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Pelo menos cinco casas da Vila Marta, na divisa de Curitiba com Almirante Tamandaré, foram inundadas após o transbordamento de um tanque. Uma delas ficou completamente destruída | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Pelo menos cinco casas da Vila Marta, na divisa de Curitiba com Almirante Tamandaré, foram inundadas após o transbordamento de um tanque. Uma delas ficou completamente destruída| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Protesto

Enchente revolta moradores

Gabriel Azevedo

Revoltados com os alagamentos que atingiram o bairro na quinta-feira da semana passada e ontem, moradores da região da Cidade Industrial de Curitiba (CIC) bloquearam duas ruas com pedaços de pau e pneus queimados.

Na Rua Arthur Martins Franco, enquanto os pneus queimavam, cerca de 50 moradores protestavam bloqueando a passagem de veículos. Em outro ponto, na Rua Frederico Labertucci, no bairro Fazendinha, outro protesto fechou as ruas do entorno. Cerca de 30 pessoas participaram da manifestação.

No CIC, todas as ruas localizadas às margens do Rio Barigui ficaram alagadas. Para não perder móveis e veículos, os moradores retiraram os automóveis e os eletrodomésticos e os levaram para as ruas mais altas, longe do alcance das águas. ADefesa Civil prestou assistência às famílias da região e um barco foi utilizado para retirar os idosos e os doentes.

O aposentado Antonio José dos Santos, 74 anos, foi uma das pessoas retiradas de barco. Ela contou que perdeu todos os móveis. "Só sobrou eu e minha velhinha, mais nada", disse. Para o segurança Vilmar Aparecido, 34 anos, morador há 26 anos na região, o problema é a sujeira do Rio Barigui. Segundo ele, antigamente a limpeza do rio era feita a cada dois anos. A última foi há oito anos. "É revoltante as pessoas perderem tudo várias vezes e o poder público não fazer nada", desabafou.

Do segundo andar do sobrado onde mora, a vendedora Rosana Aparecida Munhoz, 30 anos, e o marido avaliavam o estrago. O primeiro andar da casa ficou alagado, assim como todas as ruas da região. Ontem à noite, a água passou de um metro de altura. "Acho um absurdo eu pagar IPTU, água e esgoto e passarmos por isso. A culpa é da sujeira dos bueiros que não são limpos", afirmou.

Durante o protesto, moradores coletaram assinaturas. A ideia é encaminhar hoje as assinaturas para Assembleia Legislativa do Paraná, cobrando uma solução para o problema dos alagamentos.

A forte chuva que atingiu a Gran­de Curitiba ontem causou a morte de uma menina de 12 anos, deixou dezenas de famílias desabrigadas e provocou 56 pontos de alagamentos na capital e na região metropolitana (RMC), segundo a Defesa Civil do Paraná. Em 20 horas, choveu quase a metade do volume esperado para todo o mês de fevereiro na região. De acordo com o Instituto Tecnológico Simepar, entre a meia-noite e as 20 horas de ontem, o volume registrado foi de 66,8 mm, o que equivale a 47% do esperado para o mês, que é de 142 mm. Em apenas uma hora, das 14 às 15 horas, choveu 40 mm.O corpo da estudante Sandra da Luz dos Santos foi encontrado por volta das 20 horas, perto do bairro Tanguá, na divisa de Almirante Tamandaré com Curitiba. Ela e Suelen Cristina Pedrosa Contador, 9 anos, deixaram o Centro de Atendimento Integral à Criança e ao Adolescente (Caic), no Jardim Roma, em Almirante Tamandaré, por volta das 17h30, e tentaram passar a enxurrada na frente da escola quando foram arrastadas. Segundo a Polícia Militar, o corpo ficou enroscado em galhos de árvore. Suelen foi salva por dois meninos e levada para o Hospital Evangélico, em Curitiba.

Os primos Tiago Ramos Padilha, 15 anos, e Bruno Padilha de Matos, 14 anos, viram quando as duas meninas saíram da escola e foram levadas pela enxurrada. Eles correram e ouviram Suelen gritando por socorro. Enquanto um segurou a menina na água, o outro buscou uma corda. Foram 30 minutos de espera. "Estava com cãibra por causa da água gelada, mas não desisti", disse Tiago. Sandra tinha um irmão gêmeo e mais nove irmãos. "Nunca ia imaginar que isso ia acontecer. A água na frente da escola sempre subia, mas não desse jeito", disse a mãe da garota, Maria Aparecida dos Santos, 45 anos.

Desabamento

Na Rua Campina Grande dos Sul, em Almirante Tamandaré, uma casa desabou e três pessoas ficaram feridas. O Corpo de Bombeiros confirmou que havia vários pontos de alagamento e deslizamento de terra no município. Por volta das 17 horas, a água deixou ilhadas as crianças da creche Reino Encantado, no bairro Parque São Jorge. Segundo a Defesa Civil, 34 crianças de zero a 6 anos e oito funcionários foram socorridos de barco. Ninguém ficou ferido. Na Rua Araucária, no bairro Jardim Gramado, três crianças ficaram ilhadas em uma casa, segundo o capitão do Corpo de Bombeiros Leonardo Mendes dos Santos. Até o fechamento desta edição, a Defesa Civil não tinha um balanço do número de pessoas afetadas ou de casas destruídas.

A família de Daniele Rocha Wilt, 31 anos, viu suas casas ruírem. A água de um tanque, que fica na parte de cima de um morro no bairro Tanguá, destruiu uma casa e deixou outras duas totalmente alagadas. A catadora de papel Angelita da Silva, 31 anos, que mora em uma das casas afetadas, disse que a irmã e os quatro sobrinhos perderam tudo. "Ninguém tem o que comer. A chuva veio, a casa desabou e o pessoal foi deixado para trás."

Em Curitiba, segundo a Defesa Civil, a região norte foi a mais castigada pelo mau tempo. O bairro Pilarzinho registrou o maior número de alagamentos. Um condomínio de luxo no bairro Tingui também foi afetado. André Picoli, morador do condomínio, disse nunca ter visto o rio subir tanto.

No Parque Barigui, as pistas de corrida e as lixeiras ficaram submersas. Um ônibus escolar com crianças especiais e um carro, com um casal, um bebê e uma menina de 3 anos, ficaram ilhados em frente do Museu do Automóvel. A operadora de marketing Bianca Tomaz, 27 anos, passava de moto pelo local quando viu o carro. Ela ajudou a tirar o bebê, enquanto o pai retirava a filha mais velha. Segundo o meteorologista do Simepar Tarcízio Valentim da Costa, o volume de chuva foi causado por uma frente fria que passa pelo estado. "Ela se desloca lenta­men­te e hoje ainda deve chover, mas com menos intensidade." Cu­ri­­tiba já superou em 45% o volume de chuva esperado para o mês. Até as 18 horas de ontem, foram registrados volumes de 208,4 mm.

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