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Cemitério do Roncador será revitalizado: 30 soldados estão enterrados no local | Adelar Paganini/Divulgação
Cemitério do Roncador será revitalizado: 30 soldados estão enterrados no local| Foto: Adelar Paganini/Divulgação

Rondon trouxe telégrafo

Catanduvas era uma das poucas cidades que tinha telégrafo, graças a construção, em 1888, de uma estrada estratégica que ligaria Guarapuava a Foz do Iguaçu. Ele foi instalado em 1902 por Marechal Cândido Rondon e foi usado pelos militares que viveram nesse período na região para tentar manter a fronteira do Brasil intacta – afinal, ela ainda era alvo de disputa entre brasileiros e argentinos.

Foi por causa de um telégrafo que Catanduvas entrou para a história brasileira. O fato aconteceu em 1924, quando parte dos revolucionários do movimento tenentista decidiu rumar para o Oeste do Paraná em busca de um lugar para ficar. Escolheram a cidade porque lá havia o instrumento de comunicação de que precisavam para manter contato com o resto do grupo. Os cerca de 400 revoltosos acamparam em torno do telégrafo, onde encontram também comida farta nas cinco residências que existiam na época. Ficaram no local à espera de Luiz Carlos Prestes, que vinha do Rio Grande do Sul rumo a Foz do Iguaçu: o objetivo era instaurar uma nova república.

Essa história é conhecida por parte da população que vive em Catanduvas, mas, na maioria do estado, o episódio foi esquecido. As marcas do passado, porém, continuam em Catanduvas e devem ganhar importância com um projeto da Secretaria da Cultura do Paraná. A ideia é revitalizar dois cemitérios da cidade, o Roncador e o Tormentinha, onde estão enterrados, respectivamente, cerca de 30 e 25 legalistas (soldados que lutaram pelo governo). Há ainda um projeto para a criação de um memorial, onde ficarão expostas cerca de 30 armas que foram usadas nas batalhas.

"Foi a partir de 1924 que o Oeste do Paraná foi redescoberto. A região, antes, era ainda uma grande floresta dominada por estrangeiros e empresários da madeira e da erva-mate. Só para se ter uma ideia, a moeda que circulava por ali era o peso argentino", conta o historiador Aimoré Índio Brasil Arantes, da Secretaria.

O historiador e jornalista Adelar Paganinim, que pesquisou o tema e está envolvido com o projeto de revitalização, lembra que a tomada de Catanduvas durou tanto tempo (seis meses) porque, na verdade, os revolucionários e os legalistas não chegaram a entrar em um combate ferrenho, apesar de estarem a apenas 600 metros de distância. "As forças legalistas não queriam massacrar os tenentes de fardas porque eles eram companheiros e, no fundo, todos tinham o mesmo desejo, o de um país melhor. Nessa história, não existiram bandidos", explica.

O final da Revolução Tenentista, em Catanduvas, ocorre quando os revolucionários, após uma conversa com os legalistas, decidem se entregar. A falta de comida e de suporte – eles chegaram a usar taquaras como sapato – contribuíram para a decisão. Na verdade, os chefes dos revoltosos fugiram para Foz do Iguaçu, enquanto alguns soldados se renderam. Depois disso, na região das Cataratas, foi criada a Coluna Prestes. Em Catanduvas, as poucas famílias que haviam fugido para a floresta, com medo dos combates, retomaram a vida na cidade. O local nunca mais foi o mesmo.

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