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Uma cidade até próspera, mas sujeita às chuvas e trovoadas do agronegócio primário, com crescimento vegetativo estagnado e pouca perspectiva de prosperidade para os mais jovens, que deixavam a região em massa. Assim era Pato Branco, no Sudoeste do estado, até o início dos anos 90. Pouco mais de uma década depois, o município de 68 mil habitantes, a 433 quilômetros de Curitiba, tem o terceiro Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado, é a cidade com mais de 50 mil habitantes com a menor taxa de mortalidade infantil no Brasil (o que lhe rendeu até prêmio da ONU) e exibe melhorias sensíveis nos números da educação, geração de empregos, expectativa de vida, freqüência escolar e renda per capita, além de ter praticamente erradicado o analfabetismo – restrito a 6,78% da população. Tem mais: está para se firmar como pólo tecnológico do estado.

O "milagre" pato-branquense coincide com a abertura da unidade do então Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) na região, em 1993, quando inicialmente foram implantados os cursos de nível médio – Geomensura e Alimentos, em Pato Branco, e Agricultura e Zootecnia, no câmpus Dois Vizinhos. Além desses, a hoje Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) oferece nove cursos de nível superior (Agronomia, Administração, Ciências Contábeis, Licenciatura em Matemática, Gestão em Sistemas de Informação, Gestão de Obras, Manutenção Industrial, Automação Industrial e Química). São 230 professores, 54 técnicos administrativos e 3,2 mil alunos nos dois câmpus, que contam com um orçamento anual de R$ 2 milhões para custeio (R$ 8 milhões se for considerada a folha de pagamento).

"Num primeiro momento, o impacto do Cefet foi direto, pela vinda de todo esse pessoal para cá, com uma folha de pagamento e um potencial de consumo razoável", explica a engenheira agrônoma Tangriani Simioni Assmann, diretora da UTFPR em Pato Branco. "Tanto que a cidade não estava preparada para isso. Foi um suplício arrumar uma casa ou apartamento para alugar", conta ela, que deixou Curitiba com o marido e o filho em 1994, quando passou no concurso para professor da unidade.

A diretora lembra que o Sudoeste, até então, sempre tinha sido meio "deixado de lado" pelos governos estadual e federal. "Sem um grande parque industrial e com uma produção agrícola mais tímida do que outras áreas do estado, essa região era um ‘bolsão’ onde o desenvolvimento não chegava", comenta. Com a abertura da unidade, assim que se formaram as primeiras turmas o Cefet começou a suprir parte da demanda por técnicos em áreas como construção civil e indústria. "Mas ainda formamos pouco, aproximadamente 20 graduados por semestre nos cursos de tecnologia, o que é insuficiente para atender às necessidades do setor", explica a diretora.

A escola de tecnologia também passou a incrementar a vocação original do município – a agricultura. "A mecanização e a mão-de-obra qualificada no campo deixava muito a desejar", conta Tangriani. "Mas a partir de 1997, quando se formou a primeira turma de Agronomia, esse cenário começou a mudar. E a ajuda dos municípios da região foi fundamental para isso, já que a UTFPR não recebe nenhuma verba para investimento." Ela cita como exemplo desse auxílio das prefeituras o empréstimo de equipamentos, como tratores usados no curso de Agronomia, e o próprio terreno ocupado pela escola, cedido em regime de comodato.

Embora a economia da cidade ainda seja ancorada na agropecuária, os negócios começam a se diversificar, com a instalação de empresas nas áreas de informática e eletroeletrônica, por exemplo. "Em 1995, foi inaugurada a Pato Branco Tecnópole, um centro de empresas de base tecnológica construído próximo ao Cefet, para absorver os profissionais formados pela instituição", explica a diretora da UTFPR. "Esse projeto permitiu que empresas como a Hossonic, a única do Brasil a fabricar um cristal oscilatório usado em rádios e tevês, se instalasse aqui."

O desafio agora é segurar os talentos formados na região. "Muitos ainda acabam saindo daqui depois que se formam, atrás de melhores salários e oportunidades mais variadas", destaca Tangriani "Mas a região tem tudo para se tornar referência em tecnologia no estado. Além disso, diante de situações como a crise na segurança pública de São Paulo, as empresas vão ter de parar para pensar, o que pode se refletir no desenvolvimento do interior do país."

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