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A pequena cidade de Borborema, na região de Araraquara, no interior de São Paulo, entrou em comoção após o acidente que matou estudantes e funcionários da Escola Estadual Gastão Liberal Pinto. Com três dias de luto decretado pela prefeitura, o comércio fechou as portas ao meio-dia. Nas fachadas, só cartazes com a palavra "luto". Os prédios públicos também interromperam as atividades e colocaram cartazes.

Na maioria das ruas não se via nenhuma movimentação - a concentração ficou restrita a uma via: a Rua Luiz de Martins, na Vila Cristina, onde fica o Ginásio Municipal, local do velório. Ao menos 5 mil pessoas estiveram ali para prestar solidariedade às famílias das vítimas - um em cada três habitantes.

"É a maior tragédia (da história) de Borborema", afirmou o prefeito Virgilinho Amaral (PSDB). "A cidade está parada. Aqui todo mundo se conhece", disse. O prefeito afirmou conhecer a maior parte das vítimas da tragédia. Ele recebeu pêsames do secretário estadual de Educação, Herman Voorwald, que representou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) no velório.

Apenas um dos corpos das vítimas foi levado para ser enterrado em Itápolis. Os demais seguiram para o velório coletivo, que teve início às 17 horas, em um ginásio completamente lotado. À entrada do primeiro caixão, houve muitos aplausos. E o ritual se repetia a cada corpo que entrava pelas porta dos fundos do centro municipal.

Com o local lotado, o calor intenso e a emoção, cerca de 200 pessoas passaram mal - ao menos 20 precisaram ser socorridas e levadas para o pronto-socorro da cidade. Médicos, enfermeiros e assistentes sociais prestavam apoio às famílias.

Por todos os lados, se viam pessoas em longos abraços e choros incontidos. Muitos vestiam o uniforme do colégio ou de times da cidade em que os mortos jogavam. "Eram amigos, irmãos do peito. Tudo foi de repente, agora é pedir para que Deus ilumine a alma deles", disse Júnior de Oliveira, de 18 anos, ex-aluno do colégio, que usava um terço nos dedos.

Bastante emocionada, Isabel Cristina, de 47 anos, não conseguia conter o choro. Ela é tia de Margarete dos Santos, de 34, a professora que morreu na rodovia. "Foi uma pessoa maravilhosa, dedicava sua vida ao trabalho", relatou. A professora deixou três filhos. Dois deles estavam no ônibus acidentado. Uma adolescente de 15 anos, que quebrou o braço, e um jovem de 17, que continuava ontem internado na UTI da Santa Casa local, em estado grave, segundo informaram parentes.

Mensagens. As mensagens das vítimas e de familiares nas redes sociais também eram vistas e comoviam os presentes. "Essa vida é uma viagem, pena eu estar só de passagem", publicou no Facebook José Vinicius Francisco Anzolin, de 17 anos, uma das vítimas do acidente em Ibitinga. Ele conseguiu um lugar de última hora no ônibus dos estudantes e agradeceu um colega por ter seguido viagem. "Graças a suas mãos milagrosas, se não fosse por você eu não iria 'parça'."

Socorrista narra 'cena de guerra' em local de acidente

Mais de 12 horas após a colisão entre o ônibus e a carreta, na altura da cidade de Ibitinga, ainda era possível ver, às margens da estrada SP-304 (a Rodovia Deputado Leônidas Pacheco Ferreira) marcas do acidente. Sobre o asfalto restavam ainda pares perdidos de sapato, pedaços queimados de roupa e parte do banco do coletivo retorcido pelo impacto com a carreta, que acabou em chamas.

Testemunhas do acidente afirmam que o Corpo de Bombeiros local e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) não demoraram para prestar socorro.

Houve ainda ajuda da Polícia Rodoviária e de ambulâncias enviadas pelas prefeituras de Ibitinga e Borborema.

Mas as cenas não devem sair tão cedo da memória de quem prestou socorro. De férias na granja do cunhado, às margens do local do acidente, o funcionário público Cláudio Giradelli, de 54 anos, ainda não havia conseguido dormir. "Parecia uma cena de guerra. Gente se arrastando, várias pessoas gritando, descontroladas..."

Giradelli relata que estava em casa quando ouviu um estrondo muito forte. "O relógio marcava 23h20." Da janela, avistou um clarão e logo percebeu que se tratava de uma carreta em chamas. "O fogo estava muito alto", disse. Logo depois, vieram os gritos. Assustado, correu para a estrada.

Quando fala do que viu, o servidor contrai os lábios. De um lado lembra que havia uma carreta em chamas. Do outro, recorda de um ônibus com a lateral direita completamente arrancada pela colisão. Por causa do impacto, vários corpos foram arremessados para o asfalto, a maior parte de jovens; outros foram parar depois do acostamento. Muitos feridos se arrastavam sobre a pista, que passa por revitalização e não tem sinalização.

Ele conta que ajudou a retirar duas pessoas das ferragens do coletivo, juntamente com o cunhado. Os sobreviventes também tentavam ajudar a retirar pessoas presas em meio aos ferros retorcidos. O corre-corre, a desordem e o desespero eram grandes. "Todos estavam com medo de pegar fogo no ônibus", diz.

Macas

Vários caminhoneiros que passavam pela estrada também pararam e desceram para socorrer as vítimas. Os feridos eram postos em macas e levados de ambulância para os hospitais.

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