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Serviço:O livro O lado negro da CIA, do autor Claudio Blanc, é da editora Idea, tem 224 páginas e preço sugerido R$ 35 |
Serviço:O livro O lado negro da CIA, do autor Claudio Blanc, é da editora Idea, tem 224 páginas e preço sugerido R$ 35| Foto:
  • Serviço:O livro CIA: manual oficial de turques e espionagem, dos autores Keith Melton e Robert Wallace, é da editora Lua de Papel (Leya), tem 224 páginas e preço sugerido R$ 34,90
  • Conheça alguns truques

É difícil imaginar, mas aconteceu na maior agência de investigação dos Estados Unidos: um mágico foi contratado de 1947 até 1973 para ensinar aos agentes da CIA (Central Intelligence Agency) truques sobre como enganar a "plateia". No caso da espionagem, as técnicas foram usadas para iludir o inimigo. Habilidosos nas mãos, os mágicos escondem debaixo das mangas do casaco os segredos para conseguir fazer a mágica sem que ela seja descoberta. Foi a partir deste conceito que os espiões aprenderam com John Mulhol­land como colocar, por exemplo, uma pílula mortal no copo de um inimigo sem que ele percebesse. Os espiões também conseguiram, depois das aulas com o ilusionista, tirar fotos com uma microcâmera sem que ninguém notasse – assim que a foto era feita, o miniequipamento rolava automaticamente para dentro da manga porque estava preso em uma espécie de fita elástica. O manual de Mulholland (em dois volumes), que estava perdido há muito tempo, foi encontrado em 2007 durante uma pesquisa de manuais da CIA. Trata-se de cópia única e hoje faz parte do acervo histórico da agência. Os papéis sobreviveram à ordem de 1973 do então diretor da CIA, Richard Helms, de destruir todos os documentos referentes ao projeto Mkultra.

"Da mesma forma que os métodos empregados pelos mágicos iludem uma plateia muito atenta, um agente secreto, ao realizar um trabalho de espionagem, deve iludir a vigilância intensa e transmitir mensagens e material sem detecção", afirma o consultor histórico da CIA Keith Melton, um dos autores do livro CIA: manual oficial de truques e espionagem.

As técnicas que hoje parecem bizarras, conforme explica Melton, foram alternativas à falta de tecnologia do período. Foi Mulholland que ensinou aos espiões como criar tanques infláveis de borracha para iludir a visão do inimigo: eles enganavam os olhos, enquanto os verdadeiros tanques de guerra estavam disfarçados com uma estrutura de madeira para se parecer com caminhão de transporte. Estes tanques perdiam suas coberturas e reapareciam no campo de batalha como se fosse uma mágica.

A técnica de troca de identidade também foi bem sucedida em Moscou. Um agente secreto norteamericano, ao planejar um encontro clandestino com um espião importante, teve de assegurar que não ficaria sujeito à vigilância. Para isso, ele coreografou uma performance com seu colega de trabalho, que era parecido com ele. Durante um evento oficial, em que os dois estavam presentes, o sósia conseguiu despistar os vigilantes do agente.

Aliás, a ideia de troca de identidade, pelo menos com os animais, não era tão nova assim. Durante a 2.ª Guerra Mundial, a divisão de operações especiais britânica criou uma camuflagem inovadora para os paraquedistas lançados secretamente sobre a França ocupada por alemães. Uma vaca de borracha, construída em duas peças, desmontável, era pintada e o espião pousava em área onde tivesse gado. Depois de estar seguro com o disfarce, ele o enterrava e seguia adiante.

Foi também na CIA que charutos cubanos foram fabricados com mortíferos para matar o comunista Fidel Castro – a tentativa, porém, teria sido abortada. Pasta de dente também foi usada como esconderijo para minirevólveres de calibre 22. Foi nesta embalagem também que um veneno foi implantado para depois a pasta ser colocada entre os artigos de higiene do presidente do Congo, Patrice Lumumba, em 1960. O plano, de última ho­­ra, teria sido rejeitado. A CIA desenvolveu ainda dardos disparados por pistolas que eram mais discretos que um fio de cabelo: não deixavam sinais no corpo das vítimas durante a autópsia. Outros lança-dardos foram feitos dentro de canetas tinteiros, bengalas e guarda-chuvas.

Hoje não se sabe se há mágicos infiltrados na CIA. O ilusionista Mulholland morreu em 1970 e, só em 1977, sua função na CIA foi descoberta, quando os documentos deixaram de ser confidenciais por causa da lei da liberdade de imprensa, que dá direito ao acesso a estes documentos. Segundo Melton, o mágico teria sido o único contratado pela CIA até então e ensinou aos agentes que o sucesso deles dependia do fato de que ninguém deveria reconhecê-los como trapaceiros. Por isso, técnicas de ilusão para entrega de pílulas, pós e poções pela CIA eram para serem feitas clandestinamente, mas na vista de todo mundo.

O lado obscuro da agência americana

"Eles dizem que são os perseguidores da democracia, mas isso é uma utopia." A frase do escritor Claudio Blanc resume os motivos que o levaram a escrever um livro de denúncia sobre a agência americana, lançado recentemente com o título O lado negro da CIA. A partir de documentos que estão aos poucos sendo liberados por meio de decisões da Justiça americana, ele e outros pesquisadores descobriram que a CIA matou pelo menos 6 milhões de pessoas, principalmente durante a Guerra Fria (1945-1991).

"Por isso que chamo de holocausto americano. E o pior, acho difícil que a CIA seja condenada pelos seus crimes", dispara o escritor. Blanc afirma que muitas pessoas sequestradas eram levadas de avião e, durante a viagem, torturadas no céu. Por se tratar de uma região neutra, diz Blanc, os agentes não poderiam ser julgados.

No Brasil, segundo ele, a CIA teve atuação direta, mesmo que discreta, durante a ditadura militar. "Os agentes apoiaram o golpe e depois ensinaram técnicas de tortura aos militares", conta.

Os experimentos com torturas foram um dos motivos que levaram várias pessoas à morte. Blanc explica que um dos manuais de tortura, chamado de Kubark, ensinava não apenas como praticar a dor física e psicológica, mas também demonstrava testes de como uma pessoa sequestrada reagiria em situações de falta de alimento por diversos dias ou noites sem dormir. "Drogas, como o LSD, foram usadas como soro da verdade. Eles davam a droga para a pessoa que seria interrogada e faziam pressão para que ela contasse tudo o que sabia. Durante o interrogatório, a pessoa ficava tão doida que acabava se jogando pela janela", explica.

Durante a perseguição aos comunistas na extinta União Soviética, Blanc afirma que agentes da CIA chegaram a envenenar rios de algumas regiões matando toda a população ao redor. "Eles queriam o controle e tinham pânico que o comunismo dominasse o mundo", lembra. "A CIA vai agir sempre em interesse do governo americano", diz.

Os cubanos teriam perdido a importância para a CIA, de acordo com Blanc, por falta de desenvolvimento econômico do país. Mas a atuação da agência continua no Iraque, onde agentes passam receitas de armas aos guerrilheiros do Irã. "Esses documentos ainda estão em parte censurados", afirma Blanc. Ele lembra ainda que, como o petróleo é considerado assunto de segurança nacional, há policiais e agentes engajados na proteção e controle dos oleodutos da Colômbia. Antes disso, uma das maiores atuações da CIA na América Latinha havia sido no Chile, quando agentes conseguiram impedir que o primeiro presidente comunista eleito, o Salvador Allende, não assumisse o poder. "Depois, Pinochet deu o golpe e Allende foi morto. Tudo por uma fortíssima atuação da agência", explica.

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