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Jornadas de 36 horas, carga horária de trabalho semanal que beira as 90 horas, falta de supervisão nos atendimentos e uma remuneração bruta que não chega a R$ 2 mil. Essa é realidade do dia a dia dos médicos residentes em Curitiba e no restante do país. Alice (*), 24 anos, residente no Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba é um exemplo disso. "Trabalho de 80 a 90 horas semanais só no HC. Quando tem plantão no domingo, faço 24 horas e emendo com a segunda-feira. Ficamos 36 horas trabalhando", diz. As conseqüências são o cansaço físico e a possibilidade maior de errar. "Acho que acabamos ficando mais suscetíveis ao erro", opina.

As chances de errar aumentam também, segundo Alice, porque é comum que atendimentos médicos sejam feitos sem a supervisão de professores. "Eu sou R1 (1.º ano de residência). É comum recebermos supervisão dos R2 (2.º ano) e dos R3 (3.º ano)", conta. Por toda essa maratona, Alice diz que ganha limpo no fim do mês R$ 1.690. "Acho que recebemos pouco pela carga horária de trabalho e a responsabilidade que temos. Estamos aqui como aprendizes, mas temos responsabilidade de médicos", afirma.

A R1 em clínica médica do Hospital Cajuru, Tatiana Bran­dão, 26 anos, confirma que essa é a realidade dos colegas. "No meu caso é um pouco diferente. Não fazemos atendimentos sozinhos. Sempre temos os chefes de plantão supervisionando e minha jornada não é tão extenuante como dos colegas residentes em neurocirurgia, ortopedia e cirurgia geral", conta. "Mas há casos de residentes que ficam de dois a três dias diretos no hospital."

A vice-presidente da Associação dos Médicos Residentes do Paraná (Amerepar), Liza Uchimura, confirma a situação relatada pelos profissionais. "Realmente é muito comum, tanto em Curitiba, como no Paraná ou no resto do país. A maioria dos residentes trabalha de 80 a 100 horas semanais e sem o acompanhamento de professores. Não podemos generalizar e dizer que acontece assim em todos os locais, mas a maior parte é assim", afirma.

Para diretora adjunta do Curso de Medicina da Pontifícia Uni­versidade Católica do Paraná (PUCPR), Lídia Zytymski Moura, a sobrecarga horária na profissão é uma questão clássica. Segundo ela, os residentes têm razão em reclamar. "Eles estão cobertos de razão porque eles se expõem a risco de receber um processo por imperícia", afirma. Por outro lado, diz a médica, é necessário avaliar caso a caso. "Há residentes que emendam plantões em outros locais para receber mais e por isso ficam com a carga horária tão alta."

*Nome fictício.

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