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Curitiba – É difícil acreditar em um fim de ano tranqüilo nos aeroportos. A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "achar" que a "crise aérea já acabou" não convenceu representantes do setor no país. Na quarta-feira passada, companhias aéreas, deputados e sindicalistas entregaram ao presidente um texto com reivindicações para a aviação brasileira. No topo da lista, mais investimentos e o aumento do número de controladores de tráfego. Mas o problema não se esgota com essas medidas; para os especialistas, outras soluções precisam ser implantadas (veja abaixo). É preciso melhorar a gestão e saber como e onde investir o dinheiro. A média diária de vôos com mais de uma hora de atraso no país foi de 20% nos últimos dias, desempenho considerado "estável" pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O teste de fogo começa nesta sexta-feira, antes do Natal, quando se espera um aumento de 25% no número de passageiros.

Melhorar a gestão

Durante a crise dos últimos meses, quando passageiros chegaram a passar 22 horas no aeroporto para viajar, além do apagão no ar, o país se surpreendeu com a desorganização das autoridades em terra. "O ministro da Defesa, Waldir Pires, não se entendia com o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno. A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) não tinha dados sobre a crise e mostrou não estar capacitada para atender o setor", lembra James Rojas Waterhouse, professor de Engenharia de Materiais, aeronáutica e automobilística, da Universidade de São Paulo (USP). "É preciso definir bem quem faz o quê", completa a economista e consultora do setor Amarílis Romano, Tendências Consultoria.

O grupo de trabalho de companhias aéreas, parlamentares e sindicalistas sugeriu ao presidente Lula a criação de uma secretaria dentro do Ministério de Defesa, civil, com acesso à forma como trabalham os controladores de vôo, para propor sugestões e melhorias. "Não pode ocorrer que exista uma caixa-preta no controle de tráfego aéreo da qual a sociedade não tenha acesso", define Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas.Mais investimentos

A prometida descentralização dos Cindactas, que controlam o espaço aéreo, a melhoria da infra-estrutura de radares e comunicação, além dos investimentos em aeroportos, exigem uma ampliação dos recursos. Dados do Tribunal de Contas da União mostram que o governo deixou de investir mais de R$ 500 milhões no setor, de 2004 a 2006, quantia equivalente ao previsto para um ano. Se, de acordo com o brigadeiro José Carlos Pereira presidente da Infraero, estatal responsável pela administração dos aeroportos, seriam necessários pelo menos R$ 7 bilhões para adaptar só os aeroportos às necessidades de mercado até 2010, vai faltar dinheiro. "O governo não vai ter dinheiro para aplicar o capital necessário nessas obras. A solução de saneamento seria trabalhar com a iniciativa privada, por meio das parcerias público-privadas", analisa Amarílis Romano, da Tendências Consultoria.

Despolitizar a Anac

Agências como a Anac foram criadas para garantir uma gestão técnica continuada, que não sofresse com intempéries políticas e, dessa forma, protegesse setores estratégicos do país. "Mas a Anac ainda não conseguiu melhorar nesse ponto. A diretoria é ainda pouco técnica e, dentro da agência, faltam especialistas com experiência comprovada no setor aéreo. A população vê apenas o lado dos passageiros, mas aviação no Brasil é muito mais que isso, está na agricultura, na fabricação de aviões, no salvamento de vidas. O resultado é o pior possível. Ficamos com uma imagem no exterior de que é perigoso voar no país, algo grave para esse mercado, que representa empresas e empregos", diz James Waterhouse, da USP.

Desmilitarizar o controle aéreo

"A crise do setor aéreo comprovou que a Aeronáutica não tem condições de continuar a gerenciar o controle do tráfego aéreo", insiste Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas. "As discussões avançam para que a aviação civil fique nas mãos dos civis e a segurança com os militares", continua.

André Castellani, especialista no setor aéreo da consultoria Bain & Company, acrescenta que o setor de aviação civil precisa ser entendido como uma empresa, com planejamento a médio e longo prazo. "Pensando nisso, quase todos os países desenvolvidos optaram por um sistema de controle civil", afirma.

Capacitar os controladores

Faltam controladores de tráfego preparados para a responsabilidade desse serviço. A solução para isso não consiste em apenas contratar mais pessoas, mas em formar melhor a categoria. "Em uma área tão estratégica, vemos pessoas recém-formadas em pontos nevrálgicos. Também não temos no Brasil pessoas capacitadas para criar sistema de controle de tráfego eficientes e apontar as deficiências", diz James Waterhouse, da USP. Para Graziella Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, é preciso discutir também a relação trabalhista dos controladores. "Criar, por exemplo, um quadro de carreira e salários de acordo com as suas responsabilidades, que representam vidas", avalia.

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