limites impostos. "Tem gente fazendo isso que nós não sabemos, é impossível fiscalizar todo mundo", constata Norberto Ramon, diretor de Recursos Hídricos.

Apesar de ainda aguardar uma licença de dispensa de outorga para captação, o simples fato de ter entrado com um protocolo com essa solicitação no Aguasparaná bastou à empresa citada no início da matéria para autorizá-la a fazer a operação, enquanto aguarda a análise do documento.

Para retirar água de um rio sem prejuízo é preciso respeitar a sua curva de permanência – que é a metade do menor volume hídrico já registrado em 95% das vazões analisadas. Esse seria o limite para manter o ecossistema funcionando. No caso de rios urbanos, o limite é determinado por uma média das vazões dos cursos d’água da região. Não há, portanto, limites específicos para cada rio. A mesma regra vale para rios com maior ou menor vazão.

Norberton Ramon afirma que a retirada sem medida de água dos rios urbanos não é preocupante. "Não tem prejuízo do ecossistema, até porque normalmente a qualidade da água não é boa. Olhamos com olhar menos crítico com relação a isso porque não afeta ambientalmente", explica. Ele diz que prefere imaginar que as empresas respeitam o limite de 43 mil litros por dia.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]