Obra de Domicio Pedroso| Foto: Divulgação/Solar do Rosário

Poluição Sem lixo, cheia seria menor

A cheia do Córrego Formosa, que arrastou o Corsa do aposentado Tomyde Suguy, 77 anos, poderia ter sido menor, apesar do volume intenso de chuva registrado anteontem. Segundo soldados do Corpo de Bombeiros que estiveram na região, o córrego tem muito lixo, mato e assoreamento (excesso de areia, terra, vegetais e entulhos que ficam depositados no fundo do leito), o que dificulta a vazão da água.

A prefeitura de Curitiba informou que em média tira, por dia, duas toneladas de lixo dos rios, córregos e galerias pluviais da capital. Desde o começo do ano, já foram recolhidas 91 toneladas. Entre o material coletado no Ribeirão dos Padilha, no Xaxim, estavam 17 sofás, além de garrafas, pneus e outros tipos entulhos. "Quando alguém joga lixo nos rios, colabora para a formação de alagamentos na cidade. O morador pode se desfazer do lixo, usando os serviços de coleta da cidade, que atendem toda Curitiba", disse Augusto Meyer, diretor de saneamento da prefeitura. (JNB)

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Um homem morreu afogado, uma mulher desapareceu na água e 170 áreas ficaram alagadas em Curitiba e região metropolitana. Esse é o saldo da chuva de quatro horas – das 16 às 20 horas – que caiu anteontem na capital e em cidades vizinhas. Segundo o Simepar, choveu entre 50 e 80 milímetros (mm), dependendo da região – perto da metade dos 145 mm previstos para o mês de março.

De quinta-feira para sexta-feira, a prefeitura de Curitiba registrou 83 desabrigados em três regiões (Portão, Cidade Industrial de Curitiba e no Boqueirão). Também choveu forte em São José dos Pinhais, perto do aeroporto e do Jardim Afonso Pena, mas não houve desabrigados.

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A enchente no bairro Fazendinha, a segunda nos últimos 20 dias, ganhou contornos de tragédia após o aposentado Tomyde Suguy, 77 anos, cair no Córrego Formosa, próximo ao Conjunto Residencial Vila Formosa. Segundo familiares, ele saiu de casa num veículo Corsa com a esposa, Marta Maria Suguy, 69 anos, para levar para casa o pedreiro João Carlos de Lima, 36 anos. Um quilômetro adiante, no trecho entre a Rua Edivino Antônio Deboni e a marginal do córrego, o veículo caiu na água.

Segundo moradores que tentaram socorrer as vítimas, o carro foi visto dentro do córrego, aparecendo apenas o teto e os faróis acesos. "Eu e um rapaz corremos cerca de 400 metros, até próximo do ponto em que o carro parou após bater na ponte da Rua Carlos Klentz. Não tive fôlego, parei um pouco antes", contou o autônomo Adair dos Santos, 45 anos.

O estudante Douglas Roger de Lima, 16 anos, correu junto com o autônomo e ajudou a salvar o motorista (um motoqueiro e policiais do Batalhão de Trânsito também participaram do salvamento). Ele lembrou que quando o carro parou na ponte, as pessoas começaram a bater nos vidros e uma mão se estendeu. "Foi aí que puxamos o senhor. A esposa se agarrou na calça dele, mas a arrancou. Em fração de segundos o carro desapareceu", disse. O resgate ocorreu por volta das 18 horas, mas o veículo só foi localizado por volta das 22 horas, sem ninguém dentro.

Após o resgate, o aposentado foi levado para o Hospital do Trabalhador em estado de choque. Ontem em casa, Tomyde Suguy narrou para os familiares todo o drama que viveu no interior do carro. "Ele disse que estava na rua marginal do córrego quando foi arrastado pela água", afirmou um sobrinho. "O Tomyde conta que o pedreiro saiu do carro um pouco antes de ele ser resgatado, dizendo que sabia nadar", disse um pastor amigo da família.

O Corpo de Bombeiros encontrou o corpo do pedreiro, ontem à tarde, no Rio Barigüi, na altura da Rodovia do Xisto, entre Curitiba e Araucária, a cerca de dois quilômetros do Córrego Formosa. Ele era casado e tinha dois filhos, com seis meses e onze anos. As buscas para localizar Marta Suguy começaram ontem e devem continuar hoje. A família colocou três botes para ajudar nas buscas.

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