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Sem educação para valores como ética e disciplina na adolescência, o Brasil corre o risco de continuar a ver escândalos como o do mensalão. O alerta é do psiquiatra Içami Tiba, que lança em setembro "Adolescentes: Quem Ama, Educa", espécie de seqüência do best seller "Quem Ama, Educa", que já vendeu 700 mil exemplares. Hoje, o escritor estará em Curitiba para uma palestra e para uma tarde de autógrafos e falou à Gazeta do Povo sobre a nova obra e sobre a educação de adolescentes. "Tenho vasta experiência nesse ramo porque eu atendo famílias e lido com situações do dia-a-dia. Faço parte da turma que está por dentro dos conflitos. O que eu escrevo é o que o povo já viveu e o que eu já trabalhei no consultório", afirma.

Gazeta do Povo – Como será seu próximo livro?Içami Tiba – É uma continuação do "Quem Ama, Educa", mas agora lidando com adolescentes. Meu objetivo é que os pais preparem o adolescente para ser um cidadão. Por isso o título: quem ama o adolescente é que tem de se virar par educá-lo. O conteúdo ainda é bastante sigiloso, mas posso adiantar que no livro exploro muito bem essas situações novas que os pais enfrentam, como os filhos que querem dormir com namorado ou namorada em casa, e identifico novos conflitos familiares se formando. É importante ressaltar que meu público são os pais: eu escrevi um livro chamado "Seja feliz, meu filho!" e o pai nem lê, compra e dá para o filho. Isso não resolve nada. Mas, por outro lado, os pais não podem ficar esperando receitas prontas que dão certo automaticamente: eles têm de fazer as adaptações. O que eu faço é dar a eles a oportunidade de adquirir conhecimento.

– Quais os erros dos pais na formação dos adolescentes?– Os pais agradam demais os filhos e não exigem deles o que eles podem produzir. O pai deve fazer com que o filho, em casa, já comece a funcionar como se deve funcionar na sociedade. As falhas na formação familiar e escolar acabam criando pessoas despreparadas para serem cidadãos. Faltam valores para que as pessoas não abusem da sua posição de filhos, de pais, ou de situações de poder. Falo de valores superiores, que levam em consideração não as coisas materiais, mas as coisas que não se compram, como ética e disciplina. Ensinar isso é função tanto da escola quanto de casa. É justamente quando começam esses abusos do poder é que surgem os mensalões. Olhando agora, parece até que meu livro foi escrito depois de todo esse escândalo. Felizmente, sempre é possível consertar uma formação que começou falha. Temos a possibilidade de mudar o passo seguinte, pois para o ser humano não está nada definido, ao contrário dos animais, que têm comportamento geneticamente programado.

– Em que situações práticas é possível educar os valores?– Um exemplo simples: a criança tem de guardar o próprio brinquedo. Se ela é capaz de tirar do lugar, não tem por que não colocar de volta. Uma coisa como essa vai fazer com que ele não seja um parafuso de geléia, que vai espanar quando levar um apertão da vida, que não vai levar as coisas até o fim. Essa educação começa dentro de casa, mas para isso os pais têm de tomar um cuidado muito grande e aprender a lidar com princípios fundamentais de educação: constância, coerência e conseqüência.

– Que mudanças ocorreram na família nas últimas décadas?A família de hoje não é a mesma que o pai conheceu quando ele era adolescente. É preciso clicar o botão atualizar, saber que a família deve ser formada como equipe de trabalho. A adolescência é um segundo parto. Nesse processo quem está nascendo sofre, quem está parindo sofre, e normalmente os pais negam esse segundo parto quando querem tratar o filho adolescente como se fosse criança. E acabam sofrendo mais. A mudança para melhor veio da tecnologia, mas ao mesmo tempo houve uma diminuição da importância dos relacionamentos familiares.

– Adolescentes são todos iguais, ou apresentam diferenças ao redor do mundo?– O jovem dos países desenvolvidos tem mais recursos, estuda muito mais, o dinheiro chega até ele para o estudo. No Brasil, se destina muito dinheiro para a educação, mas pouco chega até o adolescente, isso tira a oportunidade para ele crescer. A adolescência é abandonada no Brasil, porque os políticos são maus pais públicos. Isso fez do nosso adolescente mais solto, com capacidade de luta. Ele funciona mais por si que pelos outros, e muitos deles vão à luta por aí, e até fora do país.

– Como os pais devem lidar com a questão das drogas?– Não existe blindagem contra as drogas, ainda mais com esses furos do clicar dos botões. O filho hoje não tem como ser colocado numa bolha pelos pais. Antigamente você podia colocá-lo no quarto e pronto, mas agora ele se conecta ao mundo dentro do quarto. E não dá pra impedir esse acesso. A educação que os filhos recebem não é suficiente para a conscientização sobre as drogas, então é por isso que os pais têm de se capacitar para serem educadores.

– O senhor já tem idéias para novos livros?– Pela frente vem todo um projeto maior que os livros, é algo que guardo no meu coração e acho que isso vai realmente mobilizar o Brasil. Com a venda dos livros, meu nome ficou ainda mais ventilado e agora preciso fazer uma coisa um pouco mais diferenciada. Eu não gosto de antecipar informações porque sempre tem um espertinho por aí, então ainda é segredo por enquanto.

Serviço: Tarde de autógrafos, hoje, 16h30, nas Livrarias Curitiba Megastore – Shopping Estação. Palestra "Vida Profissional e Família", hoje, 19 horas, no Teatro UnicenP (prédio da Pós-Graduação e Extensão) – Rua Pedro Viriato Parigot de Souza 5.300, Campo Comprido. Convites: R$ 40, à venda nas Livrarias Curitiba. Mais informações pelo telefone 3317-3210.

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