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Ponta Grossa – A passagem de uma carga de 411 toneladas por uma das pontes sobre o rio Capivari, na véspera do desmoronamento, reforça a tese de quem contesta o laudo que aponta o excesso de chuvas como o único fator que motivou a tragédia. A carreta transportava uma peça para a Usina de Itaipu e usou a ponte no sentido Norte-Sul. A estrutura que desmoronou é a que liga o Paraná a São Paulo, no sentido Sul-Norte. Contudo, o mesmo barranco dá suporte a ambas as pontes e foi o deslizamento de terra dele que provocou a queda. Tanto que a ponte que permanece intacta precisou receber reforço na base. "Eu não chamaria de coincidência", afirma o geólogo e coordenador do Setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná, Mauro Lacerda.

Problemas no sistema de drenagem e falta de manutenção seriam os demais ingredientes para comprometer a estrutura. Para Lacerda, a relação com a passagem da peça estaria descartada se a ponte tivesse simplesmente ruído. O professor lembra que pesos acima de 400 toneladas extrapolam o limite de qualquer estrada. "Essa sobrecarga brutal pode ter sido um detonador", explica. Como o terreno já estava em movimento, o excesso de peso seria um agravante. "Não dá para aceitar que foi só a chuva. No ano anterior, exatamente no mesmo dia, havia chovido 85 milímetros e nada aconteceu", disse. De acordo com o DNIT, no dia do desmoronamento, choveu 83 mm – muito acima do previsto pelo projeto do aterro – e o excesso não teria sido suportado. Para o coordenador do Centro de Apoio Científico em Desastres da UFPR, Renato Eugênio de Lima, todos os aspectos precisam ser analisados. "Aumentar a carga pode acelerar ou detonar um movimento geológico", reconhece. O DNIT informa que as pontes sobre o rio Capivari foram projetadas para suportar caminhões de até 36 toneladas. A estrutura, porém, pode receber cargas mais pesadas, pois o projeto de execução adota margens de segurança. Não é possível mensurar qual a capacidade absoluta da estrutura. A situação no local era tão temerária que, depois do acidente, o DNIT proibiu o tráfego de caminhões com mais de 45 toneladas na ponte que restou. Mais tarde, o trânsito de bi-trens, com até 57 toneladas, foi liberado. A intenção do DNIT é continuar fiscalizando os excessos de carga na ponte. O coordenador do órgão no Paraná, David Gouvêa, deve viajar nesta semana a Brasília para garantir a renovação do contrato de operação das balanças rodoviárias instaladas na BR-116 após a queda da ponte. O convênio está expirando. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, a existência das balanças é a garantia de que a ponte que não caiu não receberá uma sobrecarga.As chamadas cargas especiais só são autorizadas após estudos de impacto. Um é realizado antes, para avaliar a viabilidade, e outro é feito depois, para saber se a estrutura não foi comprometida. Apesar da insistência da Gazeta do Povo, a assessoria nacional do Dnit não liberou cópias da documentação e nega que a locomoção da peça tenha sido autorizada. Contudo, a Polícia Rodoviária Federal confirmou que fez a escolta da carreta na BR 116 – passando pela ponte – e três concessionárias de rodovias reiteram que a carga passou pelo estado.§ Katia Brembatti

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