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Coisas que sei dele

Escrever sobre um cole­­ga de trabalho é difícil.­­ Sobre um companheiro, amigo e compadre,­­ igualmente. Sobre um irmão, ir­­mão mesmo, é muito mais com­­plicado ainda. Até porque­­ temos Caim e Abel. Não é o caso de Mussa José Assis, que não­­ se enquadra, evidentemente, no caso bíblico. Tive o privilégio de conhecê-lo, conviver com ele, aprender e até irmanar-se em pescarias de lambari no Rio Verde, entre outros pesqueiros. Ele incorporava as três coisas ao mesmo tempo. Permanentemente.

Conheci o Mussa (de longe)­­ quan­­do era office-boy – ou con­­tínuo – da sucursal da Úl­­ti­­ma Hora no Paraná, no Edifício Asa. Depredada, aliás, pela extrema direita em 1964. Entre estudantes açulados por professores de um colégio religioso, alguns "colegas" de profissão, que foram fotografados por Al­­ci­­des Machado, o Baiano, fotógrafo da UH. Baiano subiu até a ala residencial do prédio e, de cima, da janela do apartamento do jornalista Alenir Emídio Du­­tra­­ (repórter policial do jornal do Sa­­muel Wainer), passou a estourar o flash sobre o grupelho que se concentrava na porta do prédio que dava para a Pra­­ça Osório. Até nisso, na pronta intervenção jornalística, estava o dedo do Mussa.

Em 1967, entrei no jornal O Es­­ta­­do do Paraná por indicação de jornalistas da UH. Mussa era o chefe de redação e há que se dizer que ele simplesmen­­te­­ revolucionou a imprensa­­ paranaense. O jornal ficava na Rua Barão do Rio Branco, 156. Depois, com o jornal já nas Mer­­cês, continuei a compartilhar a amizade e o profissionalis­­mo com o Turquinho (epa! Pela primeira vez utilizo em público­­ o apelido do Mussa, o que era de uso restrito de poucos profissio­­nais, como João Féder, Nacin Ba­­cila Neto e João Dedeus Frei­­tas Neto, sem falar do Raul­­zi­­nho, do Estadão).

Foi por obra dele­­ que O Estado do Paraná foi o primei­­ro da imprensa paranaense a:

- Implantar a diagramação de páginas – até então, mandava-se o texto para a composição a chumbo e o chefe da oficina "cortava" o texto quando a matéria "estourava". Quando faltava texto para completar a página, recorria-se ao calhau, geralmente um pequeno anúncio (em clichê) de uma coluna;

- Adotar um manual de redação, seguindo, de início, as normas do Jornal do Brasil;

- Teletipo, da UPI. Também até então, o noticiário nacional e internacional dependia da agência Transpress (sistema radio-escuta local e distribuição de cópias feitas com papel carbono para os assinantes);

- Telex. Algo fantástico para a época.

- Radiofoto. Fotos da agência UPI para ilustrar o noticiário internacional. O Estado do Paraná, aliás, inaugurou o sistema com a descida do homem na Lua. O problema era traduzir as legendas, que vinham em inglês;

- Telefoto. Transmissão – por telefone – de fotos batidas pelos próprios fotógrafos do jornal. Pato Branco? Bastava pedir uma ligação para o jornal, retirar o bocal do telefone, acoplar o aparelho e transmitir as fotos. Processo lento, irritante pelo barulhinho;

- Sistema off-set de impressão. Cores no jornal; o crédito do fotógrafo nas fotos, começando pela primeira página;

- Tudo isso sem esquecer a grande prioridade do Mussa: montar um time de bons profissionais e cuidar dos arquivos fotográfico e de textos. Ele contribuía, mandando para lá textos e documentos de interesse histórico. Mas é melhor parar por aqui. Caso contrário, alguns dos discípulos do Turquinho poderiam dizer que o autor do texto está "enchendo linguiça". E ele, o Mussa, evidentemente não merece isso.

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