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Vídeo:| Foto: Reprodução RPC TV

Agora já é possível fazer churrasco sem carregar na consciência o peso de usar carvão produzido às custas da mão-de-obra infantil ou da poluição ambiental. As carvoarias, em geral associadas ao trabalho de crianças e a fornos cuspindo densas nuvens de fumaça, estão ganhando cara nova devido às mudanças climáticas do aquecimento global. No Brasil, as inovações chegaram antes ao Paraná, a começar pela fachada do negócio. Quem passa pela PR-506 em Campina Grande do Sul, na região metropolitana de Curitiba, nem se dá conta de que a menos de mil metros do Hospital Angelina Caron são produzidos 1.700 metros cúbicos de carvão por mês (o equivalente a 42,5 caminhões). Pudera, ali pouca coisa lembra uma carvoaria convencional.

Os fornos "rabo-quente", de tijolo e barro, deram lugar a substitutos modernos, de chapas de aço. Os novos produzem dez vezes mais. Não só isso. O tempo de cada fornada é menor. Enquanto o convencional precisa de sete dias para carbonizar a madeira e três para esfriar, o novo faz tudo isso em dois dias. A grande novidade, porém, está no mecanismo que retém a poluição. Os 12 fornos estão sob um barracão de mil metros quadrados e, em vez de chaminés, têm um buraco no chão, interligados por um duto subterrâneo que conduz a fumaça até uma câmara especial, com paredes de 70 centímetros de espessura.

Um exaustor puxa a fumaça dos fornos, passando pelos dutos até a câmara, onde a temperatura chega a 1.200° C por causa do contato dos gases tóxicos com uma chama mantida sempre acesa. Ali, a fumaça é queimada até restar quantidades mínimas de gás carbônico e vapor d’água. É isso que sai pela única chaminé do complexo. Nem parece carvoaria, tanto que a vizinhança nunca reclamou. De um lado fica uma indústria de alimento e de outro, uma fábrica de verniz. Mais adiante está o hospital.

A idéia de criar a carvoaria ecologicamente correta foi do advogado Bruno Hatschbach e do quase médico Guilherme Buso Bazzo, que há seis anos largou o curso de Medicina para fazer o que mais gostava: lidar com reflorestamento. Eles deram sorte de encontrar o consultor do Sebrae Nelson Saito, que fez o projeto de viabilidade econômica e o apresentou à organização não-governamental E+Co, dos Estados Unidos. Bateram na porta certa. A missão da ONG é justamente patrocinar projetos de energia limpa e sustentável. Resultado: a E+Co financiou metade do investimento de R$ 1,5 milhão na indústria carvoeira.

Assim, a Carbo Ltda. tornou-se a primeira indústria brasileira de carvão vegetal que não emite poluição ao meio ambiente. Há um ano em operação, a carvoaria pode produzir até 2.500 metros cúbicos por mês (62,5 caminhões), mas não está a pleno vapor porque ainda não há mercado para tanto. Do total produzido, 80% vai para a indústria siderúrgica – a Carbo atende a Vale do Rio Doce e a Belgo Mineira –, 15% são destinados ao mercado interno e 5% vai para a Itália. Motivadas pelos bons resultados, outras empresas começam a seguir o exemplo. Um novo e bem-sucedido caso está em Jaguariaíva.

Numa carvoaria convencional, os investimentos na planta industrial seriam cinco vezes menores e os custos de produção próximo de 10% menos. Mas os sócios Bruno e Guilherme já encontraram meios de amortizar o capital investido e recuperar o déficit operacional. Não bastasse a produção ser cinco vezes mais rápida, ainda encontraram clientes ambientalmente conscientes e dispostos a cobrir os 10% de custos adicionais. Estes preferem pagar um pouco mais para não ter em sua linha de produção matéria-prima de fonte poluidora. Outra alternativa dos sócios é negociar os créditos de carbono.

A madeira usada, a bracatinga, vem de reflorestamento. Depois de cortada em tamanho padrão, ela é levada por um trator apropriado até a boca do forno. O carvão também é retirado com trator. Os funcionários não precisam entrar no forno, como nas carvoarias convencionais.

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