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Remédio é manipulado em laboratório: SUS oferece assistência homeopática desde o ano passado | Rodolfo Bührer/Arquivo/Gazeta do Povo
Remédio é manipulado em laboratório: SUS oferece assistência homeopática desde o ano passado| Foto: Rodolfo Bührer/Arquivo/Gazeta do Povo

Saiba mais

Entenda como funciona a homeopatia, técnica que promete tratar doenças e minimizar seus sintomas.

Método

É baseado na Lei dos Semelhantes, ou seja, para tratar alguém é necessário aplicar um medicamento que cause os mesmos sintomas da doença. Haveria assim estímulo a mecanismos naturais de cura.

Remédios

São preparados a partir de substâncias minerais, vegetais e animais. As preparações básicas são chamadas "tinturas-mãe". A partir delas são iniciadas diluições sucessivas para minimizar reações indesejáveis e, supostamente, dinamizar os efeitos curativos.

Prova científica

Não há estudos conclusivos sobre o mecanismo de ação dos medicamentos, mas entidades médicas e universidades relatam melhora de pacientes.

Campanha 10:23

O movimento dos céticos contra a homeopatia ganhou esse nome em homenagem ao número de Avogadro, uma constante física que torna possível calcular o número de moléculas em uma amostra com uma certa massa de uma substância. Os críticos afirmam que os medicamentos homeopáticos são tão diluídos que não restaria nenhuma molécula do princípio ativo que deveria promover a cura.

Fonte: Agência Estado.

Precisamente às 10h23 do próximo sábado, um grupo de ativistas anti-homeopatia vai se reunir na Praça Benedito Calixto, em São Paulo, para tomar uma overdose de medicamentos homeopáticos. O mesmo deve acontecer em Porto Alegre, Natal e outras 53 cidades de 25 países. Não se trata de uma tentativa de suicídio em massa. O objetivo dos autodenominados céticos é denunciar o desperdício de tempo e dinheiro com remédios que, segundo eles, não passam de água com açúcar.

Embora a prática seja reconhecida há mais de 30 anos pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira, ainda desperta polêmica tanto na comunidade médica como na sociedade leiga. Mesmo entre os adeptos há uma divisão. Enquanto uma corrente rejeita a interferência de medicamentos alopáticos e até mesmo de vacinas no tratamento, outra – que tem o respaldo das entidades médicas, farmacêuticas e do Ministérios da Saúde – entende que a homeopatia pode atuar de forma complementar à medicina tradicional.

O debate veio à baila graças à Campanha 10:23, que acontece pelo segundo ano consecutivo na Grã-Bretanha e é organizada pela Sociedade Merseyside de Céticos (MSS, na sigla em inglês). "Bilhões de dólares são gastos ao redor do mundo com remédios homeopáticos e, quando se explica do que realmente se tratam, a maioria das pessoas se choca e não acredita que esses tratamentos inúteis continuam a ser vendidos", diz Michael Marshall, porta-voz da MSS. Ele conta que o governo britânico fez recentemente uma revisão das evidências científicas e concluiu que não há provas conclusivas sobre a eficácia da homeopatia. No entanto, o Sistema Nacional de Saúde da Grã-Bretanha gasta por ano mais de 4 milhões de libras (R$ 10 milhões) com remédios homeopáticos. "Alegam que as pessoas têm direito de escolher seu tratamento, não importa se ele funciona ou não. Isso é uma situação louca", diz.

SUS

No Brasil, em 2010, o investimento federal para custear consultas e medicamentos homeopáticos no Sistema Único de Saúde (SUS) foi de R$ 3 milhões, sem contar o gasto de estados e municípios. Segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde, 285 municípios do país oferecem assistência homeopática na rede pública e cerca de 60% deles também fornecem medicamentos.

Carmem de Simoni, coordenadora de Práticas Integrativas e Complementares do Ministério da Saúde, explica que a inclusão da homeopatia e demais tratamentos alternativos no SUS foi uma resposta ao desejo da população manifesto nas Conferências Nacionais de Saúde desde 1988. Além disso, atende a recomendações da Organização Mundial de Saúde.

Mas críticos como Kentaro Mori, representante da MSS no Brasil, alegam que o apoio institucional à homeopatia diminui a confiança do público na medicina baseada em evidências e pode fazer com que pacientes com doenças graves evitem procurar tratamento médico e venham a morrer. O médico Dráuzio Varella faz coro. "Não conheço médicos que já não tenham atendido doentes seriamente prejudicados por práticas alternativas", afirma.

Para Marcus Zulian Teixeira, um dos maiores pesquisadores do tema no país, a recusa de tratamentos convencionais está mais ligada a uma mentalidade de contracultura de certos médicos e pacientes que aos fundamentos da homeopatia. "Seria antiético tirar o remédio de um paciente que chega ao consultório com uma doença crônica e necessita da droga".

Mas ele reconhece que ainda há profissionais com esse posicionamento, como o que atendeu a secretária Patrícia Felipe, de 33 anos. "Tomei antidepressivos por cinco meses, mas queria me livrar de remédios fortes e procurei um homeopata." O médico suspendeu o tratamento e Patrícia passou a sofrer de crises de abstinência. "Sentia muito medo e ansiedade. Tinha vontade de pegar a caixa de antidepressivos e tomar tudo de uma vez."

Poucos se interessam pela especialidade

Dos 350 mil médicos brasileiros, cerca de 15 mil são homeopatas, segundo estimativa da Associação Médica Homeopática Brasileira (AMHB). Embora o mercado tenha se expandido com a inclusão da homeopatia no Sistema Único de Saúde (SUS), o interesse pela especialidade tem caído nas faculdades de Medicina.

Segundo o presidente da AMHB, Carlos Fiorot, o problema que afeta a homeopatia é o mesmo de outras áreas que dependem fundamentalmente da prática clínica: a má remuneração das consultas. "Os estudantes acabam preferindo áreas em que podem ganhar com procedimentos, como cirurgia e dermatologia", afirma. Outro obstáculo para a formação de profissionais qualificados é o pequenos número de cursos no país. Poucas são as universidades que oferecem a disciplina de homeopatia na graduação e apenas a Univer­sidade Federal do Estado do Rio de Janeiro possui curso de residência na área.

Atraso

O desconhecimento e o preconceito existentes na comunidade científica, afirma Marcus Zulian Teixeira, impedem o avanço de pesquisas sobre o tema. "Existem artigos de boa qualidade, mas são poucos. Não temos a indústria farmacêutica para subsidiar a pesquisa nem a mesma facilidade para conseguir financiamento com os órgãos de fomento", diz.Além disso, continua, não é possível fazer estudos com medicamentos homeopáticos nos mesmos moldes da alopatia. "Um dos pilares da homeopatia é a individualização do tratamento e do paciente. Não posso dar o mesmo princípio homeopático para um grande número de pessoas e esperar que vá funcionar da mesma maneira e comparar com um grupo de controle", explica.

Mas, para céticos como o médico Dráuzio Varella, até para ser usada como terapia complementar a homeopatia precisa de mais evidências. "Na medicina moderna não cabem mais dogmas que não conseguem ser provados na prática."

Interatividade

Você acredita na eficácia dos remédios à base de homeopatia? Por quê?

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As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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