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O cativeiro onde estavam as reféns ficava a uma quadra e meia do quartel do Exército, no bairro Boqueirão. A casa, na rua Simão Kossobudski, tem três quartos, sala, copa, cozinha e banheiro. Ela fica ao lado de uma fábrica de móveis e não tem janelas para a rua. Foi alugada no início do mês, pouco antes de receber as vítimas e servir de base para negociações com a família do piloto José Melo Viana.

Segundo vizinhos, as três reféns devem ter vivido momentos de muito medo e ansiedade nas mãos deles. "As pessoas pareciam assustadas. Elas demonstravam que estavam com medo. A porta da casa sempre ficou fechada. Os homens, mal-encarados, entravam e saíam à noite, sempre um de cada vez, num veículo Ford Ka, com placa de São Paulo", disse um dos vizinhos.

O sargento da reserva Peri Borges das Chagas, que mora em frente ao local, acordou na madrugada de ontem com a explosão de uma bomba de efeito moral na porta do cativeiro, lançada pela polícia. Durante a ação, os vizinhos ouviram os gritos "polícia, polícia". "Acordei por volta das 4 horas, com o barulho da explosão. A rua foi fechada com veículos da Polícia Federal, do grupo anti-seqüestro (Tigre) e outras. Havia cerca de 40 policiais", contou Chagas. Ele lembrou ainda que a polícia ficou cerca de 2 horas no local e que recolheu vários pertences dos suspeitos.

Ainda de acordo com os vizinhos, o grupo trouxe a mudança durante a semana. Ela se resumia a uma geladeira, um fogão a gás, armários de cozinha, colchões e utensílios domésticos – como panelas, pratos e talheres.

Após a ação policial, a casa ficou toda revirada. A cozinha estava imunda. Na geladeira, havia pouca comida, mas muita cerveja no freezer. Num dos quartos, uma garrafa aberta de conhaque. Paradoxalmente, um manual de direitos humanos também foi encontrado. Restaram no local roupas espalhadas pelo chão, principalmente nos quartos, onde havia vários documentos, números de telefones celulares de supostos integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), uma fita com músicas da facção criminosa, um vale postal, um celular quebrado e uma nota de uma televisão comprada em Curitiba, há cerca de 3 anos.

Na sala, onde o seqüestrador e assaltante Edimar Alves resistiu à prisão, havia marcas de sangue e pedaços de uma pulseira de um relógio. Segundo os vizinhos, um dos homens saiu carregado da casa. Ele estaria machucado ou com as pernas quebradas.

O dono da casa, Dalceu Prizibela, 69 anos, explicou que a residência foi alugada no dia 1.º de agosto, por R$ 350. O valor incluía o consumo de luz. Os seus inquilinos entraram no imóvel na terça-feira passada, dois dias antes do seqüestro. "Nunca imaginei que ia passar por essa", disse ele, após ser ouvido pelo Grupo Tigre.

Prizibela abriu as portas da residência e mostrou a bagunça que ficou no local. "Entreguei a casa limpa para um casal, que tinha uma filha de 15 anos. Ele é baiano. A sua esposa me disse que eles moravam no bairro Campo Comprido e que se mudaram porque o seu marido havia brigado com a sogra", contou. O homem que alugou a casa disse que era vendedor autônomo. "Ele falou que vendia afiador de facas e pagou o primeiro mês adiantado", disse o proprietário da casa.

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