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A falta de uma legislação específica para a preservação do centro histórico de Castro, município dos Campos Gerais distante 160 quilômetros de Curitiba, está trazendo prejuízos irreversíveis ao patrimônio cultural e arquitetônico da cidade. Em um ano, pelo menos dois imóveis centenários foram demolidos – um parcialmente e o outro completamente.

O primeiro caso ocorreu em março do ano passado. A residência situada na Rua Doutor Jorge Xavier da Silva, número 16, foi colocada abaixo. Ela havia sido construída no século 19, provavelmente com mão de obra escrava. A estrutura era em taipa de pilão – argamassa que mistura barro amassado, estrume bovino e vegetais –, técnica típica dos colonizadores portugueses.

De acordo com o presidente do Conselho Municipal de Patrimô­­­nio Histórico de Castro, Ronie Cardoso Filho, o imóvel era raro e de grande valor cultural. "O imóvel ficava no início da antiga Rua das Tropas, onde Castro começou a se desenvolver. Esse tipo de construção está em vários locais do país e retrata a história da ocupação do território brasileiro. Em Castro, devem existir hoje menos de 20 casas nesse padrão", diz.

Em março deste ano, foi a vez da residência de número 81 da mesma rua ser atiginda. Construí­­do no início do século 20 por imigrantes italianos, o imóvel manteve só parte da estrutura. Em alvenaria, a casa chamava a atenção pelas fachada com colunas decorativas e janelas redondas.

Ao tomar conhecimento dos dois episódios de descaso com a memória arquitetônica da cidade, a coordenadora do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, Rosina Parchen, en­­­­viou ofício à prefeitura de Castro para que fossem tomadas as providências legais. "Demo­­­lições em construções de valor histórico só podem ser autorizadas em casos de extremo risco", lembrou.

Segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano de Castro, Mário Silvio Martins, o proprietário do imóvel que foi parcialmente demolido se comprometeu a fazer a restauração. "Ele nos enviou um projeto que está sendo analisado para a concessão do alvará. Temos o compromisso dele de que todas as características originais do imóvel serão refeitas."

No terreno que circunda o imóvel, está sendo levantado um complexo de lojas e o proprietário, o empresário Marcos Telles, ressente-se de não poder dispor integralmente da propriedade. "Estou tendo prejuízo com esse processo. O governo quer a preservação, mas não dá incentivo algum. A conta fica toda para o proprietário. Isso não é justo. Preservar é muito bonito, mas pergunte pra qualquer habitante daqui quanto ele tiraria do bolso pra preservar [o patrimônio histórico de Castro]."

No outro caso, em que o imóvel foi totalmente demolido, a prefeitura diz ter tomado todas as providências para tentar evitar o dano. "Primeiro, negamos o alvará de demolição. Quando começou o processo, notificamos o proprietário e embargamos a obra, mas, em um fim de semana, tudo foi colocado abaixo. Agora o caso está com o Ministério Público", afirma. O promotor responsável não foi encontrado pela reportagem.

O dono do imóvel, Gil Bueno Magalhães, alega que o imóvel apresentava risco de desabar. "Havia rachaduras enormes. Esperei por seis meses uma resposta da prefeitura e, como não tive, demoli o prédio antes que alguma tragédia acontecesse."

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