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Governo destinou 31 veículos para o transporte dos sem-terra até o Parque de Ñacunday. Retirada deve ser concluída até quarta-feira | Christian Rizzi / Gazeta do Povo
Governo destinou 31 veículos para o transporte dos sem-terra até o Parque de Ñacunday. Retirada deve ser concluída até quarta-feira| Foto: Christian Rizzi / Gazeta do Povo

ÑACUNDAY, Paraguai - Os 7,5 mil sem-terra paraguaios acampados há quase um mês numa extensão de oito quilômetros sobre as propriedades do grupo do produtor de soja brasileiro Tranquilo Favero começaram ontem a desocupação pacífica das terras no município de Ñacunday, a 85 quilômetros de Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná. A transferência para uma área de 400 hectares do Parque Nacional de Ñacunday teve de ser adiada no sábado por causa da chuva e da dificuldade de se transitar nas estradas de terra.

A desocupação foi decidida em negociações com representantes do governo. A última conversa aconteceu sábado no acampamento. O governador de San Pedro, José "Pakova" Ledesma, chegou com 19 caminhões das Forças Armadas e cinco da Polícia Nacional. Outros sete veículos do Ministério de Obras que seriam usados no transporte dos sem-terra aguardavam uma trégua do mau tempo.

Representando o presidente Fernando Lugo, Ledesma garantiu aos sem-terra que a trans­­ferência é uma medida temporária, até que a Justiça com auxílio do Instituto Na­­cio­­nal de Desen­­volvimento Ru­­ral e da Terra avalie uma suposta apro­­priação ilegal de 70 mil hectares hoje explorados pelo Grupo Favero. "É preciso que vocês permaneçam unidos porque a luta será longa e dividida em várias partes", disse em apoio aos ‘carperos’, como são chamados os sem-terra que vivem em carpas e barracas. A mudança para o parque deve ser concluída até quarta-feira.

Oficiais do Exército disseram que estavam no local para organizar a transferência não com o objetivo de cumprir uma ordem judicial de reintegração de posse, mas uma determinação do governo a pedido dos ‘carperos’. "Agora estamos bem próximos de conseguir o que há tempos estamos reivindicando e que sabemos ser de nosso direito. No Parque [Nacional de Ñacunday] estaremos bem melhor que aqui e logo o governo prometeu dividir as terras, construir nossas casas e ajudar quem quer plantar", disse o líder dos sem-terra, Victoriano López.

Por enquanto, garantiu López, apenas um terço dos sem-terra montará acampamento na área. "Os outros vão aguardar uma nova liberação de terras por parte do governo", comentou lembrando que a região abriga uma área de quase 168 mil hectares nos estados de Alto Paraná e Itapúa que teriam sido invadidas ilegalmente por estrangeiros, em especial brasileiros, ainda em 1890.

Irregularidades

"O discurso do Victoriano [López] é de legalidade e de direitos. Na verdade muitas pessoas que vieram para cá estão sendo usadas e não é para conseguir terra", de­­nuncia um carpero. "Para fi­­car no acampamento, cada família tem que pagar R$ 50 por semana. Muitos venderam casa, carro e o que tinham para poder ficar aqui, sem garantia nenhuma. Mas, se alguém reclama, ele diz: ‘se não está contente, vá embora’. Estão se aproveitando para ga­­nhar dinheiro."

Para um dos advogados do Grupo Favero, Guillermo Du­­arte, a remoção não resolve a situação, já que a reserva para onde os sem-terra foram transferidos fica dentro da área reivindicada e é vizinha às propriedades do grupo. Duarte comentou ainda que apesar de o presidente Lugo garantir que fará o possível para evitar confrontos entre brasileiros e paraguaios, medições judiciais que estavam suspensas serão retomadas nos próximos dias. O impasse se acirrou justamente quando o governo determinou que o Exército fizesse marcações na área em conflito.

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