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Privilegiados

AL e Caribe lideram êxodo

A América Latina e o Caribe são campeões mundiais da chamada "fuga de cérebros". A região tem a maior proporção de profissionais altamente qualificados vivendo no primeiro mundo. A informação é da BBC. Segundo relatório do Sistema Econômico Latino-Americano e do Caribe, o contingente de trabalhadores latino-americanos e caribenhos nessa situação passou de 1,92 milhão em 1990 para 4,9 milhões em 2007 – um crescimento de 155%.

O México apresentou o maior aumento, de 270%, seguido do Brasil, com 242%. O número de brasileiros qualificados no primeiro mundo, que em 1990 não passava de 63 mil, chegou em 2007 a 218 mil, ou 2,3% do total da força de trabalho qualificada.

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Especialistas afirmam que o êxodo da mão de obra qualificada dos países em desenvolvimento para as nações mais ricas é um fenômeno irreversível, conhecido como "fuga de cérebros". Cientistas, pesquisadores e professores, entre outros profissionais, fazem parte desse contingente. No Brasil, a emigração afeta cerca de 2,3% do total da força de trabalho qualificada do país, estimada em 9,4 milhões de trabalhadores. Na contramão desse processo, milhares de profissionais retornam ao país depois de complementar seus estudos no exterior, prontos para dar sua contribuição nos laboratórios de pesquisas e nas salas de aula das instituições de ensino superior.

As bolsas concedidas por instituições como a Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes), uma fundação ligada ao Ministério da Edu­­cação (MEC), e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien­­­­tífico e Tecnológico (CNPq) ajudam a garantir o retorno daqueles que deixaram o país em busca de conhecimento, capacitação e titulação. Nas décadas de 80 e 90, o CNPq concedeu cerca de 28 mil bolsas no exterior. Já os programas da Capes levaram aproximadamente 27 mil bolsistas ao exterior entre os anos de 2001 e 2008.

Nas duas instituições, os bolsistas assumem o compromisso de ficar no Brasil por pelo menos o mesmo período que permaneceram estudando no exterior. Para o diretor de Relações Internacionais da Capes, professor Sandoval Carneiro Júnior, a tendência é de que os bolsistas permaneçam no país mesmo após decorrido esse prazo graças ao programa Reuni, que proporcionou a abertura de numerosos concursos para docência nas universidades públicas. "Comparado com outros países, como a China e a Índia, o Brasil apresenta uma taxa de permanência bastante elevada", garante.

Para Sandoval, o período de turbulências que o país atravessou nas últimas décadas do século passado contribuiu para a fuga de cérebros. "Nos anos 80 até meados de 90, o Brasil passou por profundas crises econômicas, agravadas por índices de inflação extremamente elevados, que foram sanados com o Plano Real, em 1994", lembra. "Naquela época, o Brasil deixou de ser um país em que o número de imigrantes era superior ao de emigrantes, ou seja, passamos a ser um país exportador de mão de obra de todos os níveis. Esse quadro contribuiu para a evasão de profissionais qualificados, inclusive recém-doutores, que não encontravam oportunidades para trabalhar no Brasil. Até recentemente havia poucos concursos para ingresso na carreira docente."

Na Capes, as áreas mais contempladas são as de ciências humanas (15%), ciências da saúde (14%), engenharias (14%), ciências agrárias (12%), ciências exatas e da terra (12%) e ciências biológicas (10%). A instituição tem programas de bolsas para recém-doutores, como o ProDoc e o Plano Na­­cional de Pós-Dou­torado (PNPD), para apoiar os pesquisadores que concluem seus doutorados no Brasil ou no exterior. O Programa de Profes­sores Visitantes do Estrangeiro, por sua vez, beneficia brasileiros radicados no exterior e que queiram vir ao Brasil para lecionar e orientar em programas de pós-graduação. "Além dos programas já existentes, a Capes está analisando a possibilidade de introduzir um programa para incentivar cientistas a retornarem ao país", revela Sandoval.

Inovação tecnológica

O governo federal vem desenvolvendo diversas ações para incentivar a inovação tecnológica, por meio dos ministérios da Ciência e Tecnologia, da Educação e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. "A criação de incubadoras de empresas e núcleos de inovação tecnológica nas universidades deverá a longo prazo contribuir para a fixação de pesquisadores no país, por força das oportunidades que terão de ver os frutos de seus trabalhos transformarem-se em produtos úteis para a sociedade", explica o diretor da Capes.

De acordo com o professor, em países industrializados, como os Estados Unidos, cerca 80% dos pesquisadores trabalham nas indústrias enquanto apenas 20% nas universidades. "No Brasil, esses percentuais são inversos, ou seja, a indústria brasileira notoriamente investe muito pouco em inovação tecnológica", avalia. "A pauta de exportação do Brasil ainda é muito baseada em produtos primários, com baixo valor agregado."

Os investimentos do Brasil em ciência e tecnologia têm crescido nos últimos anos, chegando a 1,09% do PIB em 2008. "Entre­tanto o Japão investiu 3,44%, os Estados Unidos 2,77%, a Ale­manha 2,53%, o que mostra que estamos ainda bastante aquém dos países mais industrializados", compara Sandoval. "O im­­por­­tante e necessário é criar as condições de formação de recursos humanos e infraestrutura de pesquisa para absorver os investimentos, e isso requer uma política de longo prazo."

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