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O desrespeito ao limite anual de internamentos hospitalares no Paraná no ano passado – de 8% em proporção ao número de moradores –, conforme a Gazeta do Povo revelou ontem, evidenciou a dificuldade dos municípios sobreviverem sem os recursos das autorizações para internação hospitalar (AIHs). Neste ano, o governo reduziu o teto para 7,5%.

Matelândia, no Oeste do estado, extrapolou a casa de 14% em internações. A secretária de Saúde da cidade, Margarete Debertolis, conta que o número excessivo de pessoas hospitalizadas no ano passado forçou uma reavaliação de todo o sistema de atendimento de Matelândia. "Houve, sim, um descontrole no que era necessário internar. Na verdade, não dá pra internar qualquer coisa", admite. A cidade tem dois hospitais – um com 50 e outro com 38 leitos – e eles são as únicas opções para quem procura atendimento à noite. "De dia, tem as unidades de saúde. Como à noite não há atenção básica, muitos casos que não eram realmente graves resultavam em internamentos", explica. A cidade de 16 mil habitantes tem 100% de cobertura do Programa Saúde da Família, mas ainda assim teria problemas no atendimento de saúde básica.

Por causa da redução do teto para 7,5%, a secretária acredita que um dos dois hospitais não terá dinheiro suficiente para se manter e pode fechar as portas. Matelândia é referência de atendimento para quatro cidades da região – que não contam com pequenos hospitais, essenciais para a realização de partos e cirurgias de emergência, como a de apendicite.

Ela lamenta que o sistema de saúde esteja organizado de uma forma que acaba resultando em desperdício de recursos públicos. "Se a pessoa é atendida pelo serviço de urgência com um problema grave acaba sendo internada num hospital de pequeno porte, depois aparece a vaga para um hospital de média complexidade e ela vai para lá até conseguir leito em um hospital maior. Só nesse caminho foram queimadas três AIHs", conta. A redução dos recursos para hospitais menores deve acarretar ainda, acredita Margarete, numa sobrecarga nos já lotados hospitais de médio e grande porte.

Atraso

Em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, o secretário municipal de Saúde, Armando Raggio, não vê prova da eficiência do sistema de saúde no porcentual de 6,1% de internados que a cidade teve em 2010. "Temos cirurgias eletivas [que dependem de internação] represadas", diz. Ele conta que no ano passado aconteceram 16 mil internações e que em 2011, com a possibilidade de conseguir 19 mil autorizações, ele espera vencer a fila de pessoas que esperam para fazer operações pré-agendadas.

Raggio, que já foi secretário estadual da Saúde, comenta que a proporção de internamento já foi de 10% da população brasileira – e hoje é de 6,1%. Para ele, o parâmetro de 7,5% é técnico, mesmo porque existem lugares no mundo em que o índice é bem menor. "No passado, internava por qualquer coisa, até por via das dúvidas", ironiza.

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