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Adilson Alves

A língua em pauta

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Semanas atrás assisti a uma reportagem que nos apresentava algumas "expressões esquisitas usadas no Piauí". O adjetivo era esse mesmo ("esquisitas"), e a matéria, não obstante o desastre anunciado na chamada, tinha mais de um predicativo. Os entrevistados não foram vexados, esculhambados, pisoteados... e outras escatologias recorrentes quando o assunto é língua. Pode-se dizer que a repórter, simpática, teve o cuidado de não ferir suscetibilidades e nem denunciar que nossa língua se encontra em alguma UTI de Teresina. Em todo caso, cumpre observar que matérias como essa mostram que boa parte dos jornalistas (a imprensa de modo geral) ainda precisa se profissionalizar para falar de língua. É angustiante perceber que gente capacitada, que fala de assuntos variados e complexos, não consegue atravessar uma camada mínima do senso comum quando entra em pauta a língua portuguesa.

O que leva uma repórter (é apenas um exemplo) a classificar palavras e expressões de "esquisitas"? Será que teve um pouquinho de curiosidade para pesquisar a acepção mais comum dessa palavra? Não é possível fazer um texto criativo sem recorrer a esse vocabulário mesquinho e impreciso?

Não é necessário ler materiais hiperespecializados no assunto, embora seja aconselhável recorrer a bons textos. Entretanto, às vezes apenas um pouco de lógica resolve. Daí teríamos o seguinte nesse tipo de reportagem: dada a relação intrínseca entre falantes e sua variedade linguística, é correto dizer que gente esquisita usa palavras e expressões esquisitas e gente normal usa palavras e expressões normais.

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