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Protesto feito ontem com rosas, mordaças e togas, em São Gonçalo (RJ), pediu resposta rápida à morte de juíza | Tasso Marcelo/Ag. Estado
Protesto feito ontem com rosas, mordaças e togas, em São Gonçalo (RJ), pediu resposta rápida à morte de juíza| Foto: Tasso Marcelo/Ag. Estado

Reação

Manifestantes usam mordaça em protesto

Voluntários, moradores de São Gonçalo (RJ) e parentes da juíza Patrícia Acioli fizeram ontem um protesto em frente do Fórum da cidade. Usando mordaças pretas, togas e exemplares do Código Penal e segurando rosas vermelhas, eles cobram a rápida elucidação do crime, com a identificação e punição dos culpados.

Para o presidente da organização não governamental Rio de Paz – responsável pelo ato –, Antônio Carlos Costa, o momento é de indignação pelo ataque não apenas a "uma cidadã, mãe de três filhos", mas também ao Estado Democrático de Direito. "O crime foi muito grave e é preciso que haja uma solução rápida, senão daqui a pouco o Rio de Janeiro vai virar uma Colômbia", afirmou.

Investigação

Até as 16 horas de ontem, o Disque-Denúncia havia recebido 82 telefonemas com informações sobre o assassinato de Patrícia. Segundo os investigadores, imagens de câmeras de segurança flagraram o momento em que os criminosos fugiam após o crime. Nenhuma linha de investigação foi descartada. Há suspeitas de que a execução esteja ligada a milícias, grupos de extermínio, agiotas, máfias de vans e até de crime passional.

Uma força-tarefa formada por três juízes assumiu ontem a 4.ª Vara Criminal de São Gonçalo, on­­de trabalhava a magistrada Patrícia Acioli, assassinada com 21 tiros quando chegava em casa na noite de quinta-feira, em Niterói (RJ). Ale­­xandre Oliveira Camacho de França, Marcelo Castro Anatocles da Silva Ferreira e Adillar dos San­­tos Teixeira Pinto farão um levantamento dos casos que estavam sob responsabilidade da juíza para avaliar possíveis ligações entre os réus dos processos e o crime.Patrícia atuava principalmente no combate de milícias, grupos de extermínio e máfia de vans. Também era rigorosa no julgamento de autos de resistência (registros de mortes em confrontos com a polícia) e considerada linha-dura com os maus policiais. Estima-se que ela condenou mais de 60 deles nos últimos dez anos.

Em 2009, a juíza foi informada pela Polícia Federal (PF) de que integrantes da máfia das vans de São Gonçalo (RJ) estariam tramando sua morte e as de seus familiares. O plano foi descoberto por meio de interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça nas linhas de Luís Anderson de Azeredo Coutinho, considerado um dos principais bicheiros de São Gonçalo.

A magistrada fez questão de re­­gistrar o fato, ao negar, em 26 de agosto de 2009, um pedido de revogação da prisão preventiva de Luiz Rogério Gregório — ele e outros integrantes da máfia das vans são acusados pela morte de Idelfonso Teixeira de Abreu, que pretendia de­­nunciar o grupo pela cobrança de um "pedágio" de motoristas da região.

Menos de um dia após a morte de Patrícia, um segundo assassinato chamou a atenção da polícia. Anderson Marinho de Oliveira morreu executado com vários tiros na tarde de sexta-feira em São Gonçalo. Ele era acusado de pelo menos três homicídios e suspeito de integrar um grupo de extermínio que atua nos bairros Venda da Cruz e Tenente Jardim. A polícia prefere não associar os crimes por enquanto.

Os nomes da juíza, de um delegado, um promotor, três policiais e testemunhas de crimes estariam em uma lista de pessoas marcadas para morrer de Wanderson Silva Tavares, apontado pela polícia como chefe de um grupo de extermínio responsável por pelo menos 16 mortes na região.

Agressão à autoridade

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse ontem que a execução de Patrícia mostra que o crime organizado está cada vez mais ousado. Para Mendes, o assassinato da juíza representa uma agressão simbólica ao Estado e provoca um temor generalizado.

"Quando se matam juízes porque estão exercendo sua função, nós devemos realmente ficar muito preocupados", disse Mendes. Ele defende que o Conselho Nacional de Justiça implante um modelo de proteção para reforçar a segurança dos magistrados. "Temos juízes amedrontados em toda a parte do globo e nós não queremos que isso ocorra no Brasil."

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