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Bem representados, os alunos da Escola Graciliano Ramos aguardam a nova gibiteca reivindicada à Secretaria de Educação de Curitiba | Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Bem representados, os alunos da Escola Graciliano Ramos aguardam a nova gibiteca reivindicada à Secretaria de Educação de Curitiba| Foto: Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo

11 das 184 escolas municipais de Curitiba têm grêmios estudantis compostos por jovens do 6º ao 9º anos, além da Graciliano Ramos, cujo grêmio reúne crianças do 1º ao 5º anos.

Experiência

Grêmio estudantil abre espaço para o exercício da coletividade

"Quem quer jogar um jogo tem de saber as regras dele", defende Bernardo Pimenta Barboza, 10 anos, diretor de Meio Ambiente do grêmio da Escola Municipal Graciliano Ramos, em Curitiba. Para ele, a chave para representar bem os colegas está em observar o dia a dia, anotar as demandas dos estudantes e conhecer as regras da escola. A fala de Bernardo reforça o que pontuam os especialistas: o grêmio permite às crianças compreender o funcionamento da coletividade e a construção conjunta das regras sociais. Elas passam a entender que existem acordos que garantem uma harmonia da sociedade, sem precisar obedecer às regras apenas por obediência.

Para o sociólogo Nelson Rosário de Souza, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), um dos dilemas históricos da escola é estabelecer uma relação pedagógica e, ao mesmo tempo, respeitar o princípio da autonomia. "Essa experiência do grêmio na escola Graciliano Ramos parece proporcionar isso", afirma Souza. "Ou as escolas fazem isso desde o início da trajetória escolar ou fica difícil que o colégio contribua para esse processo mais tarde", enfatiza.

Outra faceta que o grêmio da Graciliano Ramos mostra é que a resolução dos problemas não depende apenas das instituições oficiais. Faz-se necessária uma cultura política de não transferir integralmente ao Estado a responsabilidade por aquilo que os cidadãos podem fazer para mudar ou melhorar a sociedade. Segundo esse viés, a participação das pessoas e a criação de agremiações fazem a diferença. "E essa ideia se baseia em três fundamentos: no otimismo quanto à eficácia da própria participação, na confiança no próximo e na tendência ao associativismo para solução dos problemas", explica Souza.

Reunida, a cúpula aguarda apenas o diretor de Meio Ambiente e a secretária para dar início aos debates sobre as políticas vigentes. A cena lembra o encontro oficial de uma instituição europeia, mas retrata a reunião mensal de 50 estudantes com idades entre 5 e 10 anos da Escola Municipal Graciliano Ramos, a única em Curitiba a abrigar um grêmio estudantil para alunos do 1.º ao 5.º anos do ensino fundamental.

Ninguém sabe com precisão a origem da agremiação, mas o grupo é a menina dos olhos da escola desde os anos 1980. A cada ano, os 700 alunos do colégio do Fazendinha são convocados a comparecer às urnas para eleger a chapa que vai representá-los e terá a árdua tarefa de melhorar o ambiente escolar. "A escola é o espaço delas. Se as crianças sentem necessidade de algo, elas percebem que o grêmio é o lugar onde elas podem reivindicar. O grupo acaba se tornando um minilaboratório para a cidadania", afirma a diretora da escola, Sirley Kohler.

Diuliano Cesar Cancelier, 9 anos, vice-presidente do grêmio, lembra que tamanho não é documento quando se trata de exercer a cidadania. "É desafiador participar do grupo, mas conseguimos melhorar a escola para todos mesmo com o pouco que sabemos", confessa, lembrando com orgulho do sistema de filas adotado para solucionar a baderna na saída dos estudantes.

Nos encontros mensais, os 44 representantes de turma e os seis integrantes do grêmio levam as demandas dos colegas para a diretoria e sugerem mudanças, criticam abertamente e até elogiam. "As crianças observam tudo e cobram seus direitos. De tacos de madeira que precisam ser trocados a mudanças extremas na merenda", destaca a vice-diretora, Ivone Teter Moreira.

Bandeiras

O carro-chefe da vez é a reforma da escola. Os estudantes cobram mensalmente rampas de acesso e adaptação de banheiros para colegas com necessidades especiais, a criação de uma horta e a construção de uma nova gibiteca, demolida recentemente devido ao péssimo estado de uma estrutura de madeira. As reivindicações chegaram inclusive à secretária da Educação de Curitiba, Roberlayne Roballo.

Após visitar a escola, guiada pelos alunos, a secretária convocou uma reunião extraoficial para estudar soluções para o colégio ainda neste ano. "Os alunos são extremamente articulados. Poder sentar e dialogar com os próprios agentes da escola é revigorante. Eles valorizam aquele espaço e querem que as próximas gerações possam tirar proveito da melhoria deles também", conta Roberlayne, que prevê estender para toda a rede municipal os grêmios estudantis para alunos da primeira etapa do ensino fundamental.

A notícia alegra os representantes da Graciliano Ramos, que se sentem realizados por servirem de inspiração para outras escolas. "É recompensador cumprir as promessas. Apesar da dor de cabeça que é ser representante, já que qualquer cobrança dos colegas cai em cima da gente", diz Emilly Vitoria Florencio, 10 anos, diretora de Cultura do grêmio.

Já foi ou é de uma agremiação estudantil? Como você enxerga essa experiência?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

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