Choro, reclamação e acusação na CPI

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Brasília – Em sessão na CPI do Apagão Aéreo do Senado, ontem, o chefe do Centro de Prevenção e Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, chegou a chorar. Segundo ele, foi de tristeza pelo fato de o trabalho de resgate dos pertences das vítimas do vôo 1907 da Gol, feito pela Força Aérea, não ter sido reconhecido como deveria. O avião se chocou com um jato Legacy e caiu na Serra do Cachimbo (MT) em setembro do ano passado, matando 154 pessoas.

Os familiares das vítimas do vôo 1907, que foram à CPI, reagiram à posição da Aeronáutica de se considerar denegrida pelas informações sobre pilhagem de documentos e pertences das vítimas. "Não estamos dizendo que a Aeronáutica roubou. O que pedimos é a apuração (do sumiço de pertences das vítimas)", afirmou a presidente da Associação dos Familiares e Amigos do vôo 1907, Angelita Rosicler de Marchi.

Visivelmente irritado, na primeira parte da sessão, Kersul afirmou que o resgate de cargas e objetos não era prioridade, e que várias pessoas circularam pelo local e pelo entorno do acidente, inclusive parentes das vítimas. Em tom irônico, ele chegou a fazer uma analogia que também irritou os parentes dos mortos. "Familiares foram levados até lá. Então, são suspeitos também", disse Kersul. Minutos depois da declaração, que provocou constrangimento entre os parlamentares, o chefe do Cenipa emocionou-se e obrigou a CPI a interromper o depoimento.

Chorando, Kersul saiu da sala para se recompor e foi abraçado pela mulher de uma vítima do acidente. Neuza Machado procurou confortar o brigadeiro. Já refeito, o chefe do Cenipa disse que não chorou de raiva, "mas de tristeza". "Não dá para descrever o que vivemos lá. Pena que não esteja sendo reconhecido", afirmou.

A sessão de ontem foi marcada por divergências entre os familiares e a Aeronáutica e pela exibição de vídeos do local da tragédia. Familiares mostraram uma gravação que chegou a circular no Youtube com cenas chocantes de pedaços de corpos sendo resgatados. Na seqüência, o chefe do Cenipa exibiu um vídeo que mostrava o trabalho dos homens da Aeronáutica durante o resgate.

Ontem, Kersul disse que das 4,7 toneladas de cargas e bagagens que estavam no avião da Gol, apenas 1,6 tonelada foi resgatada. "Tem 3 toneladas lá em algum lugar não encontrado." Ele explicou que a aeronave se partiu e caiu quase na vertical, e que parte da carga e da bagagem pode ter sido expulsa em uma área distante do local de onde a aeronave caiu.

O chefe do Cenipa confirmou nova reunião com familiares das vítimas no dia 1.º de setembro, mas adiantou que até lá o relatório final sobre a investigação não terá sido concluído.