Se o povo curitibano fosse um estudante universitário, estaria em recuperação por nota baixa na avaliação de quem vem de outras cidades morar na capital paranaense. De zero a dez, 6,6 foi a nota que o nativo de Curitiba recebeu de pessoas de fora que estão morando na cidade há menos de seis anos, de acordo com pesquisa feita pela Paraná Pesquisas com exclusividade para a Gazeta do Povo. A cidade de Curitiba, por sua vez, foi mais bem avaliada: 8,6.
O levantamento mostra que 73,4% dos entrevistados se consideram bem integrados à cidade. Já a integração com os curitibanos cai para 57,6%. "É um sinal de que os equipamentos urbanos e a infra-estrutura agradam mais que o jeito de ser dos moradores", analisa o sociológo Ricardo Costa de Oliveira, professor da UFPR. As respostas confirmam o que ele diz: segundo a pesquisa, pesa a favor da cidade, principalmente, a oportunidade de emprego que os "estrangeiros" não encontraram em seus locais de origem e organização e qualidade de vida de uma capital tida como bem planejada.
Para a arquiteta Célia Bim, assessora de projetos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), o transporte coletivo, o sistema viário e os parques urbanos são os fatores que somam pontos na integração dos novos moradores. "Os parques, por exemplo, são locais democráticos, onde os moradores têm diversão e lazer de graça", diz ela. A idéia de uma cidade limpa e com melhor qualidade de vida, destaca Célia, também costuma chamar a atenção de quem é de fora. "Neste caso, dar uma nota menor para o curitibano é injusto, porque a cidade também é um reflexo da atitude de quem mora aqui. Os curitibanos são muito exigentes e isto contribui para Curitiba. Programas como o de separação de lixo só tiveram sucesso porque receberam a participação maciça da população."
Mas não é do bom hábito de evitar jogar lixo no chão que os "estrangeiros" pensam primeiro quando falam de quem nasceu em Curitiba. Para 55,7% dos entrevistados, o adjetivo "fechado" foi o mais usado para classificar o jeito do curitibano típico (veja quadro). Os mais radicais acreditam que "arrogante" definiria melhor o curitibano. Não é de hoje que o assunto é polêmico, mas há cerca de um mês a Coluna do Leitor da Gazeta do Povo vêm recebendo cartas ora reclamando ora enaltecendo o comportamento do morador da capital. O estudante de Ciências Sociais, Otávio Oscar, de 18 anos, não mandou carta, mas usa de sua experiência de pouco mais de quatro meses na cidade para definir o curitibano típico. "Ele fala pouco, não é de muito contato físico e vive sempre no mesmo grupo de relações. Se um estranho puxa conversa, ele até responde, mas não dá continuidade ao assunto. Se você está em uma fila, dificilmente fica sem conversar com quem está ao seu lado. Aqui, passei a levar o MP3 [tocador de música] e um livro quando vou pegar ônibus, porque eu já sei que não vou conversar com ninguém", resume o estudante macapaense.
Origem histórica
O modo introvertido de ser do curitibano pode ser explicado pela formação étnica da cidade. A socióloga Maria Olga Mattar, professora de Sociologia da Sociedade Contemporânea no mestrado de Direito da PUCPR, explica que como muitas etnias ajudaram a formar a população de Curitiba, houve uma falta de comunicabilidade entre os diferentes grupos. "Eram famílias de costumes diferentes entre si, que só conviviam dentro de seus grupos fechados", diz ela. Outra explicação, segundo a professora, é o fato de que a cidade era apenas um ponto de passagem nos tempos dos tropeiros. "Por isso havia desconfiança, por parte de quem era daqui, em relação aos que vinham de fora." O sociólogo da UFPR Ricardo Costa de Oliveira lembra que 30 anos atrás o comportamento do curitibano era mais excludente. "Poucos grupos de famílias viviam na cidade, chegavam a freqüentar clubes fechados. Quando alguém era apresentado, as pessoas perguntavam o sobrenome para saber as referências das pessoas", diz.
Para o diretor da Paraná Pesquisas, Murilo Lopes de Oliveira, embora 52% dos entrevistados digam que tiveram facilidade (45,4%) ou muita facilidade (6,9%) para fazer amigos na capital paranaense, o fato de quase metade das pessoas de fora dizerem que sentiram alguma dificuldade é um dos pontos que chama atenção na pesquisa. "Isso mostra que a cidade é boa, mas o povo não é considerado acolhedor", diz ele. A psicóloga Lídia Weber, especialista em Análise de Comportamento da UFPR, avalia que um dado como esse serve como uma questão a ser repensada pela população. "Talvez fosse o caso de tentar ser mais receptivo, porque o que todos querem na vida é atenção e amizade."
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