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Maringá, cidade verde, canção, planejada e organizada. Considerada um município jovem, foi fundada pela Companhia Melhoramentos Norte do Paraná em 1947, obedecendo a um plano urbanístico previamente estabelecido. Praças, ruas e avenidas foram demarcadas de acordo com as características topográficas da região, revelando também a preocupação inteligente da época quanto à proteção de espaços verdes e mata nativa. Planejada para ser uma cidade de 200 mil habitantes (hoje já com número muito maior), Maringá transformou-se num grande centro de convergência econômica. Jorge de Macedo Vieira, arquiteto e urbanista responsável pelo projeto do município, desenhou uma cidade moderna, cortada por uma avenida principal e separada por zonas específicas. Plano elaborado ao som de uma canção muito famosa, intitulada Maringá, de autoria do compositor Joubert de Carvalho.

Além dos bosques centralizados e ruas arborizadas, chama atenção em Maringá a belíssima Catedral de Nossa Senhora da Glória, com 124 metros de altura em forma cônica, o décimo monumento religioso mais alto do mundo. Pagando R$ 2 e suando a camisa, é possível subir 466 degraus do interior da igreja até culminar num bonito mirante. A cada andar, pichações e rabiscos nas paredes encorajam o visitante a não desistir. "Cansou? Não está nem na metade ainda!", "só faltam 1.234 degraus". Lá de cima, Maringá parece que saiu das plantas do SimCity, famoso jogo simulador de cidades para computador. Assim como no jogo, os quarteirões simétricos e planejados mais próximos de parques e bosques são valorizados. Por ser uma terra abençoada e brasileira, Maringá está livre dos grandes desastres naturais, como terremotos, tornados e ataques alienígenas, comuns nas cidades de SimCity. Sobrevive no jogo quem conseguir manter o nível de satisfação da população elevado, nas três zonas principais (residência, comércio, indústria). Tarefa difícil, mas que um jogador empresário de Maringá está disposto a enfrentar.

Atrás do Casulo Feliz

Quem pouco conhece Maringá dificilmente consegue imaginar que exista um bairro ou um casulo, não muito distante do centro, capaz de provocar diferentes impressões entre a população local. O bairro de Santa Felicidade é considerado o mais carente da cidade. Para muitos maringaenses, além da falta de estrutura, a área é marcada pela bandidagem, violência e conflitos domésticos, resultando diversas vezes em mortos e feridos. Ao contrário de muitos empreendedores, que optariam por um local mais seguro para investir, Gustavo Serpa Rocha escolheu o bairro para instalar, em 1988, O Casulo Feliz – fábrica de fiação artesanal de seda, justamente para promover o desenvolvimento sustentável daquela comunidade.

Tudo começou quando o professor de sericicultura (criação do bicho-da-seda), formado em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), resolveu fiar um casulo, tirando um fio todo estranho, uma seda mais grossa feita à mão. "Fui para Americana, capital da seda industrial no país em 1987, tentar vender o que tinha descoberto. Ofereci o produto para as maiores indústrias da região e todos duvidaram de que aquilo fosse seda. Pensei que estava ficando louco. Cinqüenta anos mexendo com seda, e eles não sabiam o que eu tinha em mãos", conta Gustavo. Persistente, ele não se deu por vencido. "Disseram que minha seda era feia, irregular, cheia de caroços. Então resolvi ir aos malucos da Praça da República em São Paulo. Lá, eles adoraram. Começaram a fazer tapetinho, cortininha. Eu dava aula na UEM e fiava em casa, de 15 a 20 quilos por mês. Mais tarde me especializei em tingimento vegetal, fui para o exterior, universalizando meus conhecimentos", explica o professor.

O grande diferencial do Casulo Feliz é que os produtos fogem da modernidade de um mundo plastificado, buscando nas fibras naturais um refúgio, longe do sintético e do artificial. Todos os tingimentos são feitos a partir de pigmentos vegetais, como a casca da cebola, a raiz do curcuma, as folhas de manga e sementes de urucum. "No Casulo, os produtos químicos ficam de fora", realça Gustavo. Sua filha, Glicínia Setenareski, cuida do design das peças acabadas, como almofadas, cortinas, tapetes, mantas e jogos de mesa, entre outros produtos feitos com seda misturada a rami, linho, lã e por aí vai. Até a sobra da sobra, ou seja, o resto da seda que foi reciclada pelo Casulo vira fio e é valorizado. Um dos grandes sucessos da marca é a cortina feita de seda de palha, chegando a custar mais de R$ 1 mil cada peça. "A lógica é a seguinte: quanto maior for o trabalho manual, maior será o valor agregado", conta o proprietário.

Matéria-prima privilegiada, de brilho, resistência e artesanal, a seda foi descoberta na China há 4 mil anos. Conta a lenda que uma rainha chinesa tomava chá embaixo de uma amoreira, nos arredores do seu palácio, quando um casulo caiu dentro de sua xícara de chá fervente e soltou um fio. Assim, estava descoberta a seda. Seu pai convocou tecelões e ordenou a confecção de um tecido que durante séculos foi usado pelos nobres. Sua produção era mantida em sigilo e a punição para quem transgredisse essa ordem era a pena de morte. Somente depois de séculos a técnica da feitura da seda foi se espalhando pelos continentes. Atualmente, um casulo chega a atingir entre 700 metros e 1,2 quilômetro . Depois da criação e retirada das larvas, o novelo sofre um processo de aquecimento para separar a umidade e garantir armazenamento por um ano. Em seguida, os casulos são selecionados e mergulhados em água quente, de 60ºC a 120ºC, para dissolver a sericina (cola que gruda o fio do casulo). Com isso, o fio se solta, fazendo com que a ponta seja identificada.

Após dez anos pagando para trabalhar, sempre acreditando no potencial de seus produtos, Gustavo Rocha agora colhe os frutos do idealismo. O Casulo Feliz exporta uma boa parte de tecidos, produtos acabados e foi destaque na última São Paulo Fashion Week, apoiando desfiles badalados como os de Mário Queiroz, Isabela Capeto e Alexandre Herchcovitch. Mas sua principal conquista é ter conseguido empregar 70 pessoas carentes do bairro Santa Felicidade, promovendo um bem-estar social para todo o bairro. Junto com o sucesso comercial da empresa e uma indústria consolidada, Gustavo conseguiu vencer com competência o jogo na SimCity paranaense, transformando-se num legítimo bicho-da-seda, fora do casulo e feliz da vida.

Site oficial – Roteiro, diário de bordo e outras informações dessa aventura podem ser conferidas no www.coracaodoparana.com

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