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Cerca de 1,3 mil famílias invadiram fazenda em Londrina | Gilberto Abelha/Jornal de Londrina
Cerca de 1,3 mil famílias invadiram fazenda em Londrina| Foto: Gilberto Abelha/Jornal de Londrina

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) liderou na tarde desta segunda-feira (17) a invasão da Fazenda Figueira, em Londrina.

De acordo com o movimento, 1.390 famílias - a maioria originária do acampamento Serraria do Viana, em Tamarana – estão na propriedade de 3,7 mil hectares, localizada no distrito de Paiquerê. A fazenda é utilizada como um centro de pesquisa da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, de Piracicaba (Fealq), instituição ligada à Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com a direção do MST na região, a área está arrendada para terceiros e é cotada para desapropriação para reforma agrária em programa do governo do Estado e da Superintendência Regional no Paraná do Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Ex-aluno doou fazenda para a USP em 2000

Marcos Cesar Gouvea e Marcelo Frazão

A Fazenda Figueira, mais conhecida como Mata do Barão, tornou-se patrimônio da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) em 2000, quando o ex-aluno Alexandre Von Pritzelwitz fez a doação da área, ainda em vida. Ao falecer, em janeiro de 2000, o engenheiro agrônomo Von Pritzelwitz deixou em testamento, para a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz, de Piracicaba (Fealq), a propriedade agrícola, com a determinação de que fosse administrada pela fundação sob orientação técnica de professores do Departamento de Zootecnia da Esalq/USP, mantivesse a pecuária de corte como atividade principal e se criasse uma estação agrozootécnica com o nome de sua mãe, Hildegard Georgina Von Pritzelwitz.

Uma comissão técnica, indicada pelo Departamento de Zootecnia da escola, é encarregada do desenvolvimento da fazenda com o objetivo de torná-la produtiva e autossustentável. Uma comissão científica, indicada pela Fealq, analisa e aprova os projetos de pesquisa a serem desenvolvidos na estação experimental, segundo a escola. De acordo com a USP, a partir do desenvolvimento de pesquisas, a Esalq colheu vários méritos e tornou-se um centro de pesquisas genéticas de ponta. Entre os feitos da propriedade está a produção de gado de corte por hectare com até três vezes mais bois do que a média nacional, conforme a universidade.

Além dos estudos científicos genéticos na pecuária, a Fazenda Figueira também é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) com quase 1,2 mil hectares de floresta de Mata Atlântica nativa preservada e vários hectares em recuperação.

Ângela Pascoal, 41 anos, é uma das lideranças do MST na Fazenda Figueira. Ela trabalha no movimento na região há 18 anos e explicou que as 1.390 famílias pretendem ficar na área para trabalhar a terra com dignidade.

“Na verdade, esta é uma fazenda do Estado. Está no Paraná e foi doada para uma universidade de São Paulo. É uma área que já está sendo negociada com o governo do Estado e com o Incra, com o objetivo de fazer a reforma agrária. E todas as informações que temos dão conta de que a área toda é arrendada. Tem algumas famílias que trabalham aqui, mas a área é toda arrendada.”

A reportagem tentou contato com o escritório regional do Incra em Curitiba, mas ninguém atendeu aos telefonemas no início da noite de segunda-feira (17).

Surpresa

O administrador da Fazenda Figueira, José Renato da Silva Gonçalves, limitou-se a dizer que foi surpreendido pela invasão, pois a fazenda experimental tem índices de produtividade muito acima do exigido. Ele disse que estava, juntamente com a Fundação Luiz de Queiroz, reunindo documentação e informações para embasar um comunicado oficial.

Segundo funcionários, a fazenda tem hoje 6 mil cabeças de gado, a maioria de corte, e também gado leiteiro, em uma área de pastagem de 1.850 hectares. A propriedade também tem 350 hectares de soja, milho, trigo e sorgo.

Entrada tranquila

De acordo com Ângela Pascoal, a entrada dos militantes do MST na propriedade foi tranquila e a administração da fazenda indicou o melhor local para o acampamento, próximo da sede e com boas condições de abastecimento de água para milhares de acampados.

“O próximo passo será conversar com os proprietários. Esperamos um belo resultado e ficar por aqui, pois o povo tem a necessidade de terra para que as famílias possam trabalhar com dignidade, ter seu pedaço de terra. E também estamos mostrando para o governo que temos 9 mil famílias de sem-terra acampadas pelo Paraná. Essa área pode resolver a meta de assentar 1.390 famílias.”

Sirlene Lourenço da Silva e o marido Janir são de Londrina e estão acampados na Figueira. O sonho é ter um pedaço de terra. “Para vir, cada um se virou como pode. Quem não tinha locomoção veio de caminhão. A gente só quer um pedaço de terra, sem invadir o espaço de ninguém, sem tomar nada de ninguém. Nos disseram que essa terra está legalizada e fomos convidados a vir”, reforçou Sirlene.

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